quarta-feira, junho 29, 2022

Meu pai

Sabe quando há tanto o que dizer, que faltam palavras? Às vezes eu me sinto assim quando estou fazendo uma oração de agradecimento a Deus. É, é sério. Eu sou tão grata pelo que Deus é na minha vida, que às vezes eu não sei o que dizer. E graças a Deus que Ele conhece nossos corações e sabe exatamente o que a gente sente em todo momento. Dessa forma, a gente não precisa se desdobrar pra encontrar as palavras.

E neste momento, é mais ou menos assim que eu me sinto. Não porque ficou algo a ser dito, mas porque não sei como dizer. Meu pai foi uma das pessoas mais importantes da minha vida durante quase toda a minha vida. Ele era meu pastor, meu guia espiritual durante praticamente toda a minha fase jovem e adulta. E falar dele, enquanto ainda dói tanto sua partida, é difícil. Eu passei dias e dias ensaiando o começo deste texto e quando comecei a escrever, todos os ensaios desapareceram da minha mente. Simplesmente não há palavras.

Eu só consigo me lembrar de todas as vezes em que, quando eu era criança, nos sentávamos todos  à volta da mesa da sala, naquela primeira casa que moramos, e enquanto comíamos, ele falava sobre o Apóstolo Paulo, o homem que – apesar de ele nunca ter dito – eu acredito fosse o exemplo de “homem de Deus” que ele tinha. Ele falava das cartas de Paulo, dos ensinamentos de Paulo, do exemplo da conversão de Paulo, da sabedoria que Deus deu a Paulo, das coisas que Paulo fez que testificavam a transformação da vida dele. Certamente, meu pai o amava e amava sua história. Eu me lembro claramente dele falando de Paulo caindo cego, depois de ouvir a voz de Cristo dizendo “Paulo, por que me persegues?”. Provavelmente, meu pai falou de outros homens da bíblia com a gente, mas eu só consigo me lembrar de Paulo. Talvez essa lembrança alimente minha admiração por Paulo, pra mim um dos maiores homens de Deus na terra.

Mas lembro também do bom humor do meu pai. Eu até me considero uma pessoa bem humorada, mas não tanto quanto ele. Ele era sim, um tanto ranzinza, muitas vezes chato até. Mas na maior parte do tempo, especialmente se estivéssemos em família, com tios e tias, primos, ele tinha um bom humor incrível e fazia piada de tudo. Entrávamos madrugada nas reuniões familiares, dando gargalhadas das coisas que ele falava. Eu era adolescente e amava esses momentos. Havia outros tios e primos que embarcavam nas piadas, nas histórias e isso criou em mim memórias absurdamente divertidas. Tão, que eu ainda consigo rir me lembrando do tanto que nós ríamos quando estávamos todos juntos.

Lembro com clareza das pregações na igreja, ensinando. Ele sempre dizia que não era pregador, que só sabia ensinar. “Eu só sei falar sobre o que Deus ensinou e isso provavelmente vai incomodar, se você veio aqui pra se sentir bem”, ele dizia. E ensinava sobre obediência (ele colocava as mãos na parede, como se fosse um quadro e dizia: o alfabeto do mundo é abcd e o alfabeto do cristão é obdc, obedecê, nunca me esqueci disso e trouxe essa verdade pra minha vida), ensinava sobre entrega total a Deus, sobre vida com propósitos, ensinava que a morte era a volta ao lar, ensinava que a “fé é o ponto vital” e que nada é mais importante do que estarmos no centro da vontade de Deus.

Aliás, ele dizia que sabia ensinar sobre Deus sem rodeios e sabia curar em nome de Jesus. E isso ele fazia mesmo. Talvez os meus três leitores não o tenham conhecido ao ponto de saberem que ele tinha o dom da cura, mas eu poderia passar dias e dias aqui, relatando os casos que eu vi, as curas que eu presenciei, as vidas cujas transformações eu acompanhei de perto, e outras nem de tão perto assim. Poderia citar nomes, casos, épocas, testemunhos inteiros. Vi pessoas serem libertas através das orações dele, vi pessoas incrédulas sendo salvas através da vida dele, sempre em nome de Jesus. Ele dizia: fulano ta doente? Eu vou lá em nome de Jesus e curo. Ele tinha certeza de que a pessoa seria curada. E em nome de Jesus, ele curava mesmo. Não tinha barreiras pra fé dele. Posso dizer que Deus curou algumas centenas de pessoas através das orações do  meu pai. E ele não se gloriava disso. Ele era canal de bênçãos, ele era instrumento nas mãos de Deus. Na vida dele não havia lugar para a soberba. Ele não se sentia vaidoso por ser procurado por pessoas a qualquer hora do dia ou da noite, precisando das orações dele. E ele jamais se negou a orar. Impunha as mãos sobre a cabeça das pessoas, com a mesma dedicação e fé, mesmo estando cansado, com fome, sem dormir ou tendo acabado de ser despertado no meio da noite.

Uma vez, durante um culto de domingo, uma mulher grávida começou a passar mal e alguém fez sinal para que ele orasse por ela. Ele orou e ela continuou com dores. Ele pediu que ela dissesse onde doía e ela explicou. “Então, minha filha, vai pra maternidade, porque o seu bebê está nascendo e não há cura pra isso”. E era mesmo, a mulher estava entrando em trabalho de parto e não tinha se dado conta. Houve muita risada e ele contou esse caso por algumas vezes, quando queria dizer que nem tudo podia ser “resolvido” com oração de libertação/cura.

Ele era homem, pecador, como eu sou, como todos somos. Este texto não é para transformá-lo em um santo, longe disso. Este texto é pra eu me lembrar um pouco do que vivemos, pra eu falar dele aos meus três leitores, que provavelmente não o conheceram. Este texto é para testemunho do que ele era e do que ele fez. Em alguns momentos, ele fez pouco pela família, em detrimento da igreja. Quase morreu pela igreja, literalmente. Algumas pessoas podem se lembrar do infarto dele em 2007. Ele foi ao hospital depois de um fim de semana de muitas decepções com a liderança que o acompanhava na região que ele liderava. A ida ao hospital com fortes dores no peito resultou em uma internação. Os exames indicavam “apenas” uma crise de angina. Ainda internado em observação, ele recebeu uma visita que para nós, familiares, não significava nada. Mas foi durante essa visita que ele infartou, de fato. Dentro do hospital, sob cuidados médicos, medicado. Nós só soubemos depois, quando os exames indicaram o infarto e um dos cardiologistas que o acompanhavam acreditou que pudesse ter ligação com algo que ele tenha vivido ali mesmo no hospital. Só depois de alguns meses, que ele já tinha feito a cirurgia no coração, foi que nos lembramos e entendemos que aquela visita, no hospital, tinha sido a causa do infarto. Se a visita tivesse sido em casa, provavelmente ele teria  morrido 15 anos antes.

Quando a Mônica ficou doente, eu descobri um pai que eu não conhecia. Ele sempre foi um homem de fé e eu nunca tinha visto ele chorar tanto, tão copiosamente, quanto vi algumas vezes naqueles seis meses. E eu não acreditava no que, ao meu ver, era “falta de fé”. Eu tinha certeza de que a Mônica seria curada. Nós orávamos todos os dias, ele dizia que só pararia de orar quando ela fosse curada. E como eu passei a vida inteira vendo pessoas sendo curadas através das orações dele, não tinha dúvidas de que a doença e cura da Mônica eram pra testemunho. Meu pai nunca me disse, mas eu acredito que ele sabia, desde algum momento da doença da Mônica, que ela não teria o corpo curado, mas que a libertação viria a ela de outra forma, como veio. Lembro que eu estava sentada no quarto dele depois de um momento de oração – minha mãe já estava com a Mônica internada em São Paulo – e eu perguntei: A doença dela é pra morte? Ele me respondeu serenamente: A doença dela é pra vida eterna. “Mas por quê?”, eu insisti, porque queria ouvir dele que Deus a curaria, era como se eu precisasse que ele mesmo se ouvisse falando. E ele sabiamente respondeu: “Favinha, a morte entrou no mundo pelo pecado do homem. O plano original de Deus não era que morrêssemos. E o fato é que não importa como a morte vem, ela é o veículo que nos leva de volta ao lar. O nosso corpo adoece por muitas razões, mas isso não importa. A morte, quem nos impôs foi o pecado, mas nós, salvos, não precisamos nos preocupar com isso, com como morremos. Nós partimos salvos”. Nunca esqueci essas palavras e entendi que a doença da Mônica não era pra salvação terrena dela. No dia seguinte a essa conversa, ele foi pra SP encontrar minha mãe e alguns dias depois, a Mônica faleceu.

