ENDURO DE REGULARIDADE?*

Sim, é esporte radical. Mas você conhece as regras? Sabe como funciona? Pra começo de conversa, é possível dizer que, como o nome sugere, não premia o competidor que chega na frente, mas aquele que é mais regular. Não entendeu?

Bem, pra começar, a modalidade Enduro de Regularidade é dividida em categorias. Começa pelo Novato, tem Júnior, Sênior e Master, além de uma categoria para pilotos acima de 40 anos de idade, considerados experientes, chamada de Over40. A largada de uma prova dessas é feita com intervalos de vinte segundos entre um piloto e outro e a moto pode ser de qualquer cilindrada e uma de suas principais características é o fato de que o trecho a ser percorrido durante a competição é desconhecido.
Para que o piloto se localize geograficamente durante a prova, existe uma planilha para servir de guia, por isso é necessário um equipamento de navegação e essa navegação é feita pelo próprio piloto, ao contrário do que ocorre em carros, que trazem o navegador.
O piloto de moto tem um tempo para cumprir durante a prova e esse tempo é contado através dos postos de controle, os chamados PCs, que consistem em pessoas distribuídas em pontos distintos nos mais ou menos 120 quilômetros do percurso da prova e que têm a função de registrar o tempo exato que cada piloto passa pelo local. São mais ou menos vinte postos de controle. Cada segundo atrasado que o piloto passa por um PC, resulta na perda de um ponto e cada segundo adiantado, significa três pontos menos.

“Por exemplo, se o piloto larga às 10h 10 min e 20 segundos, no primeiro posto de controle você deve passar às 10h 35 min e 30 segundos. Se ele passa às 10h 35 min e 29 segundos, perde três pontos”, explica o piloto José Augusto Mendes Villar, de 44 anos, mais conhecido como Zé Tiro, campeão brasileiro de 2007. De acordo com ele, existe uma tolerância de cinco segundos para atrasado e a partir daí, começa a perder um ponto por cada segundo. Outra característica importante da prova é o baixo risco de acidentes.

Zé Tiro pratica Enduro de Regularidade no campeonato carioca há sete anos e foi campeão na categoria Novato em 2000, ficou na sexta posição na categoria Júnior em 2001, repetiu o sexto lugar na categoria Sênior em 2002, garantiu a terceira posição na Over em 2003 e a partir do ano de 2004 começou a disputar o Campeonato Brasileiro, ficando em sexto no primeiro ano, em terceiro lugar nos dois anos seguintes e com o lugar mais alto do pódio na disputa de 2007. O piloto já participou oito vezes do Enduro da Independência, a prova mais disputada do país, com cerca de quinhentos pilotos nas cinco categorias, e que neste ano percorreu, em quatro dias, cidades como Três Rios, Rio das Flores, Rio Preto, Juiz de Fora Lima Duarte e Barbacena, entre outras. O Enduro da Independência tem sua largada na cidade de Mariana em uma edição e em Ouro Preto na edição seguinte, cidades em que a idéia da Independência do Brasil se formou, devido à trilha do ouro.
Entre os amigos e conhecidos que praticam a modalidade esportiva, Zé Tiro destaca homens com idade superior a 65 anos. “Tenho amigos que com 67 anos continuam a praticar e falam pra quem quiser ouvir que não têm vontade de parar, que o esporte mudou suas vidas e pode mudar a de qualquer um”. Zé Tiro, durante a entrevista, destacou, porém, um ponto negativo na prática do Enduro de Regularidade: “Eu já andei por todos os estados e passei por lugares maravilhosos. E é aqui que este tipo de prova é egoísta: só quem curte essa aventura fantástica é o piloto”. É. Infelizmente.

* Texto publicado originalmente no Médio Paraíba

Flávia Anastacio é Jornalista