sexta-feira, outubro 22, 2010

A Visita

Gente, hoje de manhã eu tive uma experiência única. Acompanhei uma visita de um grupo de alunos à antiga fábrica da Volkswagen Caminhões e Ônibus, atual MAN América Latina. Eram vinte alunos e quatro professoras, além de mim e da Mary, minha querida fotógrafa que não tem mais nenhuma barriga. Nem uminha.
Pois bem. Até aí nada demais, certo? Certo. O ‘demais’ vem agora: as crianças e adolescentes estudam e moram na Comunidade Remanescente de Quilombo, no distrito de Santana, em Quatis.
O que fez aquelas duas horas serem mais lindas foi exatamente isso: o fato de que aquilo ali – nada, pra muitos de nós e tão comum na realidade de tantos – é tudo do que eles jamais ouviram falar.
Desde que entramos no ônibus, era fácil perceber a excitação de todos eles diante da simples expectativa de se distanciarem tanto do local onde moram.
Durante o trajeto, a atenção voltada para cada detalhe era admirável. E em ‘cada detalhe’, entenda-se tudo mesmo: os carros na rodovia, os ônibus de viagem que passavam por nós, as pessoas nas ruas, as empresas que estão instaladas no caminho. Dentro da cidade, então... o número de carros estacionados no pátio da fábrica da Peugeot Citroën arrancou suspiros inacreditáveis e comentários que eu jamais imaginei ouvir.
E isso tudo ainda era só o começo, nem tínhamos chegado ao local da visita. E quando chegamos, a minha admiração por cada um deles e pelo momento que eu ajudei a proporcionar foi ainda maior. Como fosse possível.
O lanche da entrada, a caminhada pelas dependências sociais da empresa, a linha de produção, todas aquelas máquinas, os empregados olhando, dando ‘bom dia’, sorrindo e perguntando de onde eles tinham vindo...
No olhar de cada um, uma mistura de sentimentos indecifráveis. Admiração, curiosidade e alegria, misturados com excitação e medo. Adiciono aí, ainda, uma pitada de sonho, de vontade de trazer tudo aquilo pra realidade deles.
Um sentimento – meu – indescritível. E não há demagogia nisso. Um dos meninos olhava tudo tão atentamente e gostou tanto do que viu, que na saída disse à professora Ana Lúcia: “Vou construir um caminhão quando chegar lá e mostrar pra todo mundo o que eu aprendi aqui, a senhora vai ver”. Eu quase não acreditei. E a professora Ana Lúcia, que dá a vida por aquela turminha, chorou de emoção. Aliás, a Lívia, funcionária do Departamento de Marketing da MAN, que nos acompanhou na excursão, teve lá seus momentos de emoção, enxugando o canto dos olhos com as costas da mão.
E foi emocionante mesmo.
Eu estava ali para registrar a visita deles, pra, como recomendou o prefeito, “presenciar o olhar de cada um e depois transformar em palavras e colocar num texto”. Estou até agora tentando fazer isso, mas está sendo difícil. Não há palavras pra descrever aquelas duas horas.
Pra finalizar, o brinde que a empresa dá aos visitantes, que fechou tanta emoção, com chave de ouro. Nas fotos, um pouquinho de como foi lá.
Fotos: Mary de Paula

O que é Quilombola?
“Quilombola” é a palavra usada para designar os escravos
que fugiam de seus senhores e se refugiavam em quilombos. Também serve para a
referência a descendentes de escravos negros, cujos antepassados, no período da
escravidão, fugiram dos engenhos de cana-de-açúcar, fazendas e pequenas
propriedades onde executavam diversos trabalhos braçais para formar pequenos
vilarejos chamados de quilombos.
Existe no Brasil, mais de duas mil comunidades de remanescentes de quilombo. Algumas delas são muito atuantes e lutam pelo direito de propriedade das terras em que vivem. Este direito está previsto na Constituição Federal de 1988.

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