Tantos porquês....

Eu me pergunto sempre porque é que a gente se depara com tantos porquês...

Pra começo de seqüência de questionamentos, as dúvidas acerca do assunto começam lá na adolescência - ou na infância, como foi o meu caso -, quando a professora das primeiras séries do - antigo - 'ginásio' vêm nos explicar que o "porque" pode vir apresentado de quatro formas diferentes dentro da língua portuguesa. É inacreditável e muitos de nós crescem e chegam à maturidade lingüística sem sequer saber qual deles a gente utiliza quando faz uma pergunta.

O pior é que nesta fase, ninguém imagina que essa é apenas a primeira questão que vai surgir envolvendo o 'porque'.

Logo depois os problemas aparecem. Queremos saber o por quê de tudo. Ainda na adolescência, porque crescemos ou porque nos mantemos adolescentes por tanto tempo;

porque nossos pais insistem em nos dizer que têm razão, se não acreditamos nisso por nada neste mundo;

porque nós, meninas, sofremos tanto por meninos que nem conhecem o fato de existirmos e porque quando acontece de eles saberem que a gente habita o mesmo planeta do resto da humanidade, simplesmente gostam tanto de nós que compartilham experiências amorosas envolvendo outras garotas;

porque os seios têm que crescer e nos matar de vergonha nas aulas de educação física ou nas reuniões de amigos;

porque todos insistem em falar que somos bonitos ou que estamos crescidinhos... parece que têm o prazer de nos humilhar;

porque achamos que todos os outros são melhores que nós;

porque a lua é redonda, o sol também, mas não as estrelas;

porque não vemos o fim do mar no horizonte, nem conseguimos mensurar a imensidão do universo;

porque todas as previsões que foram publicadas no meu signo nunca foram verdade;

porque temos que ter espinhas no rosto;

porque não podemos sair à noite sem a companhia de irmãos mais velhos, se já nos sentimos adultos - ou pelos menos jovens;

porque as pessoas que amamos não podem ficar eternamente conosco, nos amando e nos fazendo companhia...

Viu só? Teria um montão de outros porquês pra colocar aqui, mas daí ninguém teria saco pra prosseguir na leitura. Logo depois desses adolescentes questionamentos, que quando a gente cresce conhece todas as respostas (com porquês juntos e sem acento), a gente cresce e conhece outros questionamentos.

Queremos saber porque tudo o que acontece, acontece. Santo Deus! Quanta confusão de palavras... mas é isso o que sinto! Comigo, pelo menos, é assim!

Quero saber porque tive que decidir tão cedo o que faria no resto da minha vida;

quero saber porque, depois que escolhi, então, e me decidi pelo que fazer pelo resto da minha vida, não me sobrou espaço pra mostrar o que aprendi;

quero saber porque Deus me deu dons os quais eu não posso usar simplesmente por não ter espaço pra isso;

quero saber porque vivo num país onde temos a impressão de que o certo é o errado e que o errado é, de fato, o certo;

quero saber porque é tão difícil entender a mente feminina, mas muito mais difícil ainda entender a masculina;

porque as pessoas ainda acreditam em instituições falidas e porque são românticas a ponto de achar que se apaixonaram pelo único homem perfeito que Deus colocou sobre a face da terra;

porque nem sempre os bons ocupam os melhores lugares dentro de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo;

porque somos obrigados a votar em um homem, dentre muitos, se sabemos que ao se eleger, ele será como todos os outros que se elegeram antes dele, sem nada fazer pra tentar mudar o Brasil e fazendo muito pior que isso: dando a nós, cidadãos, atestados de otários, nos fazendo lembrar, todos os dias, através dos noticiários da televisão, que foram eleitos, têm poder, esqueceram-se de todas as definições de "homem de bem" e "honestidade" que ouviram na vida e agora são apenas outros, que, unidos aos primeiros, ajudam a reforçar a realidade cruel com a qual nós somos obrigados a conviver;

ah, quero saber também porque a minha dignidade virou vergonha;

porque a minha liberdade virou cadeado;

porque só posso me divertir dentro do meu quarto, presa à tela de uma TV ou ao monitor de uma máquina que me leva a todos os lugares do mundo com segurança.....

Mais importante que tudo isso: quero saber quando vou ter respostas a todos esses porquês.

Porque viver assim é complicado, porque viver assim é indigno, porque viver assim me aprisiona, porque viver assim me incomoda, porque viver assim me faz injustiçada e, mais, me revolta!