sábado, outubro 18, 2014

O 18 de outubro sem ela

Comecei a escrever este texto um mês atrás. Não por falta do que dizer, mas por sobra. Sim, como sempre houve muito a ser dito, decidi que começar bem antes me ajudaria a colocar as ideias em ordem. Um pouquinho cada dia, pra que tudo de importante fosse lembrado, mesmo surgindo importâncias a cada dia.
Confuso, eu sei.
No ano passado, ela voltou de São Paulo, pra reunir-se com os amigos. E foi o que fizemos. Acho que eu só vi tanta gente reunida em um aniversário dela, mais de 20 anos atrás, quando ela completou 15 anos.
Se soubéssemos que seria o último aniversário que a teríamos perto, talvez tivesse sido diferente. Ou não.
Menos de 50 dias depois ela nos deixou. Inacreditavelmente nos deixou.
E cada minuto depois disso foi difícil, arrastado, lento e sofrido. Como só Deus sabe. Mais doído pra uns, como nossos pais, nossa avó e os nossos amigos. Sim, os mais chegados ainda choram ao falar dela.
A partir daquele dia 5 de dezembro, tudo ficou mais complicado na minha vida. Era tão mais fácil viver quando ela estava por aqui, que hoje dá vontade de pedir ajuda pras pessoas, questionar como é que se vive quando alguém tão importante não está mais neste mundo.
Logo de cara eu demorei a entender que não precisava mais manter o apelido dela na agenda do celular e que não, eu nunca mais veria a chamada dela piscando e ouviria ela me dizer: "Irmããããa!".
E  não demorei pra entender outro monte de coisas...
Tipo que eu não iria ter mais a quem pedir ajuda pra corrigir algum erro (qualquer erro, que fique claro), ou dicas de pratos diferentes, que me ajudassem a sair da "mesmice" em casa. Ou que o o meu aniversário deste ano não teria o bolo feito por ela, ou que a decoração da minha casa não iria mais contar com o toque e as ideias dela. Também que o 18 de outubro deste ano seria um dos dias mais difíceis dos últimos meses. Isso eu não tinha entendido até essa semana.
Tem coisas, que ainda não deu pra aceitar. E não to falando de entender o porquê das coisas acontecerem. To falando de muito mais simplicidade. Exemplos? Como é que eu vou fazer pra criar a minha filha ou filho, sem que ela esteja por perto, pra socorrer em cada dúvida. É, porque, embora ela nunca tenha tido filhos, sabia exatamente como agir, como se tivesse toda a experiência do mundo.
Como é que eu vou contar pra eles sobre a nossa adolescência, as músicas que criamos juntas e ainda pipocam na minha mente? E como é que eu vou explicar a calma que eu sentia quando ela cantava: "Perdi meu anel no mar..." ou "Garibaldi foi cedinho à missa, galopando um cavalo sem espora...". Não, não tem como entender. Vou ter que esperar pra saber como vai ser. O que eu vou sentir...
Não sei o que vou sentir quando voltar a Morro Azul. Não fiz isso de novo. Por medo, talvez. Não sei. Não sei como vou agir quando vir outras pessoas morando  na casa que ela desenhou, calculou, cuidou de cada detalhe....
E quando vir o lugar que foi dela por tantos anos, ocupado por outra pessoa (não que isso importe de verdade), tenho certeza de que vai dar saudade de tudo o que a gente viveu, todos os problemas que a gente compartilhou, cada conversa que varou a noite, todas as alegrias, erros. Saudade, pra dizer o mínimo.
Por outro lado, consola-me saber que ela se foi sem ter absoluta certeza de que algumas pessoas que a cercavam não a queriam tão bem como nós. É, infelizmente. Pior pra nós, que ficamos aqui, constatarmos isso tão logo ela se foi...
Há ainda as situações com as quais eu nunca, jamais, em tempo algum, vou conseguir conviver. Como a dor dos nossos pais, que só se renova a cada dia. Ou a dor nos olhos de quem ouve o caso dela, mesmo sem nunca terem visto-na. Como conviver com as lembranças? E com a falta de conselhos? E com aqueles "tenho uma pra te contar...".
Não sei como vai ser.
Mas sei de uma coisa... que Deus está nos fortalecendo a cada dia, porque se não fosse Ele, já teríamos sucumbido. Sei também que Ele tem planos insondáveis, que não temos que entender, apenas viver.
E sei também que o hoje era pra ser todo dela. E não será.

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