sexta-feira, maio 09, 2008

*Exercício desconfortável


Mudar: Trocar de aspecto, natureza; trocar uma coisa por outra; variar; remover de um lugar; deslocar-se de uma casa para outra; transformar-se.
Esses são alguns dos significados de uma palavrinha que assombra a cabeça de muita gente. Mudar ou mudança. Para uns é novidade; para outros é dor. Há pessoas que vêem nessa palavra um novo sentido para a vida, novos rumos, novos ares. Outras sentem ameaça, têm medo, não querem sair da zona de conforto.
Mudar é o próprio sentido da vida. Mudamos a cada segundo, desde que nascemos. Trocamos de células, de tecidos, desenvolvemos nossas capacidades motoras, engatinhamos, andamos. Aprendemos a falar. De gugu-dadá avançamos para papai, mamãe, angu e daí para a frente não paramos mais de absorver as mudanças que a vida nos apresenta dia após dia.
Das transformações naturais, passamos a ser, digamos, empurrados às mudanças propostas e impostas, nas mais diversas situações, sejam elas familiares, profissionais ou de qualquer tipo de relacionamento. Um casamento, um filho, outro filho, o casamento que acaba, viver sozinho, outro casamento. Um emprego novo, ser demitido, um cargo novo, mudanças na estrutura organizacional da empresa, uma nova equipe, um novo chefe, um novo subordinado. Entrar para a faculdade, formar-se, fazer uma pós-graduação, mestrado, doutorado. Tudo na vida propõe mudança, quando tomamos qualquer decisão ou quando a vida decide por nós. E podemos optar por mergulhar nesta aventura ou ficar parado, cristalizado de medo, esperando ser engolido pelo destino.
Piração?
Parece que sim, mas a própria psicologia nos explica que toda mudança pode significar algo como uma morte. Porque é uma fase, um tempo que definitivamente não volta mais. O fim de uma vida, para começo de outra. Acabou, perdeu, e perda é morte, e quem não tem medo da morte? É daí que surgem sentimentos próximos ao pânico que chegam a levar muita gente aos consultórios psiquiátricos para longos tratamentos químicos, que vão ajudar o cérebro a concatenar as idéias, de acordo com as novas perspectivas.
É só olhar para dentro ou para o lado e nos deparamos com essa realidade crua, ou cruel. A vida nos coloca diante de situações de mudanças das mais variadas formas e isso é sempre positivo, claro. Mas, muitas vezes somos forçados a mudar a partir da perda de um ente, de um casamento desfeito, o que costuma ser muito doloroso. A vida nos aperta, nos coloca contra a parede, como se dissesse: “É sua chance de se tornar uma pessoa melhor”. E agora, aceito ou não? Em todo caso é uma grande oportunidade de abraçar o novo, seja qual for o jeito que se apresente, e sorver até a última gota.
Por outro lado, volto à questão lá de cima, o medo de sair da zona de conforto, da comodidade, da fantasia criada para escamotear inseguranças, incapacidades e incompetências. “Enquanto estou aqui, debaixo do tapete, ninguém vê a verdadeira sujeira que eu sou”. Quem não conhece alguém assim? Cá pra nós, aqui no pé do ouvido, se já temos problemas demais a enfrentar com nossas próprias mudanças, o que acha de alguém assim ao seu lado? Ninguém merece!
O 'transformar-se' não é nada fácil pra ninguém, ao contrário. A reforma íntima, a constante mudança interior que nos abala pra frente é um processo natural, mas nos mobiliza a pensar, a exercitar o raciocínio, a inteligência. Nos coloca frente a frente com a ética, a moral, a decência e o respeito próprios e com os outros.
Transformar-se significa fazer um esforço além do impossível para não ficar para trás, parado, escondido na acomodação, enquanto a vida corre e as outras pessoas lá fora evoluem. É um movimento difícil, requer desprendimento e não é qualquer um hoje em dia que está a fim de se desprender seja lá do que for. Mas, acredito que vale a pena, senão, não estaria aqui, escrevendo, crendo, fazendo planos, esperando por um futuro que não existiria sem mudanças.

*Publicado originalmente em
Sentidos ~ Giovana Damaceno


*Sindicato dos Metalúrgicos tira dinheiro dos aposentados

Quando aposenta, a última coisa que o trabalhador lembra é providenciar o seu desligamento do Sindicato. Na verdade nem precisaria pedir, pois os sindicatos não podem descontar mensalidades de aposentados. Porém, o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, por exemplo, continua descontando em silêncio e faz questão que o aposentado nem se lembre daquele pequeno desconto – hoje R$7,00 por mês. Como o valor é pequeno, o aposentado também vai deixando para depois.
Assim os anos vão passando e o sindicato vai fazendo um caixa extra com o dinheiro dos aposentados. Cada mil distraídos deixam no sindicato R$7 mil reais por mês. Como o desconto incide também sobre o 13º salário, soma a bagatela de cerca de R$91 mil reais por ano. Não é nada, não é nada, paga o salário do advogado, que aliás, mantém em mãos toda uma papelada para brigar até o fim, evitando o desligamento do aposentado.
Os anos vão passando e, num dia de reflexão, ou quando o benefício começa a encolher, o aposentado percebe que paga aqueles R$7,00 em troca de nada. Então, dá uma passada no sindicato e diz que quer se desligar. A atendente da secretaria anota e diz que será providenciado. O tempo passa e, meses depois, o aposentado vê que o desconto continua. Programa a sua volta ao sindicato, já aborrecido, resmunga e sai com a promessa de que o pedido será encaminhado.
Essa estratégia é uma covardia inominável. O aposentado se irrita e, tempos depois, faz o pedido por escrito, pede recibo e ameaça o sindicato. Acredite, vai ficar aguardando muito tempo, pois o sindicato sabe que um aposentado vai pensar 10 vezes antes de solicitar o seu desligamento na justiça, mesmo porque isso seria um caso extremo. O sindicato continua descontando e só vai fazer o desligamento na justiça. Então, só depois de anos de tentativas, negativas e embromação, o aposentado se encoleriza de vez e decide pedir o desligamento na justiça. Por se tratar de um direito líquido e certo, presume-se que não há demora na decisão. Agora o aposentado aguarda mais tranqüilo.
Só o aposentado não sabe. O sindicato sabe que a justiça tarda, conseqüentemente falha, propiciando ao sindicato continuar tirando mais dinheiro do aposentado. Depois das escaramuças legais, promovidas pelos advogados do sindicato, cada uma custando meses de espera, enfim acontece uma audiência e o sindicato é condenado a lhe devolver os últimos 5 (cinco) anos de contribuição e, acredite, insiste em fazê-lo em parcelas. Nessa hora o reclamante chega ao limite, não consegue acreditar na proposta. A partir daí não faz mais questão de valor algum, ele quer resgatar o seu direito de decidir sobre o que fazer com o seu miserável benefício. Então percebe que o investimento do sindicato em embromação rende um bom dinheiro, pois muitos aposentados devem ser vítimas daquelas trapaças vampirescas.
Quer saber mais? Mesmo com o processo em andamento o sindicato continua descontando a mensalidade, que só será cancelada a partir do mês seguinte ao da audiência, uma confissão pública do dolo. Se fizer as contas, o aposentado vai concluir que investiu alto e teve que ir às últimas conseqüências, para resguardar o seu direito de decidir sobre o seu dinheiro. Quanto ao sindicato, perdeu um, isso não é nada, vai continuar sugando o magro dinheiro de muitos aposentados e contando com a condescendência da justiça.


*Publicado originalmente em Vicente Melo Uol Blog

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