Gostei tanto, que precisava compartilhar.
Após uma palestra que dei no Rio de Janeiro, um casal veio
conversar comigo. O marido disse: "Quando você falou da pirâmide da
solidão e do mercado matrimonial onde sobram muitas mulheres, percebi que sou,
aos 50 anos, um bem muito raro, valioso e disputado pelas brasileiras". Em
tom jocoso, ele disse para a esposa: "Você tem que me tratar muito melhor
agora porque descobri que falta homem no mercado na minha faixa etária".
Ela, bastante sem graça, concordou: "É verdade, você é o meu capital
marital".
Brincadeiras à parte, muitas brasileiras afirmam que sofrem
preconceito por não serem casadas. Elas se sentem desvalorizadas ou até mesmo
fracassadas por não terem o tal do "capital marital". Uma engenheira
de 37 anos me contou:
"Viajo sozinha para todos os lugares do mundo, vou a
teatros, shows, restaurantes e nunca me senti discriminada. Mas aqui no Brasil
eu desisti de sair sozinha. Se vou a um restaurante chique, sou olhada como se
fosse uma pobre coitada, especialmente pelas mulheres. Até os garçons me tratam
de uma forma diferente. Chega a ser cruel."
Mesmo aquelas que preferem viver sozinhas relatam inúmeras
situações de constrangimento, como uma dentista de 41 anos: "Quando vou ao
cinema, tenho pavor de encontrar alguma cliente com o marido e ela me ver
sozinha. Não consigo compreender por que tenho tanta vergonha, já que gosto de
viver assim e nunca quis me casar. É como se eu tivesse fracassado como
mulher."
Elas mostram que a aprovação dos outros é tão importante que
muitas preferem continuar em casamentos infelizes a enfrentar o olhar preconceituoso
que existe sobre as mulheres sozinhas.
Uma médica de 47 anos disse: "Eu me sinto muito mal
quando preciso ir a festas, casamentos ou reuniões sociais. Minhas amigas podem
estar insatisfeitas com seus casamentos, mas, pelo menos, têm um marido para
essas situações. Vi uma peça com a Zezé Polessa que retrata bem essa realidade
tacanha: 'Não sou feliz, mas tenho marido'."
Será que as mulheres brasileiras percebem que, ao acreditar
que o marido é um capital, estão alimentando essa triste e preconceituosa
mentalidade? E que, pior ainda, estão reproduzindo a lógica da dominação
masculina e restringindo as escolhas femininas?
*Por Mirian Goldenberg
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