sábado, junho 07, 2008

Encontrei lá no Diário de Todos os Dias News

Sobre o MSN

Sempre odiei o que a maioria das pessoas fazem com os seus MSN’s.

Não estou falando desta vez dos emoticons insuportáveis que transformaram a leitura em um jogo de decodificação, mas as declarações de amor, saudades, empolgação traduzidas através do nick. O espaço ‘nome’ foi criado pela Microsoft para que você digite O NOME que lhe foi dado no batismo.

Assim seus amigos aparecem de forma ordenada e você não tem que ficar clicando em cima dos mesmos pra descobrir que ‘Vendo Abadá do Chiclete e Ivete’ é na verdade Tiago Carvalho, ou ‘Ainda te amo Pedro Henrique’ é o MSN de Marcela Cordeiro. Mas a melhor parte da brincadeira é que normalmente o nick diz muito sobre o estado de espírito e perfil da pessoa. Portanto, toda vez que você encontrar um nick desses por aí, pare para analisar que você já saberá tudo sobre a pessoa…

‘A-M-I-G-A-S o fim de semana foi perfeito!!!’ acabou de entrar. Essa com certeza, assim como as amigas piriguetes (perigosas), terminou o namoro e está encalhadona. Uma semana antes estava com o nick ‘O fim de semana promete’. Quer mostrar pro ex e pros peguetes (perigosos) que tem vida própria, mas a única coisa que fez no fim de semana foi encher o rabo de Balalaika, Baikal e Velho Barreiro e beijar umas bocas repetidas.

O pior é que você conhece o casal e está no meio desse ‘tiroteio’, já que o ex dela é também conhecido seu, entra com o nick ‘Hoje tem mais balada!’, tentando impressionar seus amigos e amigas e as novas presas de sua mira, de que sua vida está mais do que movimentada, além de tentar fazer raiva na ex.

‘Polly em NY’ acabou de entrar. Essa com certeza quer que todos saibam que ela está em uma viagem bacana. Tanto que em breve colocará uma foto da 5ª Avenida no Orkut com a legenda ‘Eu em Nova York’. Por que ninguém bota no Orkut foto de uma viagem feita a Praia-Grande - SP ?

‘Quando Deus te desenhou ele tava namorando’ acabou de entrar. Essa pessoa provavelmente não tem nenhuma criatividade, gosto musical e interesse por cultura. Só ouve o que está na moda e mais tocada nas paradas de sucesso. Normalmente coloca trechos como ‘Diga que valeuuu’ ou ‘O Asa Arreia’ na época do carnaval.

'Por que a vida faz isso comigo?' acabou de entrar. Quando essa pessoa entrar bloqueie imediatamente. Está depressiva porque tomou um pé na bunda e irá te chamar pra ficar falando sobre o ex.

‘Maria Paula ocupada prá c** ‘ acabou de entrar. Se está ocupada prá c**, por que entrou cara-pálida? Sempre que vir uma pessoa dessas entrar, puxe papo só pra resenhar; ela não vai resistir à janelinha azul piscando na telinha e vai mandar o trabalho pro espaço. Com certeza.

’Paulão, quero você acima de tudo’ acabou de entrar. Se ama compre um apartamento e vá morar com ele. Uma dica: Mulher adora disputar com as amigas. Quanto mais você mostrar que o tal do Paulão é tudo de bom, maiores são as chances de você ter o olho furado pelas sua amigas piriguetes (perigosas).

‘Marizinha no banho’ acabou de entrar. Essa não consegue mais desgrudar do MSN. Até quando vai beber água troca seu nick para ‘Marizinha bebendo água’. Ganhou do pai um laptop pra usar enquanto estiver no banheiro, mas nunca tem coragem de colocar o nick ‘Marizinha matriculando o moleque na natação’.

‘ < . ººº< . ººº< / @ e $ $ ! - @ >ªªª . >ªªª >’ acabou de entrar. Essa aí acha que seu nome é o Código da Vinci pronto a ser decodificado. Cuidado ao conversar: ela pode dizer ‘q vc eh mtu déixxx, q gosta di vc mtuXXX, ti mandá um bjuXX’.

‘Galinha que persegue pato morre afogada’ acabou de entrar. Essa ai tomou um zig e está doida pra dar uma coça na piriguete que tá dando em cima do seu ex. Quando está de bem com a vida, costuma usar outros nicks-provérbios de Dalai Lama, Lair de Souza e cia.

‘VENDO ingressos para a Chopada, Camarote Vivo Festival de Verão, ABADÁ DO EVA, Bonfim Light, bate-volta da vaquejada de Serrinha e LP’ acabou de entrar. Essa pessoa está desesperada pra ganhar um dinheiro extra e acha que a janelinha de 200 x 115 pixels que sobe no meu computador é espaço publicitário.

‘Me pegue pelos cabelos, sinta meu cheiro, me jogue pelo ar, me leve pro seu banheiro…’ acabou de entrar. Sempre usa um provérbio, trecho de música ou nick sedutores. Adora usar trechos de funk ou pagode com duplo sentido. Está há 6 meses sem dar um tapa na macaca e está doida prá arrumar alguém pra fazer o servicinho.

‘Danny Bananinha’ acabou de entrar. Quer de qualquer jeito emplacar um apelido para si própria, mas todos insistem em lhe chamar de Melecão, sua alcunha de escola. Adora se comparar a celebridades gostosas, botar fotos tiradas por si mesma no espelho com os peitos saindo da blusa rosa. Quer ser famosa. Mas não chegará nem a figurante do Linha Direta.

