segunda-feira, outubro 13, 2014

Reclamar pra que?

Há muito tempo eu parei de reclamar. E, cá entre nós, não foi difícil. Melhor que isso, foi bom.
Hoje, poucas coisas me incomodam. Não porque há poucas coisas chatas na minha vida ou no mundo, mas porque reclamar é ruim. Tanto pra quem está por perto e, muitas vezes, é obrigado a conviver com as reclamações dos outros, quanto pra quem reclama. Chateia, faz doer a cabeça, traz armagura e duvido que não envelhece.
Parei de reclamar, primeiro, do que todo mundo reclama. Todos os dias, o tempo todo.
Parei de reclamar das estações. Pra começo de conversa, dizer por aí "ai que calor" ou "vou morrer de frio" não vai esfriar o sol nem esquentar os dias mais frios. Se está chovendo, ótimo. Se não está, ótimo também. É claro que não foi fácil dar um basta nos meus chororôs. Precisei, antes de tudo, pensar no porquê de tanta reclamação e concluí que, além de não mudar em nada, as estações estão por aí, não há como mudar e, mais importante, cada uma tem seu charme.
O frio, mais deliciosa de todas as época, é bom pra dormir agarrado, pra comer um monte de coisa gostosa (e muito mais calórica, mas isso também faz parte), andar com roupas muito mais bonitas, cabelos presos por causa dos agasalhos, acessórios escuros. As viagens do inverno são deliciosas, pra onde quer que sejam. Isso sem falar que é muito mais gostoso dormir  nas noites mais frias.
O verão, é mais claro, mais bonito. Dormir, nessa estação, deixou de ser a coisa mais gostosa a se fazer e, em compensação, é muito melhor ficar acordado olhando as madrugadas lindas, que quase sempre surgem após as chuvas. E os dias dos melhores passatempos naturais do mundo? Piscina, praia, cachoeira... pra cada gosto, pra cada grupo. Bebidas geladas, comidas leves, as mais diversas dietas. Chuva, pra que te quero! Sorvetes do mundo, sejam todos bem vindos aos meses mais aguardados! Saladas, queridas, fiquem por aqui até que o último alto grau diminua, até o próximo período frio. Cabelos lisos, maquiagens e botas, esperem mais um pouco para voltarem a ser queridas como antes. 
E horário de verão, tão amado e odiado, seja também bem vindo. O verão seria muito mais sem graça se os dias não terminassem lá pelas 8 da noite. Seria chato viver mais noite e menos dia no verão, a estação mais dia que existe. E o horário de verão, vilão de todas as reclamações, um dos campeões de audiência nessa época de chateações via redes sociais, pessoalmente, em bilhetes, de todo tipo de gente, que acha que "quem odeia compartilha". Ô chateação... haja paciência pra tanta reclamação!
Se o horário de verão não economiza energia elétrica no país, como deveria, pelo menos me deixa mais tempo na rua curtindo a luz do sol, pelo menos deixa as pessoas mais divertidas, corpos mais expostos... e, mais uma vez: de nada, absolutamente nada vai adiantar tantos pedidos de "curte aí" essa chatice.
Política é outro tempo que traz reclamações. Se não do que está no poder, tentando permanecer, do que não está, tentando entrar. Se não disso tudo, do contato do Facebook, fazendo campanha pra um ou pra outro. Sejamos sinceros: independentemente do pensamento de cada um, ler, o dia inteiro, postagens, compartilhamentos, piadas e uma pá de mentiras sobre os candidatos, não acrescenta em nada a ninguém. A não ser raiva, irritação e, claro, reclamação. Só que mais legal é não ligar. Está muito chato checar a timeline do Facebook ou do Twitter? Simples: não faça isso. Ah, não dá conta de ficar sem olhar de duas em duas horas? Duas opções então: atenha-se às suas notificações ou conforme-se. É, é simples demais. Vai doer muito menos em todo mundo. Eu garanto.
Ta cansado da corrupção que assola 9 em cada 10 políticos ELEITOS POR GENTE COMO EU? Ta, então, aproveite para mudar o seu voto, para procurar por candidatos que ofereçam um passado ilibado, que tenham histórias que não os desabonem. Não encontrou? Talvez seja a hora de oferecer os seus serviços à política. Filie-se, candidate-se, lute por um país sem corrupção. Você não estar lá ajuda a disseminar essa prática execrável. Ficar lamentando nas redes sociais, nas conversas de bar ou em qualquer lugar não adianta, não ajuda. Ao contrário, enche o saco, irrita e estimula reclamações. E o fim de tanto "reclame" é o que eu imploro.
A TV aberta é chata, podre, abominável? Pra quem pode pagar pelo serviço de emissoras fechadas, ótimo. Pra quem não tem, tantas reclamações no mundo não vão melhorar o nível da programação oferecida e nem vai tirar dos grandes empresários o direito de transmitir no canal concedido pelo governo. E mesmo assim, tem solução: livros e jornais, faxinas, plantações, tricô, culinária, assistência social e trabalho voluntário, contação de histórias, trabalho. Tudo isso ocupa melhor o tempo que novelas, programas insuportáveis de mau humor, gente mesquinha entrevistando e se deixando entrevistar, apresentador dando tudo a pobre e mirando o Palácio do Planalto, enfim. Há um monte de coisa que pode ser feita para ocupar o tempo e, melhor ainda, para mudar a vida de pessoas, para mudar o mundo.
Não estou vindo contra as lutas que muita gente trava todos os dias, contra atendimentos mal feitos, discriminação racial em diversos níveis, serviços oferecidos sem o mínimo de qualidade por um governo de (des)serviços. Apóio essas atitudes nesta época em que colocar a boca no trombone pelas redes sociais, por telefone, cartas e outros meios surte efeito imediato. Pra mim, porém, reclamar do que está aí, seja por culpa nossa ou porque não pode ser mudado, não vai resolver.
Reclame daquilo que pode ser modificado, aquilo pelo que valha realmente a pena.
Se não, conviva. Vai doer menos a cabeça de todo mundo. Experimente parar de reclamar!


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