domingo, agosto 05, 2007

Os "óvios" erros da nossa língua

Tô há um tempão ensaiando pra vir colocar um texto sobre esse assunto aqui. Primeiro porque já é praticamente um vício eu falar "óvio" em vez de "óbvio". De fato eu sei que é estranho, mas me faltava ânimo pra falar disso!
Mas hoje, tudo mudou!!!!!
Tô eu na pós, plena aula da Diva, sentada ao lado da Thaissa, à frente a Gina e da Márcia e atrás do Felipe e do André. Tá, até aí, nada demais.
Lá pelas tantas, o Felipe vem contar uma de suas histórias (inclusive foi por essas histórias que hoje eu entrei numa comunidade dele no orkut, criada por ele pra ele mesmo). O tema dessa (é, porque até sobre o surgimento do Mal de Parkinson nós já tínhamos falado) era a diferença entre "poblema" e "pobrema". Dá pra acreditar? Pois ele contou que tava num ônibus indo de algum lugar pra outro, e tava lá de butuca ouvindo os papos alheios, sem maldade, quando ouviu uma mulher perguntar à outra a diferença entre as duas grafias (corretas, diga-se de passagem).
- Cê sabe, fulana, qual a diferença?
- Ué. E tem? Eu pensei que fosse dois jeito de fala a mema coisa.
- Que nada! - certamente o olhar desta era de reprovação pra outra. E se ela tivesse percebido a atenção do Felipe à conversa teria soltado um "essa gente ignorante... cê vê, menino?", mas como não viu a atenção do nosso nerd, digo, do nosso amigo... - Tem diferença sim. Vou explicar. "Poblema é o de matemática, que a gente resolve na escola, tipo "Joãozinho tem dez figurinhas, rasgou uma, quantas tem agora?".
Enquanto ela falava, olhava para a sua interlocutora, tentando perceber sinais de que ela estava entendendo direitinho. E como percebesse, continuou sua explanação, agora sobre o significado de "pobrema".

- E "pobrema" é aquele que a gente tem em casa, com as criança, com o marido....
E acho que nessa hora o Felipe, engasgado, teve que descer do ônibus. Não, não pra desengasgar. Porque tinha chegado a hora de descer, oras. E antes que fique muito longe, tenho que explicar que a falta de érres, ésses e afins no diálogo das duas senhoras é bem pertinente. Pelo menos a meu ver.
Prosseguindo
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Depois que eu ouvi essa história tão fascinante, pensei que era a hora de vir explicar porque eu uso tanto o "óvio".
Vamos lá.
Tive uma secretária muito boa em Brasília. Boa mesmo. O nome dela... ah, não preciso dizer. Ela era boa demais. Sério. Dava conta do serviço com perfeição e competência inacreditáveis. É, inacreditáveis pra quem a ouvisse falar, porque era meio fraquinha de vocabulário...
Vou contar duas das coisas que ela sempre dizia, nunca houve quem a fizesse mudar!
Eu dizia: "Fulana, preciso que você levante pra mim os preços de folhas de papel ofício, tonner pra copiadora, cartucho pra impressora, cabo pro microfone e canetas bic azuis. Entendeu? Cheque esses preços pelo telefone mesmo e depois que estiver com os orçamentos, me passa pra eu te dar o dinheiro e você ir lá com o motorista, certo?". Invariavelmente ela dizia: "Certo, Flávia. Mais alguma coisa?". Eu dizia que não e nunca duvidava de que tudo estava certo mesmo. Ela sempre dava conta de atender aos meus pedidos! Desta vez não seria diferente.
Pois eu estava lá, envolvida com o trabalho após o programa ter ido ao ar, lá pelas cinco da tarde e entrava a B..., ou melhor, a fulana na minha sala com anotações nas mãos e sentava-se à minha frente e punha-se a falar um monte de valores.
Como eu sempre estava atarefada coma produção do programa do dia seguinte, demorava a entender o que ela tava dizendo e quando percebia, eu a interrompia. "Tá bom, querida. Você sabe que eu nem ouvi o que você disse. Por favor, diga-me somente quanto está custando o pacote de 500 folhas de papel ofício".
E nesta hora, vinha a primeira pérola deste post, dita pela minha eficiente secretária. Ela verificava os papeizinhos, olhava um e outro, digitava uns números na calculadora e dizia:
- Ah, Flávia... encareceu um pouquinho. Na nossa última compra estava mais barato. Agora está na faixa etária de ....


PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER! (Era eu sofrendo)
- Mas Bianca, eu já não te disse que faixa "etária" é de idade? Preços não podem ser faixa etária, querida.
- É, mas eu não disse isso. Você já me ensinou e eu aprendi.
- Disse sim, Bianca! Você disse (escapuliu o nome dela pelos meus dedos... no calor da discussão eu não dei conta de impedir!). Eu ouvi perfeitamente. Você disse na faixa "etária" de nem-sei-quantos reais, porque eu parei de ouvir depois de "etária".
Aí, exatamente neste momento, vinha a segunda pérola dita deste post dita pela minha secretária:
- Eu não disse! É "óvio" que eu não disse!
- Biancá! E eu já te disse também que não é "óvio", é "óbvio". Daqui a pouco você vai me dizer: que eu te disse que o meu nome é FRávia. Eu te disse? Disse que o meu nome é FRávia!"
E ela caía na risada, saía da minha sala para providenciar o material que tava custando na faixa etária de uns reais e eu ficava lá, rindo... óvio. Não era motivo pra chorar...
Pelo menos não até que chegasse o outro dia de compras e de novos orçamentos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Frávia ficou ótimo.Não deixe de compartilhar conosco estas pérolas. Bjus. Lú

Anônimo disse...

Fraquinha de vocabulário vc pegou leve né...rsss Faixa estária foi ótimooooo. hahaha Mas pensa bem, se não fosse a Bianca seu dia não teria tantas risadas. Bjinhos