quarta-feira, janeiro 05, 2011

Hein?

Tem umas conversas que a gente não entende. E olha que eu não to me referindo àquelas que a gente escuta na rua, quando passa por duas pessoas. To falando daquelas das quais participamos. É, e tem conversa dessas que não tem pé nem cabeça. E aquelas perguntas que a gente só responde (e é entendido) porque estamos convencionados de que ela é correta. E, pra mim, essas conversas ocorrem, todos os dias, nos pontos de ônibus.
Quer ver?
- Você viu se já passou o ônibus Centro?
Eu posso responder "sim" ou "não". Se eu tiver visto passar ou não tiver visto. O que não quer dizer que o ônibus passou ou não.
Outra:
- Você pode me informar se o ônibus para o Centro passou?
A resposta pode ser "sim" ou "não" para a pessoa que pode ou não dar a informação.
Confuso... mas é assim que eu me sinto quando me fazem esse tipo de pergunta. Eu sempre dou duas respostas. À primeira, que citei ali (se eu vi) é: "Vi, sim. Não passou". Para a segunda, é: "Posso sim, passou". Quando sou eu, porque quando é a Laura... "não, não posso informar. Agora me deixa em paz", é a resposta mais educada que a pessoa que perguntou escuta.
E aconteceu uma coisa curiosa comigo ontem.
Eu tava (onde, onde?) na parada de ônibus, virada para a direção de origem dos veículos da via, e um ônibus (que não era o que eu ia tomar) parou para pegar passageiros. O motorista parou de tal forma que eu fiquei de lado, bem na direção da porta dianteira.
Chegou um homem e cometeu o primeiro erro: me cutucou. Sorte dele era eu que estava no meu corpo. Se fosse a Laura.... bem, mas isso não importa. Olhei e ele perguntou: "Que ônibus é esse?"
A Laura diria: "O senhor só pode estar de sacanagem. É só dar uma idinha ali, a dois metros e ler, mas como era eu... pensei e não consegui me lembrar o destino do ônibus.
Disse a ele: "Pra onde o senhor vai?". Ele não me pareceu zangado e respondeu: "Vista Alegre".
Eu: "Ah, não, este não é o Vista Alegre. O Vista Alegre é aquele ali atrás", e apontei pro ônibus que estava imediatamente atrás daquele.
Ele olhou para o motorista do ônibus e perguntou:
"Vai pro Belo Horizonte?", ao que o motorista respondeu: "Não, pra Três Rios".
O homem entrou no ônibus e foi embora.
Fiquei basbacada. De verdade! Vista Alegre, Belo Horizonte e Três Rios são exatamente Marrakesh, Cochinchina e Bagdad, geograficamente falando.
Tem noção do quanto pode ser sem noção esses papos de ponto de ônibus?
Na minha casa também acontecem essas conversas sem noção, mas não são tão conversas assim.
A minha mãe nos ensinou quando éramos crianças, que quando ela chamar pelo nome, nós respondermos e ela fizer silêncio, significa que o que ela quer é que nos desloquemos ao local onde ela está, e não que ela quer simplesmente falar uma coisa. Lembro-me de que ela só precisou dizer isso uma vez e, até hoje, quando ela chama e não responde à nossa resposta, quer que vamos aonde ela está. É lei.
O único problema é que, mesmo ela sendo mãe e todo o nhénhénhé dessa posição, isso muitas vezes enche a paciência. E chega a ser abusivo, acredita?
Dou um exemplo recente. Dia desses eu tava deitada pra dormir, tarde da noite, com a televisão desligada e tudo e ela me chamou. Pelo som da voz, percebi que ela estava na cozinha.
"Oi, mãe?", eu gritei, na esperança de obter resposta. Aliás, esperança que sempre esteve comigo desde bem pequena. Silêncio.
"Droga!", gritei bem alto, em pensamento. "To indo", respondi. É, falei mesmo.
Saí da cama, calcei os chinelos e fui. Ela estava mesmo na cozinha, fazendo não sei o que lá.
"Pega um prato pra mim?", ela pediu. "Como assim?", pensei de novo.
Virei e, a 3 metros dela peguei o prato e entreguei-lhe. Sim, armário estava bem pertinho dela, mas como uma pessoa que não dá conta de ficar nem dois minutos sozinha, fez questão de me chamar para fazer este imenso favor pra ela.
Como já não falo mais nada, porque não adianta, voltei pra cama depois do obséquio.
Tem ou não tem conversas e situações que a gente não entende?

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