Algumas cidades satélites do DF têm umas localidades bem assustadoras, eu reconheço. São lugares feios, sem asfalto, algumas sem energia elétrica nas vias públicas, outras sem água encanada ou esgoto, enfim. Lugares que assustam mesmo, tanto pela falta de estrutura quanto pela feiúra em si.
Pois muito bem. Todo mundo sabe que o Bope é uma unidade policial que reúne homens bem treinados, operacionais – uns mais, outros menos – e que aonde chegam, são respeitados. Talvez pela imponência das viaturas pretas ou talvez porque no Distrito Federal a polícia – ainda – é respeitada aonde quer que se vá.
Aqui eu vou falar sobre um comboio de Patamo. Antes porém preciso explicar uns pontos importantes. O Patamo é uma “subdivisão” do Bope, responsável por patrulhar locais estabelecidos pela Secretaria de Segurança Pública. Esses locais são aqueles apontados em pesquisas como localidades com aumento de níveis de criminalidade. Neste caso específico, os homens do 3º Pelotão de Patamo estavam designados a patrulharem o bairro Estância, na cidade de Planaltina, distante 40 quilômetros de Brasília. Até hoje o bairro é tido com um dos mais violentos de todo o Distrito Federal.
Pois muito bem. Todo mundo sabe que o Bope é uma unidade policial que reúne homens bem treinados, operacionais – uns mais, outros menos – e que aonde chegam, são respeitados. Talvez pela imponência das viaturas pretas ou talvez porque no Distrito Federal a polícia – ainda – é respeitada aonde quer que se vá.
Aqui eu vou falar sobre um comboio de Patamo. Antes porém preciso explicar uns pontos importantes. O Patamo é uma “subdivisão” do Bope, responsável por patrulhar locais estabelecidos pela Secretaria de Segurança Pública. Esses locais são aqueles apontados em pesquisas como localidades com aumento de níveis de criminalidade. Neste caso específico, os homens do 3º Pelotão de Patamo estavam designados a patrulharem o bairro Estância, na cidade de Planaltina, distante 40 quilômetros de Brasília. Até hoje o bairro é tido com um dos mais violentos de todo o Distrito Federal.
Pois muito bem. As noites de sexta-feira e de sábado são as noites em que tudo acontece, são sempre os melhores plantões noturnos da semana. Nossa ronda começou por volta das 19 horas: começo de noite, muita gente nas ruas, bares abertos, carro com som altíssimo ligado nas calçadas e tudo o mais que pode ser “atrapalhado” pela presença dos homens de preto.
Era um tal de pára, aborda, pára, aborda, pára, aborda, que chega a ser chato. Mas eu sabia que tinha que esperar. Alguma coisa ia acontecer. Eu estava embarcada na viatura do zero um (é assim que todo mundo chama o mais antigo ou o policial de patente mais alta. Neste caso específico era o tenente Panisset, “meu melhor amigo”, como eu sempre o chamava) e o cinegrafista vinha no carro da equipe, atrás de todos os carros. Eu gostava de esperar passar das 11 horas da noite, porque sempre era hora de a polícia fechar os bares, porque nessa época vigorava no DF a Lei Seca, e nenhum bar podia ficar aberto após 23 horas. Foi uma solução que o Governo encontrou pra evitar confusão e diminuir a criminalidade. E funcionava!
Tudo o que eu queria era que chegasse a hora de começar a fechar os bares chegou. Ligava pro celular do cinegrafista e avisava que a chapa ia esquentar. Era previsível que haveria problemas, porque em todos os bares que eu acompanhava o fechamento, sempre tinha um bêbado-valente que queria impedir a polícia de fechar o bar, com aquela velha história: “sou cidadão, pago impostos e o dinheiro que você recebe sai do meu bolso”. Só pra constar, poucas coisas irritam mais a polícia que encontrar bêbado metido a valente, bêbado que acha que é cidadão e por isso não pode ser revistado e bêbado que diz que paga os salários deles. A gente sabe que é verdade, mas não é coisa que tem que ficar lembrando, até porque ninguém esquece.
Ta. Voltando aos bares abertos. E, porque ainda não eram 11 da noite.
Como as ruas não tinham asfalto e os motoristas das viaturas de Patamo se destacam por suas habilidades ao volante, a gente sempre andava “com emoção”. Se tivesse asfalto, os pneus cantariam, mas como não tinha, só havia nuvens de terra atrás da gente.
Lá pelas tantas, as viaturas entraram numa rua e já era sabido que naquela rua, uns 200 metros à frente, tinha – mais – um botequim. Até aí, nada demais. Eu não sabia a intenção do tenente, mas ele poderia nem parar pra abordar e revistar o povo que tava lá. A intenção podia ser passar, deixarem-se ser vistos e irem embora. Se o dono do bar tivesse juízo e não quisesse problemas, às 11 ele fecharia o bar e todos viveriam felizes para sempre.
Vimos que o bar estava aberto e que bem em frente ao estabelecimento tinha um rapaz vendendo CDs piratas. Pelo que eu entendi, ele tinha escolhido o “ponto de venda” dele pelo número de pessoas que estavam no bar. Ele tinha uma bicicletinha equipada e fazia o som que embalava a sexta à noite do povo. Certamente ele fazia algum dinheiro ali.
