segunda-feira, maio 23, 2011

Ê lem casa...

Rocinha expande negócio e vira embaixada do pó*
Bandidos da favela fornecem coca para todas as facções e mantêm laços com Beira-Mar


Rio - Três inquéritos em diferentes delegacias do Rio correm em sigilo e apontam, pela primeira vez, estreita relação comercial de fornecimento de cocaína entre facções rivais. O laboratório que explodiu e feriu cerca de 10 pessoas na Rocinha, dia 11, abastecia bocas de fumo muito além de São Conrado. Investigações da Polícia Civil revelam trama que teve início em meados de 2009 e une dois irmãos fornecedores de drogas daquela favela ao maior traficante do País, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Os primeiros são da Amigo dos Amigos (ADA); o último, preso, é chefe do Comando Vermelho (CV).
Uma prova dessa parceria foi obtida sábado, quando a PM apreendeu, na Gávea, 25 quilos de cocaína. A droga, avaliada em R$ 400 mil, estava escondida no painel de carro que saiu da Rocinha com destino ao Parque União, no Complexo da Maré. Nesta favela vive Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, principal homem solto na hierarquia da quadrilha de Beira-Mar.

O plano foi idealizado por Saulo de Sá Silva, o Robinho, em meados de 2007. Na época, ele estava solto e seu irmão, Cristiano de Sá Silva, o Abelha, preso. Eles foram criados no Morro do Turano, no Rio Comprido, época em que integravam o Comando Vermelho. No ano seguinte, Saulo foi preso. Mas suas conexões já estavam estabelecidas. Carta de 2009, a qual O DIA teve acesso, apreendida pela Polícia Civil durante incursão na Rocinha em 2010, mostra que o elo entre facções estava sólido.
Beira-Mar não fala sobre atitudes criminosas. Mas demonstra carinho pelo pai de Saulo e Abelha, Jailame Jerônimo de Moura Silva, com quem esteve preso em 1992. Ali, o homem que era uma das principais lideranças do CV abria as portas para a conexão Rocinha e a facção Amigo dos Amigos (ADA).
Mas as portas se escancararam realmente no final do ano passado, quando Abelha fugiu da cadeia e passou a comandar pessoalmente as refinarias de cocaína montadas pelo irmão na Favela da Rocinha.
As investigações da Polícia Civil revelam que Abelha e seu braço-direito, Fábio Leite Ninho, vendem a droga para rivais do Mandela, Manguinhos e Jacaré — dominadas pelo CV —, e para Senador Camará, reduto do Terceiro Comando Puro (TCP). O negócio evoluiu tanto que havia até uma ‘representante comercial’: mulher levava provas semanais da droga para o chefão do TCP, Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, testar antes de comprar a mercadoria. A confiança cresceu a ponto de o filho dele frequentar bailes na Rocinha.

Traficante disfarçou letra

A carta de Beira-Mar para Saulo tem data de 27 de abril de 2009. Segundo três investigadores que durante anos devassaram a vida do megatraficante, o documento é autêntico: “É a forma de ele se expressar. E ainda fala do filho, na época em que foi preso. Minha dúvida é se ele ditou ou se tentou trocar a forma de escrever (costuma optar por letras de forma)”, explicou um agente. O criminoso remeteu a carta do presídio de Campo Grande (MS).

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