Bom é isso, se quiserem escrever alguma mensagem, declaração ou qualquer coisa do tipo, tem o campo certo em opções ‘digitem uma mensagem pessoal para que seus contatos a vejam’ ou melhor, fica bem embaixo do campo do nome!!Vamos facilitar!!!!

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Lavando a alma*

Não sei o que há com essa gente que não chora. Meninos que não choram e meninas que só choram na tensão pré-menstrual. Não é possível que não sintam. Não é possível que não dói. Não é possível que não sejam tomados por uma alegria sem fim, daquelas em que rir apenas não basta. Nem que tenham se vestido de uma armadura invencível, inatingível e inabalável, que não se permitam ter os olhos marejados.

Houve uma época em que eu achava que bom era ser essa gente que não chora à toa. Queria era me esconder por trás de uma cara amarrada e um coração de pedra. E não ser chamada de manteiga derretida por chorar até em comercial de margarina. Nos últimos tempos, até deixei que as lágrimas secassem e descobri que não chorar só faz aumentar a dor e deixa contidas felicidades extremas.

É por isso que vivo por aí chorando pitangas, alegrias, tristezas, raivas, medos, emoções alheias, coisas minhas, saudades eternas, frustrações prévias, sucessos passados, vitórias imediatas, amores inventados e desamores reais.

Prefiro desatar o nó da garganta e lavar a alma.

*Lá do Páginas Rasgadas

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Afinal, quem é louco?*


O mais famoso Maluco Beleza que conhecemos já dizia: “Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez”. Para quem achava Raul Seixas realmente um louco, nada de anormal nestes versos. Dizer que “enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual... Eu do meu lado aprendendo a ser louco”, chocou muitos ‘normais’, trouxe autoconhecimento para tantos outros e, principalmente, colocou pra pensar quem tinha algum conceito determinista sobre a loucura.
Afinal, quem são os loucos da nossa sociedade? Esquizofrênicos? Maníacos de todo tipo?
No mês passado, comemoramos o dia nacional de Luta Antimanicomial. Felizmente já há muitas vitórias conquistadas, mas falta vencer o principal vilão: o preconceito. Os malucos sempre foram vítimas dentro da própria família (ou da maluquice da família). Eu mesma ouvi de um psiquiatra anos atrás a história de uma mulher, que conheci pessoalmente. Na época ela já passava dos 80 anos e era a mais antiga ‘moradora’ do sanatório de Vargem Alegre, distrito de Barra do Piraí/RJ, onde era chamada carinhosamente de Xerife pelos amigos, médicos, enfermeiros e funcionários. A doença: tentou fugir de casa, aos 16 anos, por amor. Com tanto tempo de internação, claro, perdeu a razão.
Na maioria dos casos era assim. Qualquer comportamento irregular era motivo para que os familiares encarcerassem seus loucos, por não saberem lidar com o problema, por vergonha, por medo. Alcoólatras, viciados em drogas, epiléticos, ou simplesmente adolescentes apaixonadas, como Xerife, lotaram durante muitos anos os manicômios, pois trancafiados e dopados, escondiam a incompetência da família.
Não recebiam tratamento adequado, claro. Foi a época que os psiquiatras eram praticamente torturadores, num sistema que reprimia a cidadania e a dignidade. Os pacientes eram ‘medicados’ com choques elétricos na cabeça e as temidas injeções de ‘entorta’ (Anatensol). Depois da cruel agulhada, eram isolados na solitária, uma cela minúscula, escura e fétida, onde grunhiam e se contorciam por horas, “para ficar calminho”, diziam os enfermeiros.
Tudo o que conto aqui presenciei quando fiz estágio numa extinta clínica. Foi lá que descobri o que não deveria aprender para exercer a profissão de Técnica em Enfermagem. E me lembro muito bem de não ter convivido com loucos. Conheci, sim, pessoas doces, com sangue nas veias e coração batendo, assim como qualquer ser humano livre, ‘normal’.
Hoje me pergunto: o que é ser normal? O que é ser louco? O pai que atira a filha de cinco anos pela janela do sexto andar? A mãe que joga seu bebê recém-nascido num lago? Filha que mata os pais? O conhecido meu que mata filhotes de gatos a pauladas? O pai que manteve a filha presa, a quem estuprou durante anos e ainda teve filhos com ela? O milionário que pagou uma fortuna para fazer uma viagem espacial? O padre que tentou voar em balões de gás e não voltou? Louca sou eu, que acredita em gente louca, como eu.
A Luta Antimanicomial está aí há mais de 20 anos, tentando sensibilizar o estado e o governo a implantar sistemas que substituam as antigas torturas dos sanatórios por tratamentos dignos e éticos nos serviços de saúde pública. Segundo dados do Fórum Paulista de Luta Antimanicomial, ainda hoje há mais de 60 mil pessoas encarceradas em hospícios no Brasil, em condição de descaso e abandono, trancadas, mas não tratadas. Como se o país se dividisse não por estados ou municípios, mas por séculos – algumas regiões no século XXI, outras no XIX, e ainda outras no século XVIII.
Felizmente vemos aqui por perto as clínicas fechadas e projetos como a Estação Mental, de Barra Mansa, e Usina dos Sonhos, de Volta Redonda, tentando dar o acompanhamento correto a esses pacientes, chamados de usuários. Fico feliz e emocionada ao ver a Banda Mágicos do Som, por exemplo. É gente ‘normal’ tocando e cantando para nós, loucos: “Preconceito é besteira, seja de raça ou de cor, seja de perto ou de longe, o que vale é o amor”.

* Esse é lá do Sentidos ~ Giovana Damaceno

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