terça-feira, outubro 11, 2011

A lista de convidados

Estamos sentindo na pele tudo o que ouvimos a vida inteira sobre a dificuldade de organizar uma festa - pequena - de casamento. A parte mais difícil está sendo, sem sombra alguma de dúvida, a lista de convidados. Meu Deus! Justamente eu, que sempre disse que nesta hora,  quando ela chegasse, eu não teria dificuldade nenhuma em não incluir fulano, deixar sicrano pra lá e simplesmente ignorar beltrano.
Engano terrível... está sendo difícil demais. Amigos, colegas, conhecidos, companheiros de trabalho, família. Ai, como é difícil!
Zanzando pela internet hoje, encontrei no Blog da Folha uma crônica postada por Antônio Prata, que traduz com perfeita exatidão o momento de tirar um ou outro da lista. Olha só:

CONVITE DE CASAMENTO

Que que eu posso te dizer, Joana? Desculpa? Foi mal? Que você é uma amiga querida? Que eu te adoro? Mas de que adianta, agora que o casamento já passou e você não foi convidada?
 Joana, você não sabe a confusão que é organizar um casamento. Se eu fizesse tudo de novo, além de uma “wedding planner”, teria contratado um diplomata, um egresso do Itamarati, formado em acordos e desacordos comerciais em Davos, Doha e Washington, só para administrar as complexas relações envolvidas na produção da festa. Nas mãos do meu private Barão do Rio Branco, jogaria a mais espinhosa das tarefas: a elaboração da lista. Ah, Joana, o coração é grande, mas a grana é curta, as famílias são numerosas e como vamos espremer todo mundo debaixo do mesmo toldo, com o preço do metro quadrado?!
 Eu tinha cá pra mim que o casamento era uma celebração para a qual você chamava as pessoas mais queridas que havia trombado durante a vida. Antes de chegar nos prediletos, contudo, tem os obrigatórios. Família: tios, tias, primos, primas, maridos e esposas de todo mundo, do lado do noivo e da noiva. Só aí, Joana, já foram quase 60% dos bem-casados. Depois, vem o pessoal do trabalho. E o pessoal do trabalho antigo. Quando você vai ver, sobraram vinte convites pros amigos e uns trinta abacaxis no seu colo: quem é mais importante, o Pedro, que foi meu melhor amigo da primeira à oitava série, mas que hoje vejo muito pouco, ou o Marcos, que conheço há apenas seis meses, mas em cuja casa jantei na penúltima quinta? E como fazer pra chamar só três do futebol semanal? Se convidar um, tem que convidar os onze, que são vinte e dois, com as esposas, e vinte e nove, com os filhos. Joana, veja a que ponto cheguei: um mês antes da festa, ao saber que um grande amigo tinha se separado, sorri contente. “Vagou espaço pra mais um convidado!”
 Se isso serve de consolo, te digo que seu nome sobreviveu, incólume, a três carnificinas. E foi só no último corte da lista quando um tio avô de Pelotas resolveu convidar-se, trazendo com ele a tia avó e uma primaiada sem fim – que você saiu. Pois, Joana, por mais querida que você seja, há de entender: é uma amiga avulsa. Nos conhecemos naquele acampamento Carroção, em 1987. Era melhor tirar você do que partir uma turma ao meio, do que separar maridos e esposas, pais e filhos, laterais de centroavantes, compreende? Não, talvez você não compreenda.
Ah, Joana, se eu casasse de novo, desistia de chamar a turma do futebol, nunca mais aparecia pra jogar e chamava você. Pronto. Mas agora é tarde. Espero que, como reparação, você aceite esta crônica e o convite antecipado para as bodas de prata, a realizarem-se em junho de 2035, em local ainda a definir. Pode levar seu marido, seus futuros filhos e netos, caso os tenha. Desculpa, Joana. Foi mal. Você é uma amiga querida e eu te adoro. Que mais posso te dizer?

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