Chegamos perto do bar com as viaturas em velocidade baixa, pra mostrar a presença da polícia. Os policiais saíram, anunciaram a abordagem, pediram compreensão aos presentes e tal. Tudo correu bem. Os policiais embarcaram novamente e estavam prontos pra sair, já com os carros em movimento, quando o infeliz menino vendedor de CD quis “provocar”. Deixe-me explicar. Aqui no Rio, ouvir funk não é provocação, mas em Brasília é. Existe a mística envolvendo o funk carioca e a relação dos vagabundos daqui com a polícia encoraja gente boba como esse menino. Em Brasília o povo gosta mesmo é de ouvir música sertaneja e Banda Calypso. Na moral! Por acaso eu sofria horrores!!!!! Com o Panisset (o comandante da operação) isso não era diferente. Pelo contrário! Ele SÓ ouvia música sertaneja, Banda Calypso, Calcinha Preta e tudo o mais desse tipo. Por isso chamei o menino de infeliz. A gente tinha passado pela frente do bar e já estava saindo da rua, mas... o menino pôs exatamente o trecho de um funk que música que o garoto colocou pra tocar falava exatamente assim: “aqui nem o Bope entra”. Esse funk foi gravado por uns caras aqui na Cidade de Deus e ganhou o país. Tem até cover deles no DF.
Eu vi que a expressão do Panisset mudou e eu até ia fazer uma provocaçãozinha do tipo: “É... tão mexendo com você, viu? Não vai fazer nada?” Mas não deu tempo! O Botelho, motorista, falou: “Ah, não, zero um! A gente não vai deixar vagabundo nenhum fazer a gente de besta. Vamos voltar lá”. O Panisset consentiu, fez sinal com a cabeça e eu quase fui parar do lado de fora do carro, porque mal o tenente esboçou a reação de concordância, o Botelho já tinha feito uma curva inexplicável e tava voltando pro bar. Todas as viaturas fizeram o mesmo.
Em frente ao bar, o Panisset saiu e virou-se pro menino: “Ô peba, ce tem aí Teodoro e Sampaio?”. A valentia do menino-provocador sumiu e deu lugar a uma humildade sem tamanho: “Tem sim senhor”. Era o vendedor respondendo. “Tem Tentei te esquecer”?. “Tem, sim senhor”. “Então põe aí”. O menino nem respondeu. Começou a mexer nos CDs à venda, com os dedos trêmulos e encontrou o tal CD, com a tal música. “Eu quero ouvir Tentei te esquecer”. Era a voz ameaçadora do Panisset. “Sim senhor”, a trêmula do menino.
Segundos depois, ecoava pela rua a música do Teodoro e Sampaio. Todo mundo que tava no bar estava em silêncio. Provavelmente vários deles tinham vontade de esmurrar o “branquelo do tenente”, mas quem ousaria falar alguma coisa????? O mais divertido de tudo foi a ordem do Panisset, antes de embarcar na viatura de volta: “Toda vez que eu passar aqui, você vai colocar essa música bem alta. Se eu ouvir qualquer outra música, eu levo você preso e destruo todos esses CDs aí. Ta entendido?”. Mais uma vez eu ouvi o sussurro de “sim senhor” do menino.
E esse foi só o começo de uma noite looonga de diversão. Pra onde quer que o tenente mandasse o motorista levar a viatura, o Botelho fazia questão de cortar – ou encompridar – caminha e passar pelo menos na esquina do bar. Dava uma ligeira paradinha e víamos o menino todo enrolado, trocar rapidinho o CD e aumentar o volume. De onde as viaturas estivessem, dava pra ouvir a voz do Teodoro: “Tentei te esquecer, não deu. Pensei que fosse mais fortí que esse amor! Oh, minha paixão...”.
Isso aconteceu pelo menos até o menino desistir de ouvir a música, recolher tudo e ir dormir...
Em frente ao bar, o Panisset saiu e virou-se pro menino: “Ô peba, ce tem aí Teodoro e Sampaio?”. A valentia do menino-provocador sumiu e deu lugar a uma humildade sem tamanho: “Tem sim senhor”. Era o vendedor respondendo. “Tem Tentei te esquecer”?. “Tem, sim senhor”. “Então põe aí”. O menino nem respondeu. Começou a mexer nos CDs à venda, com os dedos trêmulos e encontrou o tal CD, com a tal música. “Eu quero ouvir Tentei te esquecer”. Era a voz ameaçadora do Panisset. “Sim senhor”, a trêmula do menino.
Segundos depois, ecoava pela rua a música do Teodoro e Sampaio. Todo mundo que tava no bar estava em silêncio. Provavelmente vários deles tinham vontade de esmurrar o “branquelo do tenente”, mas quem ousaria falar alguma coisa????? O mais divertido de tudo foi a ordem do Panisset, antes de embarcar na viatura de volta: “Toda vez que eu passar aqui, você vai colocar essa música bem alta. Se eu ouvir qualquer outra música, eu levo você preso e destruo todos esses CDs aí. Ta entendido?”. Mais uma vez eu ouvi o sussurro de “sim senhor” do menino.
E esse foi só o começo de uma noite looonga de diversão. Pra onde quer que o tenente mandasse o motorista levar a viatura, o Botelho fazia questão de cortar – ou encompridar – caminha e passar pelo menos na esquina do bar. Dava uma ligeira paradinha e víamos o menino todo enrolado, trocar rapidinho o CD e aumentar o volume. De onde as viaturas estivessem, dava pra ouvir a voz do Teodoro: “Tentei te esquecer, não deu. Pensei que fosse mais fortí que esse amor! Oh, minha paixão...”.
Isso aconteceu pelo menos até o menino desistir de ouvir a música, recolher tudo e ir dormir...
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