Eu vi no rosto dele o sofrimento, no choro, nas palavras. Vi nas atitudes. Vi nas orações buscando consolo. Ouvi o sofrimento na voz dele por muitas semanas depois, nas pregações na igreja. E vi o Espírito Santo consolando também. Vi ele sendo carregado por Deus. Vi Deus se manifestando em pequenas coisas, trazendo vida de novo à vida dele. Vi muita coisa acontecer, mas algumas eu não vi, pra glória de Deus: não vi blasfêmia, não vi decepção com Deus, não vi meu pai questionar Deus, não vi negação, não o vi proferir uma única palavra que pudesse colocar em dúvida a fé dele, mesmo depois de perder uma filha de 38 anos, cheia de vida, por uma doença que a fez sofrer por exatos seis meses. Não vi nada na conduta dele que pudesse colocar em dúvida a posição de homem de Deus que ele ocupava desde que eu me lembrava.

Dois anos depois da morte da Mônica, Deus nos deu a Aurora. O nome dela foi escolhido pelo Devan, muito antes de nos casarmos, mas foi inspirado por Deus, porque Aurora foi um renascimento do meu pai e da minha mãe também, que em algum momento vai ter forças pra ler este texto até o fim (se é que eu vou conseguir terminá-lo). Vi uma alegria nele que há muito não havia. Os olhos dele brilhavam cada vez que ele via a Aurora. E quando viemos embora, ele não quis se despedir. Deu boa noite no dia anterior e saiu bem cedinho no dia da nossa viagem, sem falar nada. Passei alguns meses, antes da nossa decisão de sairmos do Brasil, ouvindo ele dizer que só o veríamos por chamadas de vídeo ou quando voltássemos, porque ele era velho demais pra ficar implorando por um visto que o permitisse entrar nos Estados Unidos. E ele se manteve assim por alguns meses. Mas aí, era Aurora e a Rachel, filhinha da Aline, que ele só conhecia por chamadas de vídeo. Saímos do Brasil em novembro de 2016. Minha mãe nos visitou várias vezes até agosto de 2018. Eu estava grávida da Cathe e ele decidiu por si mesmo tentar o visto “pra ver as netas pessoalmente antes de morrer”. Nós oramos para que Deus direcionasse e ele conseguisse o direito de vir nos ver. E Deus proveu. Catherine nasceu no dia 3 de dezembro e no dia 27 ele chegou. Ficou conosco dois meses. Que alegria!

No ano passado, durante a pandemia, enquanto nenhum não-cidadão podia entrar nos Estados Unidos, Deus moveu e o governo concedeu uma autorização especial, e eles puderam entrar no país. Ele ficou conosco por dois meses e precisou voltar. A intenção inicial dele era ficar por seis meses, mas não foi possível. Ele voltou sozinho. Minha mãe voltou 4 meses depois, em março deste ano.

E as coisas foram acontecendo. Ele estava ajeitando tudo e planejando voltar pra cá agora, no nosso verão, pra ficar por aqui seis meses, curtindo as meninas. Dizia que queria uma casa dele e única exigência que fazia pra ficar aqui era que almoçássemos juntos todos os domingos. Nós precisamos prometer que assim seria.

Pois bem, no dia 21 de abril, Aline descobriu que esperava um menino. Contou a novidade à minha mãe e ela, por telefone, contou a ele, que estava em Morro Azul. Meia hora depois que ele soube, eu falei com ele por dois minutos numa chamada de vide o e ele estava tão feliz, que parecia não acreditar que finalmente Deus iria realizar seu maior sonho: um menino na família.

Duas horas depois de saber do baby boy, ele morreu. Pode ser que a notícia de que seria avô de um menino o tenha feito se emocionar demais, ao ponto de ele ter um ataque do coração. Isso nos deixou mais tristes com o passar dos dias, mas depois de um tempo, eu me lembrei do que ele me disse: não importa como, a causa, a forma, a morte nos leva de volta ao lar.

Amém!




quinta-feira, junho 02, 2022

Rápidas

Novo recorde

Na última postagem, eu festejei por ter ficado “apenas” dez meses sumida daqui. Hoje eu to voltando, depois de um longo e tenebroso inverno. Mas lendo aquela postagem antiga, me deu um aperto no peito, porque faz quase três anos. Sim, a cara queima, mas eu tenho motivos. Alguns, fortes, reais. Outros, nem tanto. E apesar de a cara queimar, eu vou ficar por aqui. E pretendo que seja por muito tempo. Aliás, quero manter regularidade e presença por aqui.

 

Costume

Sempre que eu fico sumida um tempo (enorme, desta vez), eu reapareço com uma postagem de notinhas, pra contar as novidades, informar aos meus três (que nem devem mais passar por aqui) leitores das coisas que vem acontecendo por aqui. Da última vez, era começo do inverno, Catherine tinha quase um ano e Aurora estava dando trabalho com a fase dos três anos.

 

Mudanças

Muita coisa mudou deste então. Aurora frequenta a escola. No dia 16 deste mês “se forma” no kindergarden (equivalente à C.A. no Brasil) e em setembro ingressa na primeira série. Catherine não vai à escola até o ano que vem. Decidimos esperar mais um ano. Em setembro, ela ainda não vai ter 4 anos e como uma vez na escola, pra sempre na escola, achamos por bem esperar mais um pouco.

 

Trabalho

Graças a Deus, trabalho não tem faltado. Em uma conversa com a amiga-madrinha-esposa-do-melhor-amigo Juliana hoje, falamos disso. Ninguém no mundo diria que um dia eu iria ser tão “cozinheira” como sou hoje. Aprendi a cozinhar muito cedo e sempre me dei bem com as panelas, embora não fosse aquilo que eu mais gostava de fazer. Pois as coisas mudaram. Hoje, boa parte do sustento da minha família vem do meu trabalho na cozinha.

 

Perdas

Nem só de boas – e raras – notícias vive o brog. A pior delas veio há pouco mais de um mês. Dos meus três leitores, um deve ter sabido, os outros provavelmente não. Meu pai teve um ataque do coração e faleceu. Não vou entrar em detalhes, porque ainda não é fácil falar disso (escrever é ainda pior pra mim, acredite), mas adianto que estou escrevendo um texto sobre ele, nossa relação, nossa família... enfim. É uma “carta ao meu pai”, como sempre faço quando quero registrar meus sentimentos em relação a uma situação. Os meus três leitores devem se lembrar da “Carta à Aurora”, “Carta ao ano passado”... assuntos assim. Logo logo eu finalizo e trago pra cá.


Vida por aqui

A realidade por aqui continua dura. Com algumas diferenças agora, mas ainda dura. As diferenças de agora pra dois ou três anos atrás existem, porque a gente vai aprendendo a conviver com as dificuldades comuns. Ausência, frio extremo, dia a dia corrido, volume de trabalho, saudade.... a gente vai ficando esperto. E cada dia, os dias passam mais rápido. Como sempre, desde sempre e sempre mais, Deus tem nos sustentado.

 

Gratidão

Meu coração continua imensamente grato a Deus, pela vida que Ele nos deu até aqui e continua nos dando. Nossa igreja (que é a maior benção que nós poderíamos ter aqui, longe dos nossos pastores da vida inteira), nossa liderança espiritual, nossos irmãos em Cristo, que são nossa família nesta terra. Deus tem sido incrível conosco. É indescritível. É um cuidado que nunca vivemos. Nos momentos mais duros, Deus nos carrega no colo. E se você não conhece o meu Deus, eu diria pra você procurar conhecê-lo, pra só então você conseguir entender.

sábado, novembro 16, 2019

Atualizando

Um ano!

Sim, em menos de dois meses, meu recorde de sumiço daqui seria batido. Um ano. Um inacreditável ano! To aqui tentando me lembrar quando fiquei tanto tempo sem escrever.... e acredito que este tenha sido o maior. Mas estou resguardada pelo motivo mais real de todos: ser mãe de duas. Gente, isso não é para amadores! Mas deixo pra outra postagem - que, espero, não demore tanto. Cá estou eu, pra tentar, em algumas poucas linhas, atualizar geral!

Catherine

Da última vez que eu passei por aqui, foi pra falar do meu 2018. Três dias depois, Catherine completou um mês de vida. Pois bem, falando assim, fica mais assustador esse tempo todo que eu passei fora... rsrsrs. E se faz quase um ano, Catherine está com quase um ano! Coisa mais rica da minha vida... um pouco mais adiantada que a Aurora, tem dez dentes, praticamente anda e sorri pra todo mundo... não, não pra todo mundo. Pra maioria das pessoas. Ou talvez não... mas tudo bem. Esta foto foi feita em julho, quando ela tinha 7 meses. É ou não é linda essa minha filha 2?



