domingo, fevereiro 10, 2008

Eu Já sabia...

Essa foi exatamente a sensação que eu no final da noite de sábado, quando o povo começou a se juntar lá no Cana Café. Sério...
Bem, melhor eu começar pelo começo. Até eu me decidir por ir com as meninas e meninos ao Cana, pensei pelo menos 573 vezes. Sim, eu já tinha tido duas experiências ‘boatíferas’ na minha vida e nenhuma delas tinha sido agradável. Mas diante da insistência do povo, eu pensei: “não, não deve ser tão ruim assim. Tem um monte de gente normal que vai”. O problema é que nessa segunda parte do pensamento, escapou-me o fato de que não pode ser normal uma pessoa que toma Gardenal.
Beleza... fiz contato com Tathy e a pergunta dela foi assim: “Você, no Cana?”. Nessa hora era pra eu ter me dado conta do absurdo e desistido, mas respondi: “Sim. E você vai perder isso?”. Alguém, antes de saber que ela foi conosco, consegue imaginar a resposta dela? Acertou quem disse: “Por nada neste mundo”.
Confesso que quando cheguei, ainda cedo porque as meninas queriam se sentar, o local – minúsculo, diga-se de passagem – estava vazio. Nos sentamos e de repente eu olhei em redor e não consegui mais ver um espaço vazio. É... não havia mais nem um vão entre as pessoas que foram chegando. A música, ainda controlada por um DJ escondido nalgum lugar ali (muito bem escondido, tendo em vista o tamanho do lugar. Penso até que ele poderia estar na casa dele, controlando aquele áudio de um confortável quarto, através de um monitor, ligado a uma central conectada à internet. Não seria nenhum absurdo!), era bem alta. Até aí eu tava entretida olhando as pessoas se divertirem sem poder respirar nem se mover, mas como eu estava sentada (sozinha, porque o povo já tinha se levantado e tava se balançando ao meu redor, ajudando a lotar a parte superior do bar), não estava me sentindo muito importunada. Tava até me divertindo... a Flávia tentando, em meio ao barulho, contar pra Mot (OW... é assim que se escreve o apelido da Fernanda?) os detalhes da vaca que foi pro brejo, do sapo que caiu na água, do rato que roeu a roupa do rei de Roma... sei lá!, a Thais se divertindo com o namorado Glauco... coisas assim.
Eu até teria ficado ali, no lugar cheio, com música alta e gente que não sabe se quer ficar no claro ou no escuro, se o ambiente tivesse permanecido assim, com a música sendo controlada por algum DJ confortavelmente instalado num quarto longe – ou perto, quem liga? – dali.... o caso é quede repente a música eletronicamente controlada terminou e uma banda pôs-se a cantar. Era pra ser melhor, certo? É, certo. Teoricamente, as músicas tocadas ao vivo tendem a ser melhor. Pelo menos as pessoas gostam.
É... mas depois que a garota com roupa de oncinha (nada contra... nem a favor, obviamente) começou a cantar, eu não dei conta. De jeito nenhum no mundo! Até dei a ela a chance de cantar três músicas, mas ela foi infeliz nas três. Alias, se alguém me perguntar quais foram as três músicas, eu não vou saber responder, porque a voz da cantora era tão grave que não dava pra entender as palavras que ela dizia. Sério.... acho que lá pela última estrofe é que eu consegui perceber que já tinha ouvido aquela melodia e aquela reunião de acordes alguma vez na vida... mas mesmo assim não foi possível decifrar as palavras e, conseqüentemente, a música.
Como ela foi infeliz, alguém – que não estava lá – pode imaginar o que foi que eu fiz, meia hora depois de adentrar o recinto (pequeno, fechado, escuro e lotado)???? Não precisa arriscar... eu mesma digo. Este post, inclusive, é pra contar isso. Providenciei as chaves do carro da Thais.
Sentada ali, ouvindo a garota da roupa de oncinha cantando e vendo as imagens da entrevista da Zileide Silva com dois ministros da República – sim, dentro do bar tinha um telão no alto, transmitindo a programação da Globo On. Ah, pelo menos isso... – eu consegui ter forças pra premeditar: eu ia até o carro, pegava a chave da minha casa que tinha ficado lá dentro, voltava ao bar, devolvia as chaves da Thais e saía novamente pra liberdade. Pegava um taxi, rumava pra minha casa e pronto! Estava livre!
