sábado, março 20, 2010

Aula de sábado

Sim, gente... passa muito pouco das 5 e eu saí da faculdade faz muito pouco tempo. O caso é que a aula hoje foi tão boa, mas tão boa, que eu já saí da sala me programando para chegar e, de cara, antes de tudo, sentar aqui e relatar um pouquinho da experiência do dia.
Na verdade, a aula da semana passada, de Tecnologia Educacional, também foi boa, mas nada como a de hoje. Não vou escrever por horas pra não encher a paciência dos meus três leitores, e nem vou fazer dessa iniciativa de falar sobre as aulas uma regra... não fiz na última Pós e não faço com outras coisas...
A disciplina de hoje, Libras. É, Libras, a Linguagem Brasileira de Sinais. Boa parte do primeiro período da aula, antes do almoço, foi toda teórica. Nomes, estudiosos, Grahan Bell - que inventou o telefone acidentalmente quando tentava encontrar uma forma de fazer os surdos ouvirem, o alfabeto... essas coisas.
Ainda de manhã, recebemos a visita do Luiz, um surdo, que, além de extremamente simpático e comunicativo, ensinou vários gestos, expressões e formas de comunicações usadas pelos grupos de surdos. Sim, porque como há muita dificuldade de comunicação com os 'ouvintes' (é assim que eles se referem a pessoas que ouvem normalmente) com os quais não convivem, eles preferem manter relações intensas entre si, em grupos. Antes de ouvi-lo, de fato, eu já até tinha visto, várias vezes, grupos de surdos pela cidade. Em ônibus, pelas ruas, em praças... sempre se divertindo com aquelas conversas que só eles entendem.
Pois muito bem... à tarde, após o almoço, a aula foi dinâmica, 100%. Mais dois surdos estiveram conosco. Os dois são profundamente surdos (não escutam nenhum tipo de som), nasceram assim e, quando se casaram, optaram por uma cerimônia sem música, ministrada por um pastor surdo.
Ele terminou o primeiro grau numa escola regular e ainda não encontrou uma escola que tenha tradutores, para que ele possa, enfim, cursar a tão sonhada Informática. Ela, que só conheceu a linguagem de sinais (e com ela a possibilidade de comunicação) aos 21 anos, cursou uma Faculdade e hoje está lutando nas cidades da região pela volta das escolas especializadas em ensino para surdos, abolidas há algum tempo por aqui. Como a grande maioria dos surdos, lê a lingua portuguesa, mas tem grande dificuldade de entender as palavras. Conhece as letras, mas como nunca escutou o significado e nunca "viu" a palavra, não sabe o que significa.
Com ela, além de um longo bate papo sobre sua infância, dificuldade de comunicação e aceitação na própria família, problemas na escola, o término do curso com tantas deficiências de conhecimento, a experiência de dar aula e mais um montão de outros assuntos, nós também aprendemos os sinais que representam números. Ai, ai... que confusão...
Ao final do dia - produtivo, além de termos a mente um tantão mais aberta para o problema que os surdos (e provavelmente todas as outras pessoas que têm algum tipo de deficiência desta ou de outra natureza) enfrentam, um pouco da noção da realidade dura que eles vivem no dia a dia, saímos da sala também com uma vontade doida de unir um grupo aqui, outro ali, outro lá, para que todos, juntos, lutem para o retorno das escolas especializadas para surdos ou, quem sabe, uma revisão nessa chamada "INCLUSÃO SOCIAL", que só é louvável na teoria, porque na prática.... não tem o menor cabimento e não inclui os surdos. Ao contrário disso, os exclui, porque os coloca em situações com as quais não sabem lidar e, em quase todos os casos, não têm um resultado positivo.
A aula de hoje foi muito especial.
Eu sofri um bocado, claro, afinal, não sou muito boa com esse negócio de gestos.... mas acabei dando conta.

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