Aurora

Bem, Aurora tinha virado outra criança com a chegada da Catherine e permaneceu sendo outra por alguns meses. Mais ou menos quando a irmã começou a interagir, ela voltou a ser ela mesma. Só que aí ela estava com três anos e, dizem, tem esta idade uma fase bem difícil (como se as anteriores não fossem). Aí, Aurora que já tinha voltado a ser Aurora, virou outra Aurora... autoritária, faladeira (não, ela já era antes disso), mandona, respondona... mas continuava linda. Continua, aliás. E estamos conseguindo contornar bem os desmandos dela. Na maior parte do tempo, confesso.



Vida

A vida por aqui continua difícil, obrigada. Aquela mesma história de sempre, que eu não me lembro, mas provavelmente já falei aqui. Muito frio (que, inclusive, começou junto com o outono), idioma, cultura... enfim. Tudo é diferente e isso torna tudo mais difícil. Já são três anos e, teoricamente, é tempo suficiente para estarmos completamente adaptados e felizes. Adaptados estamos, felizes também... mas não é só isso. Provavelmente vamos sentir pra sempre as diferenças.E seguimos preferindo estar aqui. Deus tem nos sustentado e estamos na dispensação do Pai.

Família


Pode parecer clichê, e talvez seja mesmo, mas o fato é que as dificuldades nos unem. Sempre. Sejam quais dificuldades forem. Clima, cultura, idioma, filhos, morte, doença.... e como estarmos num país que não é o nosso não é moleza, nossa família está sempre muito unida. Nós aqui, que moramos sob o mesmo teto, e nossos amados parentes, que estão a milhares de quilômetros de distância. Deus tem sido tão bom conosco, que, depois de os meus pais virem juntos em dezembro (ele voltou em janeiro pro Brasil e minha mãe ficou até março), minha mãe voltou pra cá em julho e ficou até o final de outubro. Quer coisa melhor? Só se eles pudessem ficar aqui sempre...


Frio

Sobre o bendito frio eu já falei outras vezes com certeza. Estamos numa região bem próxima do Canadá (só pros meus três leitores - que eu nem sei se ainda existem - terem uma noção geográfica) e aqui faz bastante frio. O outono começou em setembro, quando a primavera chegou no Brasil. E em outubro já estava fazendo frio. Estamos no dia 16 de novembro e tivemos neve há quatro dias por aqui. Ou seja, é friaca mesmo! E ela dura oito meses. Só veremos dias quentes novamente em junho. E eles vão se repetir até agosto. Depois, em setembro, cabô!

Trabalho

O meu de jornalista continua, com força total. Não, não com tanta força assim... mas continua. Mesmo longe, continuo fazendo trabalhos de revisão textual e produção de texto para sites e redes sociais. Consultorias não existem mais. Além disso, estou mais cozinheira que nunca! Empadão, pães de mel, bolos, biscoitos.... vamos que vamos!

Amizades

Eu sou o exemplo vivo de que a distância não diminui a amizade. Pelo menos as minhas amizades, não diminuiu. As mais próximas e verdadeiras, permaneceram. Algumas outras, também verdadeiras, ainda estão aqui, embora um pouco sumidas. O fato é que contatos são mantidos, outros se vão... mas o que é a vida, além de um grande vir e ir de pessoas?

Igreja

Já falei aqui e repito o quanto eu sou grata a Deus por nos colocar em uma comunidade evangélica tão sincera. Pessoas sinceras, pastores sinceros, Palavra de Deus sincera e necessária... irmãos de fé que se tornaram irmãos de verdade. Pessoas com as quais convivemos, contamos e as quais amamos grandiosamente. Deus continue nos abençoando.

segunda-feira, dezembro 31, 2018

Ano velho X Ano novo

Bem clichê, uma postagem sobre o dia de hoje, né? Todo mundo fazendo, falando, se desejando coisas boas, fazendo retrospectivas.... e isso chega a ser meio chato. Sério... não sou muito ligada a esses desejos, tão comuns para o Natal e o Ano Novo. No Natal, eu simplesmente acho que não tem muito sentido a gente desejar "feliz natal", quando a real comemoração é o nascimento daquele que nos amou primeiro. Por isso eu deixo passar e não uso esses desejos para a data. E para o ano novo, eu acredito, sinceramente, que Deus está no controle de tudo e como eu O busco diariamente e confio no poder que Ele tem sobre a minha vida, eu me preocupo em orar pelos meus e, quando respondo a algum desejo de alguém, eu sempre digo "Deus o abençoe no próximo ano". Penso que isso é o mais sincero que eu posso dizer.
O caso é que hoje eu acordei e li a mensagem de uma grande amiga, que passou por situações bem difíceis em 2018, em várias áreas da vida, E depois, outra mensagem, de um amigo que não vejo há alguns anos, e ele expressava o quanto estava feliz pelas conquistas que tiveram início em 2018 e irão se concretizar em 2019. Foram duas mensagens emocionantes, que me fizeram pensar no meu ano, que acaba em poucas horas....
Pra começo de conversa, o meu ano, provavelmente, foi um dos mais difíceis da vida, não por um acontecimento específico, mas pelo fato de eu estar vivendo longe dos meus pais, parentes aos quais eu sempre fui muito ligada e amigos - que amo tanto que chega a doer. Isso, com toda certeza, faz tudo ficar mais difícil. Ter um problema e não poder sentar com a minha mãe, receber uma boa notícia e não poder fazer um jantar pra anunciar aos amigos, não ter como abraçar meu pai após um conselho.... essas e outras são dificuldades pra mim. Pra muitos, com toda certeza, não é.
Só que o meu ano não foi só isso. Eu passei 2018 bem, buscando a Deus, amando-O sobre todas as coisas e aprendendo com Ele a buscar, primeiro, as coisas do Reino. 
O 2018 foi o ano da segunda filha. E, como a gravidez dura muito tempo, foi praticamente todo o ano de preparação para a segunda filha. Descobrimos Catherine nos dias de neve e ela chegou nos dias de neve... ou seja, tivemos bons meses para nos preparar. E ela chegou lindamente, mas tirando do eixo aquilo que já estava encaminhado (e isso é assunto pra outra postagem). E a chegada dela foi a parte mais linda que Deus nos reservou para todo o ano. A chegada de um filho é a parte mais linda na vida de qualquer pessoa.
O 2018 foi o ano do aprendizado. Aprendi muito.... inclusive que ainda falta muito a aprender. Aprendi a viver um dia de cada vez, não sofrer com o que está reservado pra outro dia. Aprendi a amar muito mais as pessoas que me cercam. Minha família, meus amigos - mesmo os que estão longe, meus irmãos em Cristo - pessoas excepcionais, que Deus escolheu a dedo pra colocar ao meu lado. Algumas coisas, ainda não aprendi.... estão no processo. Mas eu chego lá. Em 2018, comecei a colocar isso em prática. Pedir mais, ajudar mais, doar mais.
Em 2018, senti saudade. De quem está longe e de quem já se foi. Acho que a gravidez e a chegada da Catherine me fizeram sentir essa saudade, ainda maior do que eu já sentia. Minha irmã Mônica e minha avó Raquel. Quem conviveu com elas, sabe do quanto as duas amavam crianças. A Mônica, que viveu a vida sonhando em ser mãe - e acabou sendo indiretamente - e a minha avó, que sonhava em ver um bisneto. Este ano, as duas seriam muito felizes.... Aurora, Israel e Rachel crescendo lindos, muito espertos e cheios de amor, e Catherine chegando.... isso me emociona e deixa meu coração em pedaços.... mas tenho consolo no Senhor, que sabe de todas as coisas.
Em 2018, aprendi que a paciência é a maior virtude do ser humano. Inclusive biblicamente falando. Passei o ano buscando essa paciência e sendo testada. Posso dizer que perdi a linha algumas vezes - a última delas, inclusive, foi ontem -, mas na maior parte do tempo, consegui me manter de pé, pacientemente.
Este ano foi de conquistas. Financeiras também. E tenho certeza de que foi só uma preparação para o próximo ano, para o qual as metas já estão mentalmente traçadas e incluem outras conquistas. Como Deus continuará à frente, sei que será outro ano de muitas colheitas.
Em 2018, buscamos a Deus junto com irmãos incríveis, e direcionados por líderes que, com toda certeza, foram chamados e capacitados por Deus. Agradeço a Ele por nos dar pastores tão comprometidos com a verdade, compromissados com ensinamentos que só visam à nossa vida com Deus. Inclusive, com estes pastores, aprendi que o mais importante na vida é a busca de ser menos eu e mais Deus.
Ah, e este finalzinho nos trouxe meus pais. Minha mãe, que eu não via há um ano, e meu pai, que não via há dois. Foi a primeira vez que ele veio a este país... conheceu a Catherine e a Rachel e reviu a Aurora. Tem sido dias emocionantes e muito bons... e sou muito grata a Deus por ter nos proporcionado este encontro em terras distantes da nossa. É a realização de um sonho pessoal do meu pai e, consequentemente, meu também.
E eu posso resumir meu ano em uma palavra neste momento: gratidão. Gratidão por cada momento que vivi, pelo trabalho, pela vida, pela família, pelos amigos, pelas lutas. Gratidão a Deus, pelo amor incondicional, gratidão a este país, que nos acolheu e nos trata como filhos. Gratidão por tudo o que vivemos, por cada livramento, por cada problema - mesmo os sem solução.
Obrigada, Deus. Obrigada por cada um, por tudo.
E continue sendo o centro do meu viver em 2019, direcionando a minha vida e a minha família.

