O título é uma ordem. Isso mesmo. Uma ordem expressa. Uma
frase simples, que contém uma ordem simples, fácil de ser obedecida e, mais
importante, fundamental para a boa convivência no trabalho, em casa, entre os
amigos.
É claro que os meus três leitores podem estar se perguntando
o motivo repentino do assunto. Não, não existe um motivo específico. Há vários.
Isso mesmo. Várias pessoas se metendo na vida das outras, sem a menor
cerimônia, sem pudor algum. E presenciei alguns casos ultimamente. Uns deles
comigo, confesso, mas não vou entrar em detalhes. Não preciso. Aliás, nem faria,
mesmo que precisasse. Falta-me coragem, sobra em mim vergonha. É, vergonha, mas
do que os outros fazem, do ‘contorcionismo’ moral para justificaram uma leve
“se metida” na vida das outras pessoas. Exatamente. Das “outras” (!) pessoas.
Nem tudo o que as pessoas querem fazer, viver, opinar ou
sentir a respeito do que as outras vivem pode significar, à primeira vista,
intromissão. Mas é. Independe do que seja. Pode parecer inofensivo ou simples,
mas não se iluda. É intromissão, é gente que não tem o que fazer, anda
desocupada ou, simplesmente, quer constranger, falar mais do que deveria. Pode
ser até, quem sabe, querendo se meter.
Vi gente falando da magreza e do cabelo de uma menina, ouvi
uma mulher falando com outra ao telefone que o namorado da terceira andava num
Fiat Uno velho, soube por uma conhecida que a moça que trabalha na loja de
sapatos tem uma namorada e a mãe não aprovou o relacionamento. No salão, alguém
comentou com as outras clientes que o marido da prima tinha viajado e deixado a
esposa sozinha com o filho de cinco anos, o que a teria obrigado a cuidar do
menino sem a ajuda dele. No trabalho, alguém deixou escapar: “Sério? Ela está
grávida de novo? Meu Deus! Parece uma coelha!”. Quem se meteu na minha vida
disse coisa muito mais séria sobre mim mesma e que precisava saber, confesso.
Só que a tal “insinuação”, ou “declaração”, ou sei-lá-o-que-realmente-é, não
tinha muitos dados. Parecia especulação, confesso, embora eu torcesse,
veementemente, para que fosse verdade. A mais pura, a mais real, sem nenhum
detalhe falso. Só que não era. E, mesmo assim, ouvir aquilo, mexeu comigo.
Entristeci, engasguei, chorei, briguei.
Até que entendi. Só entendi.
É o vermezinho da intromissão. É o demoninho que não se
contenta em viver. E, com “viver”, entenda trabalhar, comer, namorar, tomar
banho, dormir, passear, conversar, ter amigos, comprar um carro, quitar uma
conta, gargalhar, permitir-se ficar sem fazer nada, dissecar a própria rede
social ou deixá-la esquecida por meses só porque pode fazer isso, estudar,
conquistar, amar, arranjar um filho, tomar um porre, curtir uma noite vendo
filmes e comendo pipoca, fazer um exercício, dedicar-se a si mesmo, ser feliz,
ou triste. Ou qualquer outra coisa. Não, isso tudo aí pode parecer muito, ou
suficiente, mas não é. Pra muitos, é nada. Falta tomar conta da vida dos outros
na lista. Falta expor a própria opinião, especialmente se for pra depreciar.
É, porque pra mim, se a intromissão não depreciar, não tem
motivação. Quem se mete, nunca se mete pra elogiar ou pra falar bem da mãe do
outro. Duvida? Então preste atenção ao redor e passe a ouvir com mais cuidado
aquilo que as pessoas dizem, quando estão se metendo na vida das outras. E, não
se espante se ouvir algo como “questão de honra”, “eu digo isso a ele mesmo” ou
outra coisa parecida. Os que se metem são sempre os que juram que são
perfeitos, que têm vidas perfeitas, relacionamentos perfeitos,
Se encontrarem algo diferente disso, intromissões com razões
nobres ou motivações importantes, que não o próprio umbigo de quem as faz, por
favor me aponte.
Serei feliz. Mas esquecerei. Prefiro ter a minha vida.
Minha. Só minha e de mais ninguém.
Um comentário:
Tá certa!!! De gente intrometida o mundo tá lotado
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