Na hora que eu cheguei à portaria, tive que avisar ao segurança que eu só ia até o carro, mas que voltaria em pouco tempo. O homem negro, de dois metros de altura me olhou, olhou pro relógio no pulso dele e tornou a me olhar: “Quanto tempo?” “Sei lá. Cinco minutos”. “Não mais que isso”. Gente.... eu tive vontade de dizer: “Ah, mermão! Seria um favor você não me deixar entrar. Pensando bem, você foi um grande Mané, otário de primeira grandeza, me deixando entrar da primeira vez. Porque você não me barrou e mandou que me internassem?”, mas achei que isso não seria de bom tom, e apenas pensei isso tudo. Ouvi-me dizer (como todo o meu jeito fino de ser): “Oh, se eu me atrasar, você só vai precisar pegar estas chaves (levante a mão esquerda e mostrei as chaves do carro da Thais) e entregar ao povo que ta naquela mesa” (abri um pouquinho a porta e mostrei onde as meninas e meninos estavam). Ele deve ter pensado: “Essa garota ta de TPM, não é possível! Ninguém pode ficar tão bravo num lugar como este”. Pela cara dele, acho que foi isso mesmo que ele pensou. Redondamente enganado, claro. Eu, de TPM ou não, estaria do mesmo jeito num lugar como aquele. Ao sair, vi que tinha uma fila de uns 20 metros, de gente tentando entrar. Com certeza não iam conseguir.... só cabia mais uma pessoa lá dentro (ta bom, duas!), que teriam que ficar no espaço vago que eu tinha acabado de deixar.
A porta do bar barulhento, fechado, lotado e escuro estava distante do carro da Thais exatos 133 metros. Eu fiz o trajeto tentando me lembrar o que eu estava fazendo ali e ouvindo todos os caras que estavam no meio do caminho me dizendo frases lindas. Cheguei ao carro, abri e me sentei. Peguei as minhas chaves. Já ia sair, quando me lembrei de toda aquela fila pra entrar. Eu ia ter de enfrentá-la só pra entregar as chaves da Thais e não me animei. Tinha, na verdade, duas opções: ou faria isso ou ficaria ali esperando que eles se cansassem e decidissem ir embora. Saco! Como a idéia de voltar ao bar escuro, lotado, fechado e barulhento me dava asco, decidi-me pela segunda opção.
Fiquei ali...... vendo gentes e mais gentes chegando para entrar no bar que minutos antes só cabiam mais duas pessoas (no máximo. E se fossem magrinhas).
Acho que fiquei ali uns três dias. É... foi quase isso. E se não foi, só pode ter sido porque os ponteiros de todos os relógios do mundo pararam. Só pra me sacanear.
Eu acredito e em Deus e os meus três leitores sabem disso. Ontem a minha fé aumentou ainda mais! Lá pelas tantas, alguém bate à janela do carro. Abro os olhos e qual não é a minha emoção ao ver o rosto lindo, lindo, lindo e nunca tão lindo da Tathy. Abri-lhe a porta e fui obrigada a ouvir: “Você já sabia que isso não era ambiente pra você. Viu? Só veio aqui constatar”. Eu tava tão infinitamente feliz por ela estar ali, que, mesmo sem saber o que ela tinha vindo fazer, eu quase pulei de alegria. Talvez se não estivesse sentada eu teria pulado.
Mais feliz ainda eu fiquei quando ela me disse que tinha vindo pra gente ir embora. Cacildes! Deus existe mesmo! E é meu amigo! Ela também, porque voltou ao bar escuro, lotado, barulhento e fechado e devolveu as chaves da Thais. Eu não precisei fazer esse sacrilégio!!!!
Bem, depois que saímos de lá, eu até que tava feliz. Ainda fomos comer lá na Vila, contando piada, rindo de tudo e sacaneando a mim mesma. Como assim, por quê? Porque qualquer pessoa normal de 30 anos sabe dos lugares que gosta e dos lugares que não gosta. Se bem que eu não sou tão normal assim...

Um comentário:

silvanamj disse...

Achei que só eu tinha detestado o barulho (que vc chamou de música) no Cana. Você tem trinta e eu estou chegando aos cinquenta. Uma fã, agora mais ainda, de vc.
SILVANA