domingo, novembro 11, 2018

Entenda o que dizem os seus filhos

Este assunto veio à minha mente há poucos dias, e, desde então, eu vinha pensando em como abordá-lo aqui. Primeiro, porque não sou exímia entendedora da mente humana e não sou mãe há tanto tempo assim. Depois, que esse negócio de gravidez deixa a mulher um tanto emotiva e, portanto, mais suscetível a determinados sentimentos, especialmente quando o assunto envolve os filhos.
Uns dias atrás, pululou na minha timeline do Facebook, determinada postagem feita, inicialmente, por uma página que faz, usualmente, publicações humorísticas. Eu, que não costumo ficar muito tempo olhando o que as pessoas escrevem - não por falta de interesse, mas de tempo mesmo -, parei para ler quando vi que muitos dos meus contatos estavam compartilhando e/ou comentando. Era um chamado para que as pessoas escrevessem ali nos comentários o que diriam se pudessem fazer uma ligação telefônica a si mesmas quando crianças.


Achei a ideia interessante e quase me pus a imaginar o que eu diria para a Flávia de 30 anos atrás, mas não deu tempo. Fui golpeada pelos primeiros comentários que li. Eram pessoas se dirigindo a si mesmas, com 4, 5, 8 anos de idade e, nos telefonemas imaginários, elas pediam, imploravam, suplicavam para que elas mesmas, quando menores, fugissem de vizinhos, pais de amiguinhos, tios, vizinhos, meio-irmãos, padrastos e mais uma lista enorme de conhecidos e velhos amigos da família. E o mais chocante eram os motivos: ele vai te fazer mal, ele vai te tocar, ele vai te violentar, ele não gosta de você tanto assim. E os conselhos eram muito parecidos: conta tudo pra sua mãe, fala pra vovó porque ela gosta de você de verdade, fuja, não olhe para trás, grite.
No auge das minhas 35 semanas de gravidez, não contive as lágrimas. E percebi que homens e mulheres não-grávidas também estavam emocionadas com o que liam. E algo me tocou profundamente. Obviamente, meu primeiro pensamento é a Aurora, mas não só. Penso na minha sobrinha, na Catherine que ainda vive no aconchego e segurança do meu útero, nos filhos e filhas dos meus amigos e amigas, nos primos e, não tem como não pensar, em mim mesma quando criança. Não fui molestada, mas muitas crianças, que viviam vidas parecidas com a minha, foram. Por padrastos, pais de amiguinhos, conhecidos, "irmãos" da igreja... enfim.
E isso ficou me corroendo por dias.
Algum tempo depois, vi outra postagem, desta vez em um grupo de anúncio de serviços e produtos oferecidos por brasileiros na região em que vivemos. Na postagem, uma mãe aconselhava outras mães a tentarem conhecer as babás com as quais deixavam seus filhos, porque um dos filhos dela, um menino de 4 meses, tinha chegado em casa com uma marca roxa no bumbum. Nos comentários, outros brasileiros dizendo que o menino poderia ter caído (a mãe dizia que não, porque a criança ainda não andava), ou que o menino poderia ter saído de casa com aquela marca (ao que a mãe respondia que tinha dado banho de manhã no menino e não, ele não estava com o roxo) e outras tentativas de explicar aquela marca. A mãe estava bem categórica quando dizia que o filho tinha sim, sido marcado durante as horas em que permaneceu com a babá.
E foi aí que eu me lembrei de como tinha sido a minha tentativa de deixar a Aurora aos cuidados de uma babá, assim que chegamos aqui, para que eu pudesse trabalhar. Sim, a vida aqui é muito difícil e ser dona de casa não era uma opção quando chegamos. Eu precisava trabalhar. Aliás, ainda preciso.
Aurora tinha 11 meses. Mamava no peito e ainda sofria a adaptação da mudança. Contratei o serviço de uma babá e deixei a menina lá no primeiro dia. Recebia fotos o dia todo e relatório por mensagem. Ela chorava de tempo em tempo, mas não passava o dia todo chorando. Havia outras crianças na casa e isso, de certa forma, me tranquilizava. Quando cheguei para buscá-la, peguei a mimha filha de um jeito que nunca tinha visto: chorando compulsivamente (começou quando me ouviu chamá-la, mesmo antes de eu aparecer) e tremendo. Pensei: está sentindo falta do meu peito. Era o pensamento mais lógico que me vinha à mente. Mesmo assim, não parei pra dar mamá lá na casa da babá. Pegamos o caminho de casa e chegamos em uns 10 minutos. Ainda não tínhamos carro e fizemos o trajeto a pé, com a Aurora se acalmando devagar. Em casa, antes de dar o mamá, ofereci o jantar que eu tinha deixado preparado. E para a minha surpresa, Aurora comeu como nunca havia comido na vida. Eu estranhei muito. Ela comeu uma quantidade tão absurda, que eu nem tive coragem de dar um banho logo depois. Ela pediu mamá, mas foi apenas para fechar os olhos e dormir. Quando verifiquei a mochila dela, com roupinhas, fraldas e todas as refeições que eu havia mandado, estava tudo em ordem. Os potinhos de comida, bolo, fruta, iogurte estavam vazios ou não estavam na bolsa. Bom sinal... ela havia comido tudo o que eu tinha enviado. Ponto pra mim. Certo?
No dia seguinte, ao chegar, um dos filhos da babá me disse que o bolo de banana que eu tinha mandado pra minha filha no dia anterior e o iogurte infantil eram muito gostosos. Estranhei, mas não questionei. E o dia transcorreu como o anterior. Mensagens, fotos e Aurora chorando copiosamente quando o papai chegou para buscá-la.
Até aquela idade, Aurora, embora um pouco arredia (tinha acabado de se mudar de país e as únicas pessoas com as quais ela convivia éramos eu e o pai, a tia, o tio e uma priminha bebê), mas nunca fora chorona. Aliás, passou a ser há bem pouco tempo, mas isso é assunto pra outra postagem. Ela era uma criança doce e, por mais que estranhasse e não quisesse ir no colo de qualquer pessoa, ela, de forma geral, se comportava bem. 
E neste segundo dia, eu parei para tentar entender o que ela estava tentando me dizer. Chegou em casa, dei banho antes do jantar. Achei que ela só iria querer mamar para dormir, afinal de contas, novamente a mochila não trazia vestígios da comida e dos lanches que eu tinha mandado para a babá. Mas não foi o que aconteceu. Aurora comeu tanto quanto no dia anterior. E ao final, queria colo, chorava, soluçava e o coração - dela - sempre acelerado. O nosso, partido.
Mensagem pra babá: como foi a alimentação da Aurora de dia?
Resposta: Ela almoçou um pouquinho.
Eu: Certo. E o iogurte, o bolo de banana, o kiwi e a laranja? Ela comeu? (na esperança de a babá me dizer que sim, ela tinha apenas rejeitado a comida de sal, mas as frutas e o resto, tinha comido).
A babá: Ah, não, não comeu. Ficou aqui na minha geladeira. Outra criança comeu os bolos.
Não disse mais nada. Entendi o que a Aurora estava querendo me dizer. Até hoje, não sei bem se a babá não oferecia os lanches que eu mandava ou se a Aurora não aceitava. Uma coisa eu tenho certeza absoluta: quando estava com fome, após várias horas sem comer, Aurora teria aceitado qualquer coisa que a ela fosse oferecida. Ela é assim. Até hoje eu deixo ela sem beliscar entre as refeições, para que ela coma melhor.
E eu entendi. Aurora não estava se sentindo bem ali. E eu não iria forçá-la. Não antes de ela ter um ano de idade, não antes de ela aprender a me dizer o que estava acontecendo.
Não houve violência física contra ela. Não houve marca roxa. Não houve agressão. Pelo menos eu acredito que não. Mas houve outro tipo de violência. Uma criança de 11 meses não tem querer, eu concordo, mas ela sabe o que está sentindo. Sabe o que está vivendo. E, mesmo que não saiba falar, consegue nos mostrar que há algo errado.
Preste atenção ao  que diz seu filho, ao que ele tenta mostrar a você. Crianças podem sim, ser mal criadas, cheias de vontade, elas podem precisar de correção e até de um tapa ou castigo, mas elas também sentem coisas boas e coisas ruins. Não mentem. Falam com os olhos, especialmente com as pessoas nas quais confiam.
Precisamos saber ler os sinais que elas nos emitem. Precisamos entender que elas estão querendo nos dizer, mesmo que não falem.
Ouça o que dizem seus filhos. Pare de esbravejar, pare de tentar corrigir aquilo que não precisa ser corrigido. Pare de comparar seus filhos com os filhos do vizinho. Fale baixo para ouvir o que o seu filho está dizendo. Faça silêncio para entender o que ele está sentindo.
Isso vai mudar muita coisa dentro dele. E de você.


