Mais uma ronda como outra qualquer. O fato de a nossa equipe estar acompanhando o 3º Pelotão de Patamo já não era novidade. Nem pra gente, nem pros policiais e nem pra comunidade... que depois de nos vir sempre colados numa equipe de polícia, já até procurava o carrinho do Barra para ver se teria a oportunidade de ver a gravação de alguma matéria pra TV.
Era noite de sexta-feira e a bola da vez era a cidade do Gama, distante 40 quilômetros de Brasília. Não consigo me lembrar o mês, mas sei que era o fim de semana de uma festa tradicional na cidade, dessas que param as ruas, trazem cantores que congestionam todo o trânsito seis horas antes do início do show... e daí pra lá.
Quando chegamos à cidade, por volta das 9 da noite, os rádios das viaturas pretas do Patamo, comandadas pelo Panisset, um amigo pessoal, copiou uma informação comum naqueles lados (e muito mais em dia de festa). Alguém havia denunciado ao 190 que teria um camarada armado circulando pelo centro da cidade.
A minha cinegrafista era a Cíntia... uma garota loura, braba que só, goiana do quadradinho sem tirar e nem pôr, que agüentava os sete quilos da BetaCam no ombro numa boa. Isso aí pra não dizer que chamava a atenção de todo mundo... por ser loura, por ser mulher, por ser cinegrafista, por ser inteligente, bem humorada... essas coisas que eu exijo de quem anda comigo (eheheh). Como soubemos que havia alguém armado e as chances de os homens do Patamo o descobrirem rapidamente eram enorrrrmes, eu avisei pra ela: “Cíntia Maria, encosta a BetaCam e usa a câmara portátil, pra gente não perder nenhum lance”.Eu sempre fazia isso quando havia a possibilidade de algum flagrante. A Beta é pesada, grande, desconjuntada e a qualidade da imagem é baixíssima quando não há iluminação artificial. Naquele caso, este era o caso. Era noite e nós não teríamos chance de iluminar nada com os spots caso houvesse algum flagrante.
Pois muito bem. A C. pegou a camerazinha, sentou-se no banco do carona do carro da equipe e pôs-se a filmar todos os passos dos homens do Patamo. Eu tava no banco de trás da viatura que ia na frente de todas, a viatura do tenente, comandante da operação. Estavam nela além do Panisset, o Botelho ao volante, o Jorge – amigo de todas as horas – atrás do tenente e o Fábio Soares atrás do motorista. Eu, entre os dois, sacolejando pra cá e pra lá conforme o Botelho dirigia com emoção (sempre que eu tava ali ele preferia dirigir com emoção....).
Os caras abordaram um tantão de gente. A denúncia era de que haveria um cara armado. Se havia um cara armado, encontrar esse cara e apreender essa arma era o que devia ser feito.
Eu já tava me cansando de ouvir tantos: “Polícia. Nós estamos aqui para garantir a segurança dos senhores. Poderiam, por favor, encostarem-se naquele muro, com as mãos na cabeça e as pernas afastadas uma da outra, para que os meus homens procedam na revista?”. De vez em quando surgia uma novidade. Uma mulher que tava na rua, lá pelas duas horas da manhã, gritando e esbravejando: “Eu conheço os meus direitos! Homem nenhum põe a mão em mim!”. E o Panisset, com toda a calma e amabilidade que com certeza não lhe são peculiares: “Sim, senhora. Homem nenhum vai toca-la. Temos um PFem na guarnição”. E virava-se para a Altamira: “Mira, tem uma mulher aqui. Pode por gentileza, vir revista-la?”. Daí surgia do negrume da noite o maior contraste da face da terra. Uma mulher linda, maquiada, com as unhas perfeitamente feitas, os cabelos louros amarelos soltando por debaixo da cobertura e a farda preta. Ela dizia: “Sim senhor, Tenente”, e virava-se para a mulher chata, que ainda estava meio boquiaberta: “Polícia. Nós estamos aqui para garantir a segurança da senhora. Poderia, por favor, encostar-se naquele muro, com as mãos na cabeça, para que eu proceda a revista? Dê-me a sua bolsa, ela também será revistada”. E todo mundo era revistado... a maior rotina. Bom era quando aparecia uma arma, um pouco de droga (os policiais sempre sabiam como chegar ao local onde tinha mais) ou um mane que se recusava a deixar-se revistar e o negócio lascava!
Naquela noite, porém, isso parecia que não ia acontecer.
O rádio continuava anunciando que outras pessoas haviam denunciado o indivíduo armado ao 190.
Tinha muita gente na rua. Se não me engano, a festa chama-se Fagama...
Às 2 da manhã, as pessoas pareciam ir pra casa. Andavam em bandos e iam quase todas na mesma direção: a do ponto final dos ônibus, onde provavelmente partiriam conduções para boa parte das cidades satélites.
Eu estava esperançosa. As viaturas andavam em comboio e todo homem armado que se preze, no mínimo, correria ao avistar as assustadoras barcas do Patamo. E era a isso que eu me agarrava. Eu falava isso sempre. “Ah, se correr, pode ir atrás que ele vai estar armado ou com coisa pior!”. Os policiais nem diziam nada. Eles me conheciam e sabiam que eu não ia ficar quieta mesmo...
De vez em quando eu ligava pra Cíntia pra pedir que ficasse atenta, porque se estavam demorando a encontrar a arma, era porque a hora de encontra-la tava chegando. E invariavelmente ela dizia: “Ah, é fácil falar. O Edson não dá conta de acompanhar as viaturas! Eu só consigo filmar as abordagens atrasada!”. Na última vez que ela falou isso, eu parei tudo, fui lá e a embarquei numa das viaturas. Pronto, agora ela teria o lance inteiro, se é que esse lance viria realmente.
