sexta-feira, agosto 03, 2007

Jorjão é mal - A Missão

Os carros pretos pararam. A voz do Panisset anunciando a abordagem e, do nada, um homem que vinha acompanhado de duas mulheres, em direção ao “acontecimento”, virou-se e saiu em “desabalada carreira” (a propósito, não gosto desse termo, mas achei que caberia aqui....). Alguns policiais começaram a dar tiros pro alto para tentar evitar que tivesse início uma fuga generalizada. Outros, atiravam em direção ao homem que corria. Era tiro que não acabava mais! Tiros que ninguém podia imaginar de onde vinham nem para onde iam.
Rapidamente o Panisset e o Jorge, que estavam afastados das pessoas sendo abordadas, saíram atrás. Num pique que eu não conseguia imaginar se algum dia eles conseguiriam parar, com as pistolas em punho, atirando sempre que podiam e não colocavam em risco a segurança de outros.
A única coisa que me lembro ter feito foi gritar pra Cíntia correr atrás. Nessas horas a gente só quer o flagrante, nem pensa no tamanho do sacrifício.
Hoje, as imagens gravadas falam por si. Dá pra ver com clareza. Em certo momento, o Jorge correndo, o Panisset correndo e gritando: “Pára! Pára que vai ser melhor pra você!”. E o cara nada de parar. A impressão que eu tenho hoje, assistindo as imagens, é de que aquela perseguição não ia acabar nunca e a Cíntia, que tava lá correndo junto, diz o mesmo. O caso é que quando a gente imagina isso, acontece o inesperado (é, porque só seria previsível se fosse eu que estivesse correndo na frente).
Três quilômetros depois do começo da Cooper, digo, da perseguição, como um pedaço de pau, cai no chão o perseguido (huahuha!!). O Panisset já tinha parado de correr e tava uns 800 metros atrás, colocando os pulmões para fora. O ritmo da corrida era tão intenso que o único sobrevivendo, o Jorge, demorou pra entender que o cara tava caído no chão, exausto. Quem vir a fita vai entender isso que eu to dizendo! Não era São Silvestre nem atletismo em último dia de Pan, mas o Jorge simplesmente pulou o corpo do cara e continuou correndo. Ta bom... eu sei que ele continuou correndo pra não parar bruscamente. Ele sabe que isso faz mal à musculatura.
Ele correu mais uns 50 metros à frente, olhando pra trás, como se quisesse dizer: “Calma, já to voltando”. Quando parou, teve que voltar correndo, antes que o fujão recobrasse o fôlego e voltasse à maratona.
O homem foi imobilizado, algemado e revistado. Daí veio a surpresa maior. Ele não estava armado e não havia nada sob seu poder que justificasse toda aquela correria. Os policiais perguntaram se ele havia jogado a arma fora durante a fuga e ele disse simplesmente: “Só falo na presença do meu advogado”.
Sabe o que isso significa? Confissão de culpa. E o que se faz nesses casos? Leva o cara pra DP, algemado, no cubículo da viatura. Sem chororôs. Sem reclamação.
Ta bom. Meia hora depois, eu já tava quase ligando 190 pra denunciar o sumiço dos três, mais o fugitivo, quando aparecem os dito cujos.
O cara, todo sujo de terra. O Jorge segurando as mãos algemadas dele. E o Panisset.... Ah, o Panisset vinha junto esbravejando como um louco, muito puto da vida por te corrido tanto e o cara não estar nem com uma “arminha”.
Ta bom. Embarca o cara no cubículo e bora pra DP.
Quando as viaturas do Bope adentraram o pátio da 20ª Delegacia, parecia que a Fagama tinha sido transferida de local.
Como não tivesse entendido nada, o Panisset me autorizou a puxar todos os meus fios, ligar todos os meus spots, montar todos os meus paus de luz para filar o fujão saindo da viatura. Eu sabia que se não houvesse nada contra o cara, eu nem poderia usar as imagens, mas não podia também correr o risco de perder a chance. E se ele fosse um assassino em série procurado na Inglaterra? Ronald Biggs era, ow!
T
a.
Estamos no liga-liga na delegacia, quando eu entendi pelo zunzunzun que a Fagama na DP era, na verdade, toda a família do corredor, que tinha sido acionada por alguma espécie de rádio e tava lá, pronta para defender o pobrezinho.
Até aí, nada demais. Eu percebi quem eram eles antes de eles perceberem quem era eu. E não demorou muito para que percebessem. E depois que perceberam, queriam impedir o meu auxiliar de terminar de montar o circo, digo, de ligar todas as luzes, queriam que a Cíntia (com toda a brabera que eu falei dela no começo do post) parasse de filmar.... e mais um monte de “queriam”.
E é neste momento que todo mundo vai entender o título deste post!!! Entrou em ação o cara que, até este momento, era chamado de Jorge (porque a partir deste ele começou a ser chamado de Jorjão é Mal). Antes que o cubículo da viatura fosse aberto, e o fujão fosse visto, “baixou” o novo homem no meu amigo!
“Minha senhora, o cidadão vê a polícia, foge, faz a gente correr meia hora atrás dele, tenta nos agredir a nós, homens de bem que zelamos pela sua segurança, se irrita quando a gente pergunta se ele dispensou alguma substância ou objeto de uso proibido, e quando a gente chega na delegacia, ainda tem que aturar a mãe dele, querendo impedir o trabalho da imprensa? Ora, me poupe. Se quer reclamar, procure a justiça contra ela. O nome dela? É Flávia Anastácio e provavelmente a cara do seu filho vai estar na Rede 21 amanhã, entre 13 e 14 horas. E se quer processar a algum de nós, estes homens da lei que só querem zelar pela sua segurança, o caminho é a Corregedoria. Quer que escreva?”
Quem ta lendo essa citação não tem noção da transformação no rosto do Jorge. Sério! Ele é um cara centrado, de olhos verdes compenetrados que quase nunca sai do sério. Pelo menos nunca tinha saído, não na presença de mó galerão.
Ele falava com uma autoridade e um tom de voz inacreditáveis. Tão inacreditáveis que quando ele terminou de pronunciar o “quer que escreva?”, a mulher já tinha dito “não senhor, desculpa senhor” com os olhos.
Tudo ficou bem depois disso. É, porque o homem que tava no cubículo nunca tinha estado numa delegacia antes. Foi solto logo depois. A única coisa que ele teve que encarar foi a cara do Jorjão é Mal, com muita raiva, e a cara de todos os outros 15 homens do pelotão. Cada um tinha um motivo, mas é fácil supor qual o motivo da maioria: explicar o destino das cápsulas deflagradas no tiroteio da noite.

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