Texto para os próximos dias: "Cuide dos seus filhos". É como uma continuação deste.

terça-feira, novembro 06, 2018

Países diferentes, gravidezes diferentes

Ta, todo mundo sabe - ou já ouviu falar - que uma gravidez nunca é igual a outra. Certo. Mesmo assim, existe uma certa expectativa.
E é assim em todos os sentidos. Comigo, foi diferente principalmente por causa do clima. Quando estava no Rio, a descoberta da gravidez foi no início do inverno, o que significa vontade - natural, por causa do friozinho - de comer o mundo. E ainda tive a felicidade de não sentir absolutamente nada. Nem um enjoinho, nem uma tonteirinha... nada. E isso facilita a vida de comilança. Desta vez, descobrimos a gravidez no finalzinho do inverno. Ainda estava bem frio, mas logo no início, tive enjoos, tonturas e tudo o mais que se pode ter no começo da gestação. 
Com a Aurora, a fase final da gravidez também foi diferente, e de novo essa diferença tem a ver com o clima. No Brasil, vivíamos o calor senegalês do Rio de Janeiro e, não há como me esquecer de que, no final de dezembro de 2015, era impossível sobreviver com aquela barriga imensa, em algum ambiente sem ar condicionado. Todas as compras que eu fazia estavam condicionadas a shoppings e hipermercados, porque tinham ambientes climatizados. Sair de casa, só de carro, com o ar condicionado devidamente ligado. Casa de amigos, havia pedidos de "por favor, ligue o ar"... incrível como chegava a ser divertido.
Hoje, estamos vivendo o contrário disso. O outono chegou aqui nos Estados Unidos, na mesma época em que a primavera chegou no Brasil. E enquanto por lá há chuvas e temperaturas subindo, aqui já está fazendo frio, as árvores já perderam a maioria das flores amarelas e, por isso, não tem como ser parecido. 
E, no meu caso, ter uma criança de quase 3 anos em casa, faz tudo ser muito diferente também. Lembro de viver meus dias de sono dedicados a dormir, descansar, ler, assistir a séries no Netflix, dormir de novo, comer a comidinha que a minha mãe preparava, dormir de novo.... enfim... eu consegui satisfazer a minha vontade de dormir, sem ser perturbada. Com uma criança em casa, isso não é possível. A Aurora dorme bem... de uns meses pra cá, passou a querer se deitar por volta das 9 e meia da noite e desperta por volta das 9 e meia da manhã. Isso é um bom tempo de sono, do qual eu posso desfrutar. Não me deito junto com ela. Quase sempre vou pra cama mais tarde.... mas poder acordar depois das 9 da manhã é muito bom. Apesar das dores desta fase da gravidez, que atrapalham os movimentos na cama, a vontade ininterrupta de fazer xixi, a dificuldade de deitar e levantar, de encontrar uma posição, o bebê grandão na barriga que desperta antes de mim e não para de se mexer.... de fato não é fácil. Mas tudo bem, está dando pra descansar e levar numa nice.
Só que não é só isso que faz uma gravidez ser diferente da outra. Comigo, a primeira gravidez foi muito mais romantizada. Era tudo lindo. Bebê mexendo, idas ao banheiro a noite toda, dificuldades naturais, fotografias..... eu aproveitei tudo. Fotografei tudo. Quis guardar tudo. E todo mundo à minha volta ajudava.... como as pessoas admiram a primeira gravidez, não é? Pois é.
Desta vez, eu já não vejo novidades... só quero que termine logo, que passe rápido... mesmo sabendo que depois que nasce, não dá pra 'desnascer' e o cansaço será grande. Só que não consigo ver tanto romantismo mais.... gosto de estar grávida, depois dos enjoos, não tive outros sintomas ruins, mas é tudo meio repetição. E a noção da realidade me deixa bem racional.
Aqui nos Estados Unidos, frequentamos uma igreja americana, da qual faz parte também uma comunidade de membros de língua portuguesa (portugueses, brasileiros, caboverdeanos). E nessa comunidade da nossa língua, não há muitas pessoas jovens ou casais mais novos, com filhos pequenos. Há, mas não muitos. Isso faz com que as pessoas se interessem pela gravidez, fiquem saudosas ao se lembrarem de filhos e netos que vivem longe e acabam vivendo esse nosso momento com a mesma intensidade que eu tive entre amigos e irmãos em Cristo no Brasil. Acontece também entre os da comunidade de língua inglesa que congrega na mesma igreja. Então, posso dizer que todo o carinho que tive na primeira gravidez - e que todos me diziam que não se repetiria na segunda - está se repetindo aqui. Isso, de certa forma, é a única coisa parecida com o que tive na gravidez da Aurora...
Vamos ver depois que a Catherine nascer....

quarta-feira, outubro 24, 2018

Carta à Catherine

Quase três anos depois, cá estou eu novamente, numa  postagem que não achei que se repetiria. Três anos atrás, a proximidade do parto da Aurora, toda expectativa, a forma como eu me sentia e tudo o mais que envolvia a data, me trouxeram a fazer a "Carta à Aurora", que pode ser relembrada aqui.
Hoje, a proximidade da chegada da Catherine, a segundinha, me traz a esta postagem.
Os sentimentos se misturam, mas são diferentes. O temor é parecido, afinal de contas, teremos um procedimento cirúrgico dentro de pouco mais de um mês e isso, por mais corriqueiro que seja, assusta um pouco. E o temor quase acaba aqui. O fato de a Aurora ter 'sobrevivido' à nossa inexperiência, aos nossos medos e a tudo com o que não sabíamos lidar, nos acalma.
Catherine, você está chegando em uma família que, de certa forma, sabe o que está por vir, conhece - mesmo que não exatamente - a rotina, os caminhos e a tranquilidade que, na prática, um bebê recém nascido representa. Mesmo que isso não seja a fiel realidade que nos aguarda.
O fato importante é que o sentimento pré nascimento que nós temos hoje é ligeiramente mais tranquilo do que o que tínhamos em fevereiro de 2016. Não sei o quanto mais traquilo, mas a palavra "ligeiramente" ajuda a sinalizar que, no fundo no fundo, há o eterno medinho, aquele que toma conta de toda mãe antes da chegada de um bebê, não importa se primeiro, terceiro ou quinto.
A parte mais importante dessa doce espera é que temos a certeza de que você, Catherine, vai chegar num lar que aguarda ansiosamente por você e já a ama como se a conhecesse. Temos convicção de que este amor que já sentimos, sem ter visto o seu rosto, vai aumentar a cada dia, até que a gente perceba que não há palavras para descrevê-lo. Não há como explicar. Só sabemos que é o amor que aprendemos com Deus, temos certeza de que é assim que Ele nos ama.
Esta carta tem só uma motivação: a vontade de externar o sentimento que nos move, e a (minha) necessidade de colocar no 'papel' aquilo que estou sentindo. Ta, são duas motivações, mas como tudo tem a ver com sentimento... fica como se fosse uma só. Estamos vivendo o segundo momento mais especial da nossa vida. Todos os outros ficaram aquém do que a vida está nos dando hoje. Namoro, casamento, viagens, momentos felizes, amigos... nada pode chegar perto do que sentimos quando vivemos a espera e chegada da Aurora e, agora, a espera pela sua chegada.
Estamos muito felizes e oramos a Deus para que essa felicidade seja constante. Pedimos a Ele todos os dias que nos supra de capacidade para criar você nos caminhos dEle, ensiná-la que a fidelidade dEle é o que de mais importante temos na vida e que a misericórdia dEle é a causa de não sermos consumidos. Você vai entender isso um dia. Buscamos sabedoria divina para que saibamos conduzir os seus dias, para que não nos acovardemos diante das dificuldades que surgirão e, principalmente, que a gente permaneça fiel aos caminhos dEle, o autor e consumador da nossa fé.
Catherine, querida, estamos ansiosos pela sua chegada, mas fica mais uns dias aí nesse forninho... logo logo você estará aqui conosco, na nossa casinha nova - que só existe pela sua chegada, no seu quartinho lindo e com a sua família de americanos e brasileiros (porque sim, você tem uma família linda de brasileiros aqui e no Brasil, e uma família linda de americanos aqui também).
Que Deus a abençoe, ainda no meu ventre, e na sua chegada.