E dois minutos depois ele veio. Sem que ninguém esperasse.
Era noite de sexta-feira e a bola da vez era a cidade do Gama, distante 40 quilômetros de Brasília. Não consigo me lembrar o mês, mas sei que era o fim de semana de uma festa tradicional na cidade, dessas que param as ruas, trazem cantores que congestionam todo o trânsito seis horas antes do início do show... e daí pra lá.
Quando chegamos à cidade, por volta das 9 da noite, os rádios das viaturas pretas do Patamo, comandadas pelo Panisset, um amigo pessoal, copiou uma informação comum naqueles lados (e muito mais em dia de festa). Alguém havia denunciado ao 190 que teria um camarada armado circulando pelo centro da cidade.
A minha cinegrafista era a Cíntia... uma garota loura, braba que só, goiana do quadradinho sem tirar e nem pôr, que agüentava os sete quilos da BetaCam no ombro numa boa. Isso aí pra não dizer que chamava a atenção de todo mundo... por ser loura, por ser mulher, por ser cinegrafista, por ser inteligente, bem humorada... essas coisas que eu exijo de quem anda comigo (eheheh). Como soubemos que havia alguém armado e as chances de os homens do Patamo o descobrirem rapidamente eram enorrrrmes, eu avisei pra ela: “Cíntia Maria, encosta a BetaCam e usa a câmara portátil, pra gente não perder nenhum lance”.Eu sempre fazia isso quando havia a possibilidade de algum flagrante. A Beta é pesada, grande, desconjuntada e a qualidade da imagem é baixíssima quando não há iluminação artificial. Naquele caso, este era o caso. Era noite e nós não teríamos chance de iluminar nada com os spots caso houvesse algum flagrante.
Pois muito bem. A C. pegou a camerazinha, sentou-se no banco do carona do carro da equipe e pôs-se a filmar todos os passos dos homens do Patamo. Eu tava no banco de trás da viatura que ia na frente de todas, a viatura do tenente, comandante da operação. Estavam nela além do Panisset, o Botelho ao volante, o Jorge – amigo de todas as horas – atrás do tenente e o Fábio Soares atrás do motorista. Eu, entre os dois, sacolejando pra cá e pra lá conforme o Botelho dirigia com emoção (sempre que eu tava ali ele preferia dirigir com emoção....).
Os caras abordaram um tantão de gente. A denúncia era de que haveria um cara armado. Se havia um cara armado, encontrar esse cara e apreender essa arma era o que devia ser feito.
Eu já tava me cansando de ouvir tantos: “Polícia. Nós estamos aqui para garantir a segurança dos senhores. Poderiam, por favor, encostarem-se naquele muro, com as mãos na cabeça e as pernas afastadas uma da outra, para que os meus homens procedam na revista?”. De vez em quando surgia uma novidade. Uma mulher que tava na rua, lá pelas duas horas da manhã, gritando e esbravejando: “Eu conheço os meus direitos! Homem nenhum põe a mão em mim!”. E o Panisset, com toda a calma e amabilidade que com certeza não lhe são peculiares: “Sim, senhora. Homem nenhum vai toca-la. Temos um PFem na guarnição”. E virava-se para a Altamira: “Mira, tem uma mulher aqui. Pode por gentileza, vir revista-la?”. Daí surgia do negrume da noite o maior contraste da face da terra. Uma mulher linda, maquiada, com as unhas perfeitamente feitas, os cabelos louros amarelos soltando por debaixo da cobertura e a farda preta. Ela dizia: “Sim senhor, Tenente”, e virava-se para a mulher chata, que ainda estava meio boquiaberta: “Polícia. Nós estamos aqui para garantir a segurança da senhora. Poderia, por favor, encostar-se naquele muro, com as mãos na cabeça, para que eu proceda a revista? Dê-me a sua bolsa, ela também será revistada”. E todo mundo era revistado... a maior rotina. Bom era quando aparecia uma arma, um pouco de droga (os policiais sempre sabiam como chegar ao local onde tinha mais) ou um mane que se recusava a deixar-se revistar e o negócio lascava!
Naquela noite, porém, isso parecia que não ia acontecer.
O rádio continuava anunciando que outras pessoas haviam denunciado o indivíduo armado ao 190.
Tinha muita gente na rua. Se não me engano, a festa chama-se Fagama...
Às 2 da manhã, as pessoas pareciam ir pra casa. Andavam em bandos e iam quase todas na mesma direção: a do ponto final dos ônibus, onde provavelmente partiriam conduções para boa parte das cidades satélites.
Eu estava esperançosa. As viaturas andavam em comboio e todo homem armado que se preze, no mínimo, correria ao avistar as assustadoras barcas do Patamo. E era a isso que eu me agarrava. Eu falava isso sempre. “Ah, se correr, pode ir atrás que ele vai estar armado ou com coisa pior!”. Os policiais nem diziam nada. Eles me conheciam e sabiam que eu não ia ficar quieta mesmo...
De vez em quando eu ligava pra Cíntia pra pedir que ficasse atenta, porque se estavam demorando a encontrar a arma, era porque a hora de encontra-la tava chegando. E invariavelmente ela dizia: “Ah, é fácil falar. O Edson não dá conta de acompanhar as viaturas! Eu só consigo filmar as abordagens atrasada!”. Na última vez que ela falou isso, eu parei tudo, fui lá e a embarquei numa das viaturas. Pronto, agora ela teria o lance inteiro, se é que esse lance viria realmente.
E dois minutos depois ele veio. Sem que ninguém esperasse.
Continua....
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