terça-feira, abril 07, 2015

Ser jornalista...



Não, não existe fórmula mágica. Jornalista, ou a pessoa é ou não é. "Como em qualquer outra profissão", alguém pode dizer, mas não é como em qualquer outra profissão. No Jornalismo, ou se é ou não se é, somente nele. Não há comparações. Não há como ser "um pouco" jornalista, como se pode ser um pouco qualquer outra coisa.
Ser jornalista é pra poucos. E não to falando em ser mero reprodutor de informações, simplesmente executor de pautas e repetidor de aspas de outros. To falando de trazer isso na alma. To falando de, como diria a primeira dupla de profissionais que conheci nessa minha saga, mais de 15 anos atrás - Luis Cláudio Hermógenes e Márcia Chaves -, ter sido mordido pela mosquinha azul do jornalismo. É mais que trazer na testa. É ter estampado no modo de ser, de falar com as pessoas, de questionar, de querer saber, de buscar respostas.
Mas como reconhecer um jornalista, sem ser um? É fácil, dou certeza. Jornalista que é jornalista gosta, antes de tudo, de ler. Lê tudo. Romance, biografia, revista científica, quadrinhos, panfletos, bula de remédio e as entrelinhas. Simples, pode parecer, mas não é. É ter na leitura a maior fonte de prazer e na escrita, a segunda maior fonte de prazer. Não, isso não é exagero algum. Escrever é a principal forma de se comunicar de um jornalista que é jornalista de verdade. E afirmo isso com conhecimento de causa. Conheço um sem-número de pessoas que cursaram a faculdade, têm o diploma e, tirando as que simplesmente abriram mão de exercer a profissão pelos mais diversos motivos, não sabem escrever. E são analfabetos funcionais. Não, não se espante. Isso existe e, muito pior, é mais comum do que se pensa.
Não preciso citar a nossa (sim, eu me incluo na categoria dos jornalistas de verdade) incrível capacidade de ter bons relacionamentos, de saber falar o que é certo na hora certa, de exagerar no que era pra ser dito e errar o tempo todo, de exemplificar, de comparar e de, mentalmente, criar títulos dignos de manchetes, chamadas que mereciam estar na escalada e de temperar qualquer fato com uma pitada de sensacionalismo. Mesmo que isso tudo fique só na mente.
Jornalista que é jornalista transforma uma frase em uma lauda sem dificuldade, escreve sobre gastronomia, esgrima, música, polícia, economia, comportamento e entrevista o presidente da república. Com o mesmo talento. E o mesmo jornalista transforma uma lauda em uma frase, enxugando o desnecessário, tirando, resumindo, "copidescando". Somos assim. E não há diploma que mude isso.
Jornalista que é jornalista, além de amar o que faz, preza cada vício da profissão. E quando o assunto é vício, cada um tem o seu. 
Há os viciados em falar mal do assessor de imprensa, mas, cá entre nós, não vivem sem as sugestões de pauta enviadas pelos "almofadinhas" da assessoria.
Há os que escrevem bem e são viciados na boa sensação que é saber que escreve bem, tipo eu. Sou assim mesmo e falo isso o tempo todo. Meus três leitores sabem. 
Há os viciados em não ler o que escrevem. Ai, ai, ai, eu de novo. Detesto reler meus textos... grande pecado. Na maioria das vezes, eles se vão com erros de digitação e até com palavras a mais e alguns errinhos de concordância. Confesso.
Há os viciados em cigarro, em cerveja e no happy hour que, muito em off, poderia ser todos os dias.
Há os eternos lutadores, que querem a todo custo a volta da necessidade do diploma, causa pela qual eu já lutei ferrenhamente, mas que de tempos pra cá, devido à consciência de que eu nunca usei aquele pedaço de papel que ta lá em casa e muita gente que não tem constrói textos muito melhores que boa parte dos que têm o diploma, deixei um pouco de lado.
Há também os viciados em criticar. Criticam os que assistem aos telejornais da Rede Globo, como se ela fosse a única emissora que manipula a informação e a cabeça do telespectador. Com a mesma intensidade, criticam os que leem a revista tal, pelo mesmo motivo. Dá até a impressão de que são jornalistas imparciais, como isso fosse possível. Criticam programas de televisão, de rádio e se esquecem - ou não sabem - que a linguagem da internet, assim como a escrita e a falada, passa por mudanças todos os dias. Faz parte da evolução da língua - por menos que se concorde com isso. Ah, mas criticar é uma delícia. Quem não gosta?
Há os que, embora ocupando editorias importantes, sabendo apurar uma pauta como ninguém, cavar uma boa entrevista e até tirar uma bela confissão de alguém, se confundem com a colocação das vírgulas, dos pontos, das aspas, e da cedilha, do j e do s. Isso acontece bastante, mesmo entre os que leem muito e sabem escrever.
Há os que transformam pautas de televisão em cinema - como eu fiz por alguns anos.
Há mais uma pá de vícios por aí.
A maior verdade é que o vício dos vícios é exercer essa maluquice que é o Jornalismo. E que nunca não nos faltem pautas, entrevistados, furos, amigos e, no meu caso, ocorrências policiais.
E no 7 de abril, a todos, os meus sinceros parabéns! Por cada pauta, cada perrengue, cada manchete, cada elogio, cada entrevista, cada salário suado - e bota suado nisso!


Um comentário:

Página aDois disse...

Como sempre, arrasando no texto né moça! Parabéns pra nós...e por essas e outras que me considero sempre um dos "seus três leitores".
Wandel