quinta-feira, outubro 18, 2018

18 de outubro

Sempre achei o dia 18 de outubro uma data muito bonita. Acho que porque a sonoridade de "18 de outubro" é bonita, combina... quase rima. Mas não só por isso. Quase todos os dezoitos de outubro da minha vida foram de comemoração ao aniversário da Mônica, minha irmã mais velha. Isso fazia do dia muito mais bonito, mesmo depois que ela se casou, mudou de cidade e parou de comemorar o próprio aniversário. Lembro-me de ligar pra ela logo cedo e, em vez de "alô", ouvir "irmããããã!".... era assim que ela atendia ao telefone quando eu ligava. E lembro também de que quando eu ligava de um número que ela não conhecia, ela dizia "pronto". Eu perguntava "pronto o que? Tem bolo pronto aí?". Ela ria.


Isso acontecia no aniversário dela, mas não só. Ela era assim, em qualquer dia, a qualquer hora, não importando como ela estivesse. Isso era bom, fazia bem. Não esqueço da saudade que eu sentia dela, quando morava em Brasília. Várias vezes eu telefonava e pedia pra ela cantar uma música que eu gostava muito. Uma não, duas. Eram duas músicas infantis, mas que eu gostava muito de ouvir quando ela cantava. E ela sempre cantava quando eu pedia. Até hoje, nunca consegui cantar as duas musiquinhas pra Aurora... não consigo. A garganta trava, os olhos enchem de lágrimas.... eu acabo deixando pra outro dia.
E isso passou a acontecer há cinco anos, 38 anos e dois meses depois do nascimento dela. No dia em que Deus a tirou do nosso convívio na terra. Desde então, o dia 18 de outubro ficou mais frio, mais escuro, menos bonito.... mais triste mesmo. A cada ano, coisas novas acontecem em nossas vidas, pessoas novas chegam, alegrias, novas tristezas, perdas, ganhos, trabalhos, sorrisos, lágrimas.... mas aquele sentimento de "não temos mais a Mônica", não nos deixa. Está aqui, sempre. Todos os dias, mas muito mais presente em alguns dias específicos. No aniversário dela, no Natal que ela sempre gostava de comemorar, quando ouço alguns hinos que ela cantava como ninguém e em alguns outros momentos.
Essa semana foi de lembranças. O desenvolvimento da Aurora, cada frase nova que ela forma, as sapequices, as músicas que ela canta.... me fazem sempre imaginar como a Mônica reagiria. Ela amava crianças e sonhava em ter filhos. Aurora e Rachel seriam a felicidade da vida dela. E agora, a Catherine.
Mas Deus sabe de todas as coisas. Ele tem nos sustentado, tem nos mantido de pé, firmes. E tem nos consolado a cada dia também. Aos nossos pais, nossas famílias. E tem nos ensinado também. 
Obrigada, Senhor. Em meio às adversidades, precisamos de serenidade e fé para perceber a vontade de Deus para as nossas vidas.

sexta-feira, julho 06, 2018

Rápidas

Nada mudou

Como não poderia deixar de ser, após vários meses sem notícias por aqui, cá estou novamente, pra dar uma atualizada básica nos acontecimentos... e tentar voltar à rotina de postagens, notícias, novidades.... enfim. Meu desaparecimento, desta vez, ocorreu devido à falta de tempo, por causa de trabalho, e à falta de ânimo, por causa do frio. Sim, eu fico beeeem desanimada no frio. Pra tudo. E por aqui, o frio dura sete meses!

Aurora linda

Quem está comigo no instagram ou no facebook, vem acompanhando a evolução, as coisas engraçadas, as falas, as pérolas... e pra quem não está, informações: Aurora está cada dia mais linda, falante e cantante. Fica feliz em ir à igreja, ama as pessoas que estão mais próximas - chama a cada um pelo nome - e sabe a ordem de todos os aniversaários até fevereiro próximo, quando é o dela. 

Rachel linda

A Rachel é a sobrinha linda, "a melhor pessoa", como eu mesma a defino. Esperta, gulosa, divertida... ela nunca se abate - a não ser quando está com sono. Se alguém faz alguma coisa para deixá-la irritada, ela simplesmente desconsidera. Deixa pra lá. Procura outra companhia ou outra ocupação. Coisa mais linda da vida! Ah, e o próximo parabéns é dela, a Quel.


Inverno

Da última vez que fiz uma postagem aqui, o frio tava castigando. Ele sempre castiga... é desses. Agora, o verão acabou de começar oficialmente, mas os dias vem sendo quentes há um mês, mais ou menos. E os dias de verão estão beeeem quentes. Embora as temperaturas no termômetro fiquem na casa dos 30 graus, permanecer ao ar livre é tarefa complicada. 


Como assim, você pode se perguntar

Daí os meus três leitores podem se perguntar como eu ando sofrendo com 30 graus, se venho de terra muito mais quente que isso... e minha resposta é a única que consigo encontrar: o frio é tão intenso e dura tanto tempo, que a gente acaba se acostumando a ele. E este costume deixa a gente mais sensível às temperaturas mais altas. Não sei se isso procede... é coisa da minha cabeça.

Explicação

E essa explicação, eu encontrei ainda no inverno. Lembro de ter que sair de casa para ir ao médico com a Aurora. Não estava nevando, mas a temperatura era de 4 graus. Venho de uma terra que sofre com frio de 19 graus, gente! Pois muito bem... pra sair de casa, agasalhei a Aurora pro frio de 4 graus, Botei meia calça, calça comprida de flanela, body de manga comprida, blusa de frio por cima, outro casaco, gorro, cachecol, luva... e pronto. Rua! E para a minha surpresa, Aurora reclamou que tava calor. Sério! Tirei gorro, luva, cachecol e até o casaco mais pesado, e ela ficou bem. Inacreditável! Por causa disso, passei a achar que a gente se acostumou ao invernão...

Novidade do ano


A maioria dos meus amigos já sabe, mas provavelmente meus três leitores ainda não... porque só falei da maior novidade do ano no facebook e no instagram, not here. Então.... estamos à espera do segundo baby. Sim, no final de novembro teremos outro bebê em casa. A notícia nos pegou de surpresa, mas ficamos muito felizes. 

Sobre o pré natal

O assunto não faria sentido aqui, não fosse toda a diferença que existe do pré natal no Brasil para este feito aqui. Primeiro e bem curioso é o fato de que o obstetra só atende a paciente grávida após oito semanas de gestação. Achei isso bem estranho, já que no Brasil, os médicos pedem para a mulher procurar pelo obstetra tão logo descubra a gravidez. Como em qualquer especialidade, quem faz quase tudo durante uma consulta médica, é uma enfermeira. Afere pressão arterial, pergunta se ta tudo bem, informa sobre os próximos exames e ultrassom, coloca o aparelho pra gente escutar o coração do bebê e tal... ela anota tudo e depois vem o médico, só pra ter certeza de que tudo está bem. Reforça algumas perguntas e pronto. Acabou.

Ultrassom

Como eu não tenho mais 20 anos, os exames de imagem são mais regulares na gravidez. Antes dos 35 anos, as gestantes fazem três ou quatro exames destes durante toda a gravidez. Após esta idade, a mulher faz um por mês. To nessa média. E outro fato curioso é em relação a isso. Só é possível descobrir o sexo do bebê, na ultra das 20 semanas! Fiquei chocada! No Brasil, com 12 semanas, a médica arriscou que a Aurora era uma menina e com 15 semanas, ela confirmou! Aqui, só com 20... sabendo disso, marquei a ultra do mês para a próxima semana, quando estarei na casa das 20 semanas... difícil é segurar a ansiedade!

Novos textos

Como sempre faço depois de um tempo sem dar notícias, prometo passar sempre por aqui. O tempo anda apertado, os afazeres tomando bastante o meu tempo e a gravidez me deixando muito cansada e com sono a maior parte do tempo. Mas refaço a minha promessa de passar mais por aqui. Tenho novas ideias e preciso renovar as velhas... farei isso. Prometo!

segunda-feira, janeiro 15, 2018

Aqui é assim... coisas incomuns (que fazem diferença)

Sabe aquelas coisas pequenas, gestos simples, mas que fazem uma super diferença na vida de todo mundo? Pois é.... parece chover no molhado, mas são questões meramente culturais, mas que pra nós, brasileiros, representam bem mais que isso: chegam a ser mostra de civilidade e até de honestidade.
Quem aí já esqueceu o telefone celular em um lugar público, bem movimentado? O celular, ou a carteira, ou algum documento, um par de óculos. Teve uma pessoa que esqueceu em uma loja, uma sacola de compras feitas antes, com roupas, óculos escuros e um relógio. Quem imagina que tudo pode ser recuperado facilmente? E é. Provavelmente, brasileiro nenhum consegue imaginar isso... mas é o que acontece em quase todos os casos. Sim, “quase”, porque honestidade e empatia não são qualidade de 100% das pessoas.
Esses exemplos que eu citei, são fatos que eu presenciei ou soube por alguém próximo. Se for relatar aquilo que eu já ouvi falar, de gente que eu não conheço, haverá, com certeza, outras situações que fogem completamente à realidade dos brasileiros.
Quando o assunto é gentileza no trânsito, são muitos exemplos de educação. E não estou falando de faixa de pedestres e acessibilidade. São outras situações. Motoristas que param para as pessoas atravessarem, mesmo que não sejam idosos ou pessoas com crianças, pessoas que passam pelas outras e dão bom dia, carros que mesmo na madrugada param nos cruzamentos por alguns segundos.... e por aí vai.
Gente educada é bonito. Educação cabe em qualquer espacinho... e sobre a gentileza... já dizia o profeta:


terça-feira, janeiro 09, 2018

Aqui é assim... compras

Se o assunto são compras, quaisquer que sejam elas, aí o assunto é bom. E se as compras forem nos Estados Unidos, aí o assunto é ainda melhor. Primeiro, porque a oferta de produtos é infinita, de todos os tipos. Depois, porque com moeda forte e impostos justos, comprar (ou pagar) não é sinônimo de sofrimento, como no Brasil.
Nos supermercados, a gente chega a ficar perdido. Sabores, marcas e produtos e sequer existem em outros lugares do mundo. Comida é barato. Frutas, legumes, leite, ovos. Nas lojas de roupa, faz-se enxovais inteiros, para adultos, crianças ou bebês, com relativamente pouco dinheiro.
Outro item do qual nós, brasileiros, chegamos a sonhar, é comum e muito acessível por aqui. Eletrodomésticos de última geração, que têm funções inacreditáveis (pelo menos para nós, meros mortais), televisões enormes, computadores, telefones celulares.... nada disso é luxo. Quem trabalha, pode comprar tranquilamente.
Produtos de marcas mundialmente famosas, que no Brasil precisam de anos de planejamento financeiro para serem adquiridos, nos Estados Unidos não chegam, jamais, a ser sonho de consumo. Exatamente por terem preços acessíveis. Um par de tênis “venerado” por jovens brasileiros, que pode custar 800 ou 1000 reais no Brasil, é facilmente comprado aqui por menos de 100 dólares. Convertendo, o que a gente aprende a não fazer mais, esse par de tênis custa 300, 320 reais...
E outra coisa... americano, ao contrário do que muita gente pensa, em sua maioria, não esbanja. Exemplo claro é uma rede de lojas chamada Dollar Tree. É como aquelas de 1,99 no Brasil, mas aqui, vendem absolutamente tudo por 1 dólar. E raramente a gente encontra uma loja dessas vazia. Produtos de limpeza, de festa, de escritório, beleza, alimentação, brinquedos, enfeite, doces, frios, ovos.... tem de tudo. Até camarão e salmão.


É o povo daqui, valorizando o próprio dinheiro. E sabendo onde e como gastar.

quarta-feira, janeiro 03, 2018

Carta para 2017

Pra começo de conversa, to atrasada. É, aqui com essa carta, que foi um meio que eu encontrei de conversar com o ano que acabou de acabar. Na verdade, quando tive a ideia e comecei a conceber esse texto, ainda faltava algum tempo para o 2017 acabar... só que a vida não ta fácil, e eu nunca mais consegui terminar. Aliás, consegui sim. Agora, três dias depois do limite. E como eu não me dou bem com limites, vou postar assim mesmo.
2017, querido, você foi difícil pra caramba. Não todo, mas pelo modo como começou e andou por alguns meses, te coloco no nível 9, numa escala que vai até 10. E como esses alguns meses difíceis foram, tipo, bem difíceis, o ano inteiro pode ficar como difícil.
A nossa adaptação, aqui nos Estados Unidos, foi, de longe, o maior problema que enfrentamos. Chegamos no começo do inverno e quando nos mudamos para a nossa casa, em janeiro, éramos só dificuldade. Sério. Sem exagero. Se você queria ser difícil, se superou. Aurora foi um desafio a cada hora. Desaprendeu a comer e a dormir. Visto que essas duas coisas eram as únicas que ela sabia fazer aos 9 meses.... voltamos à estaca zero. Cada hora, literalmente, era algo diferente pra gente vencer. E fomos vivendo cada hora. E elas foram passando, passando. E passaram. Ó, digo sem medo de errar, que foi uma das maiores provas da minha vida. E nós conseguimos. Aurora, hoje, está adaptada. E nós, consequentemente, também. Ela dorme bem, come, deixou de mamar no peito no dia em que completou 19 meses, sem que eu fizesse absolutamente nada. Pensando bem, querido 2017, você pode não ter sido tão cruel assim.... vou pensar melhor se mudo essa palavra.
E como você foi nosso primeiro ano fora do nosso país e longe dos nossos amigos e familiares, a saudade foi outro grande mal vivido em todos os seus meses. Saudade de tudo. De andar na rua e cumprimentar as pessoas, de ir à casa da vizinha que virou amiga, de levar a Aurora no parque da rua, de encontrar as amigas íntimas, de conversar - em português - com um desconhecido no supermercado e reclamar do preço da batata, de ter o vovô e a vovó da Aurora ali, a uma porta de distância, de dirigir meu próprio carro, de ir almoçar na Birinha e ficar por lá a tarde toda sem fazer nada e comendo os doces mais gostosos do mundo, de tomar banho de piscina piscina da Neguinha.....
Mas nem só de saudade você foi feito, 2017. Os seus dias foram de descobertas também. Boas e ruins. Descobri que me desafiar é sempre bom. Vencer desafios é ainda melhor. Descobri que o maior bem que a gente tem na vida chama-se Família. A que mora na casa com a gente e a que mora longe também. Descobri que ter paz é o melhor que se pode ter. Descobri que dinheiro é necessário pra gente viver, mas não é o mais importante (muitas vezes, antes de você, 2017, eu cheguei a trocar a ordem na escala da importância).
Descobri que trabalho é mais que necessário, é fundamental, mas que ele não pode ocupar um lugar que não pertence a ele. Isso significa que família, filhos, amigos, risos e mais um monte de outras coisas também precisam ter lugar cativo no nosso tempo. Descobri que faço o melhor empadão do mundo, que tenho a filha mais linda, que cada sorriso dela me traz lágrimas aos olhos, e que cada conquista que ela faz me deixa lotada de alegria.
Descobri que por mais frio que faça por dias seguidos, o sol volta a brilhar. E, por mais que demore, o verão chega, trazendo dias de alegria infinita, parques lotados, praias cheias de gente feliz, cabelos ao vento..... e, como não falar do verão com a vovó? Sim, minha mãe veio e ficou por aqui por seis dos seus doze meses, fazendo a alegria das duas netas mais lindas do mundo! Pena que o verão se foi e ela precisou voltar pro meu pai...
Descobri, em épocas diferentes do seu decorrer, que casar uma grande amiga e não estar perto quando outra grande amiga tem um bebê, são dois acontecimentos importantes e que eu daria um dedo - ou dois - para estar com elas....
E você, 2017, também me trouxe decepções. A maior delas foi aquela, da família que foi embora pro sol e deixou pra trás o chamado de Deus, a obrigação espiritual com os filhos dEle. Essa decepção nos afastou do Pai por um curto período de tempo. E Ele, em sua infinita misericórdia, nos mostrou o caminho a seguir e colocou pessoas comprometidas na nossa vida. Hoje, eu O louvo e agradeço, de coração, por todo cuidado que nos dispensou durante todos os seus 365 dias.
Alguns dias foram amargos. Descobrimos de uma forma bem ruim, como é ser vítima de fofoca. É... não vem ao caso os detalhes do caso, mas foi bem chato. A parte boa é que a gente aprendeu que, para se confiar em alguém, é preciso cautela. E se esse alguém for da nossa terra, cuidado redobrado.
Pensando bem, 2017, você não foi tão ruim como eu pensei no começo desta carta. Agora, após lembrar das - muitas - coisas boas que vivemos me faz repensar mesmo. Você foi um ano de aprendizados. Sim, lutas muitas, mas vencidas. 
E em vez de agradecer a você e aos seus 365 dias, eu agradeço a Deus e O louvo por cada momento, cada lágrima, cada vontade de ir embora, cada hora de busca, cada alegria, cada sorriso...... cada movimento feito em 2017 foi minuciosamente planejado por Deus. E tenho absoluta certeza de que estamos no caminho certo e que este 2018 será infinitamente melhor. Infinitamente mesmo.









Tchau, 2017... até nunca mais!

quinta-feira, dezembro 21, 2017

Aqui é assim... Trânsito

Pra começar o assunto, nada mais propício que o Trânsito. Não, não é caótico ou curioso como em alguns lugares. Aonde moro, é até bem tranquilo, se eu comparar com cidades próximas. E, quando o assunto é trânsito, carros são o que há de mais interessante, como em qualquer lugar do mundo. O meu carro, o do vizinho, o da outra rua, o desconhecido. É sempre bom de falar.
Como a grande maioria dos bens, carro é, digamos, fácil de comprar. Fácil pelo preço, pelo menos. Um veículo considerado de luxo no Brasil, que custa em torno dos R$100 mil, pode ser retirado da agência, zero quilômetro, por menos de U$20 mil. Não, não é exagero.
Depois de pago o carro (ou financiado), é necessário pagar pela placa. Sim, o emplacamento é pago à parte. Normalmente, as agências e concessionárias cobram uma taxa de cerca para este fim. A placa então passa a pertencer àquela pessoa. Se o carro for vendido amanhã, o dono tira a placa e guarda em casa, ou coloca no outro veículo que comprar. Depois de dois anos com a placa, o proprietário precisa 'renovar' o direito de usar aquela placa. Tem um custo e vale sempre por dois anos. As placas traseiras dos carros têm um selo pequeno, adquirido em cada renovação, indicando o ano do vencimento.
Antes de sair da agência, o carro precisa estar segurado. Não é como no Brasil, onde o seguro não é obrigatório. Lembro que no Brasil, obrigatório mesmo eram só aqueles valores que vêm incluídos no IPVA, tipo Dpvat. Nos Estados Unidos não. Aqui, todos os carros só podem sair das lojas devidamente segurados. E isso não é barato. E o valor muda, dependendo de alguns fatores específicos, como no Brasil. Tempo de habilitação, acidentes anteriores... essas coisas.
Carros usados são bem baratos, se a gente usar como base o preço dos carros no Brasil (é este o meu referencial pra tudo... rsrsrsr). Com U$2 mil, é possível comprar um carro razoável, bom às vezes. Mesmo usado, o trâmite é o mesmo: placa, seguro, habilitação.
Outra coisa muito interessante, e curiosa, é quanto às marcas dos carros que rodam por aqui. Enquanto no Brasil, Fiat, Volkswagen, Ford e Chevrolet fabricam os carros mais vendidos, nos Estados Unidos, essas marcas têm pouca ou nenhuma visibilidade. Fiat, por exemplo, acho que não existe aqui. As outras três são um pouco mais comuns, mas não há muitos modelos disponíveis.
As marcas populares comuns aqui são Toyota, Nissan, Mazda e Honda. Além das comuns no mundo inteiro: BMW, Mercedes, BMW e outras de alto luxo. Ah, e quase não há veículos com câmbio manual. Praticamente todos são automáticos.
Motocicletas, a gente só vê nos meses de calor. E não são muitas.
Bicicletas, acho que só vi duas ou três.
Quem compra um carro novo, dificilmente se desfaz dele rapidamente. A grande maioria dos carros usados disponíveis para a venda em lojas especializadas estão com o odômetro nas alturas. Acredito que isso também seja cultural. No Brasil, conheço muita gente que troca de carro a cada ano ou, no máximo, dois. Aqui isso parece não acontecer muito.
E, como aqui faz muito frio por quase oito meses e temos neve por uns quatro meses, quase todo mundo tem no porta malas, uma pá pra rapar neve. Como no inverno passado, nós ainda não tínhamos carro, precisamos providenciar a nossa pá e fizemos isso há alguns dias. Pagamos uns U$ 10 na nossa. Essa pá vai ser usada quando a gente precisar tirar o carro depois de um ou vários dias de neve caindo. Se o volume de neve for grande, ela precisa ser retirada do redor do carro, pra que a gente consiga sair. Lembro de ter feito isso bastante no inverno passado.... quando ainda usávamos o carro da minha irmã.
Ah, e falando em neve, é infração grave andar com neve sobre o carro. Nos vidros, para brisa e teto.
Nos dias de muita neve, só é permitido estacionar do lado esquerdo das ruas. Isso, porque o carro que rapa a neve vai passar, retirar a neve do meio da via e jogar, necessariamente, do lado direito. Todo mundo já sabe disso, claro, e quando a previsão do tempo indica neve intensa, com acumulação, ninguém (ninguém mesmo) para o carro do lado direito.
Cadeirinha de bebê e/ou criança é outra regra importante. E ninguém (sendo redundante, ninguém mesmo) desrespeita. E todos têm cuidado com a idade e peso da criança, para que estejam usando a cadeira indicada.
Motoristas, invariavelmente, respeitam as regras. Sinais fechados, travessia de pedestres - em qualquer ponto do perímetro urbano e não somente em locais destacados para quem está a pé -, parada obrigatória em cruzamentos - mesmo que seja possível avistar que não haja outro carro vindo -, parada obrigatória atrás de veículos de transporte escolar (aqueles amarelos, como nos filmes) dos quais estejam desembarcando alunos...


Cinto de segurança, cadeirinhas para bebês e/ou crianças maiores... enfim, as regras são claras e cumpridas. A principal vantagem disso é o baixo número de acidentes. Quase não há atropelamentos, colisões ou simples abalroamentos. Nem preciso entrar em detalhes sobre a importância disso. Estamos acostumados a assistir reportagens de televisão no Brasil, com o repórter flagrando motoristas furando sinais fechados, falando ao celular, estacionando em locais proibidos.... e todos têm explicação para tentar justificar a própria infração. É lamentável que este tipo de comportamento seja tão comum e, pior, tão aceitável por todos (não penso assim porque estou fora do país. Passei mais de 35 anos morando no Brasil e conheci diversos estados. Sempre tive esta postura. Quem conviveu comigo, sabe exatamente do que estou falando).
Aonde moro, ainda não utilizei o transporte público, mas parece que o serviço é razoável. Eu passei boa parte da vida andando de ônibus, na cidade em que nasci e cresci, em outras que estudei, na capital do meu estado, na capital do estado vizinho, na capital do país. Em cidades onde fiz turismo. Sei do que estou falando. Acho que conheço o sistema de transporte público em, pelo menos, trinta cidades brasileiras. Em algumas, por utilizar muito. Em outras, nem tanto. Mas sei do que falo. E aqui onde moro, apenas vejo os ônibus circulando, mas não conheço trajeto, origem e destino, situação física dos veículos... nada. Sei que em cidades maiores bem perto de mim, como Boston e outras mais distantes, como Nova Iorque, ônibus, trens e metrôs são infinitamente mais estruturados e conseguem atender à população. Por aqui, não sei. O fato é que transporte - seja público ou não - é bem necessário. Poucas coisas a gente consegue fazer sem depender de carro. A cidade é ótima, o trânsito é organizado, as vias são bem sinalizadas. No calor, é mais "fácïl" viver sem carro. No inverno, porém....
Bem.... certamente há muito o que falar sobre trânsito... mas, pra inaugurar o marcador, acredito que tenha conseguido reunir algumas questões que considero bem curiosas.
E, agora, colocando mais informações no forno...