sexta-feira, maio 13, 2011

Preconceito?

Eita assunto que anda promovendo discussões por aí. Negros, religiosos e homossexuais. Eu, assumidamente, tenho um tantão de cada um dessas "categorias" que andam na boca do povo. Negro, vou me casar com um. Religiosos, embora não seja uma por crer em Deus acima de qualquer religião como autor e consumador da minha fé, aos olhos dos outros, acabo sendo uma. E homossexuais compõem uma parte linda da minha lista de amigos e amigas. Então... eu amo a cada um deles. E amo mesmo. Como poderia eu, então, ter preconceito com alguma pessoa que faz parte de um desses grupos que eu citei ali na primeira linha?
Ta. Até agora, falei dos preconceitos que não tenho. O caso é que há preconceitos que eu tenho. Pronto, falei. Há e pronto. Se bem que eu não acho que a palavra certa nos 'meus' casos específicos, não seja 'preconceito'.
Vamos por partes.
Preconceito significa um conceito prévio. Uma afirmação, por vezes errônea, que as pessoas têm, baseadas em uma ideia falsa. Basicamente preconceito é isso, porque há muitas outras definições por aí. Eu uso esta, quando quero falar sobre isso.
Então vamos lá. Quando alguém muito próximo a mim, por exemplo, na hora da refeição, mastiga fazendo aquela barulhada louca. Eu com esse meu jeitinho desesperado de ser autêntico dou um jeito de dizer que aquilo é desagradável.
Posso ser chamada de preconceituosa? Alguém pode dizer que tenho preconceito em relação às pessoas que mastigam fazendo barulho? Não. Podem me chamar de muita coisa, mas de preconceituosa não. Por quê? Oras, porque a pessoa estava agindo de uma forma irritante, pelo menos pra mim, e eu não me baseei numa ideia falsa para pedir que ela tivesse um pouco mais de educação. Não tem nada de conceito prévio nisso. É conceito e pronto. Não tem nada de prévio.
Deu pra entender mais ou menos a minha ideia sobre o assunto, né?
E agora, então, dá pra eu expor melhor o objetivo deste post.
Ouvi um absurdo chocante. Sim, como não bastasse ser absurdo, ainda tinha que ser chocante.
E era baseado na seguinte ideia:
"Sim, você pode esquecer que na língua portuguesa existe plural. Basta que use o artigo no plural, para que, aos olhos de alguns especialistas e dos 500 mil livros de Português que o MEC distrubuiu em muitos municípios do país, baste".
É, provavelmente todos os meus três leitores acompanharam isso na edição de hoje do Jornal Nacional.
A autora do livro foi além. Usou um princípio da linguística chamado vernáculo, que diz que toda e qualquer forma de comunicação aprendida pelas pessoas é aceitável, desde que cumpra a função de comunicar, para dizer que esquecer o plural pode ser aceitável dentro da sala de aula. Para isso, o livro distruibuido pelo Ministério da Educação e Cultura responde à seguinte pergunta: "Então posso falar os livro?" da seguinte forma: "É claro que sim".
Preciso deixar claro aqui outra coisa: aluno meu não pode dizer "nós quer", "nós vai", "eu se preparei", "eu se preocupei", "craro que dá" nem "os livro".
É, minha habilitação para lecionar português vai muito além do que esses profissionais querem trazer para a sala de aula. Não sou melhor que ninguém nem vaidosa ao ponto de parar pra escrever este textinho, simplesmente pra dizer que não aceito que 'meus alunos' que ainda nem tenho, falem errado.
O caso é muito simples. Se num concurso público eu identificar uma oração coordenada adversativa aditiva, sendo ela uma coordenada assindética explicativa, vou perder a questão, certo? Claro que sim. Da mesma forma que se eu assinalar como certa uma questão que contenha um erro simples de concordância. Simples mesmo, como o plural.
É tão fácil... pessoas "querem" e não "quer". Mesmo que "pessoas" esteja no plural. Eles não "quer". Eles querem. Aliás, pra isso existem os coletivos. Quer usar o singular? Então empregue os coletivos. Em vez de "eles", "grupo". Em vez de "nós", "a gente". Em vez de "todos", "galera". E assim vai.
Isso é fácil substituir. E substituir não é, definitivamente, abolir, retirar, esquecer. Deixar de lado os ésses é o mesmo que abandonar os tempos verbais, não parar pra dar atenção aos suplerlativos absolutos sintéticos, não dar a devida importância à crase (que não é um acentinho agudo virado pro outro lado e tem um significado grande dentro da língua portuguesa) e até pronunciá-la (é, se um dos meus três leitores não sabia, aqui vai uma informação importante: a gente não pronuncia aa, quando há ali uma crase. Ela é um sinal meramente 'ilustrativo', mas existe).
Ensinar nossos alunos (não meus, mas de todo o sistema educacional deste Brasilzão) que dizer ou escrever "os livro" é correto é o mesmo que ensiná-los a separar a palavra "bu-rri-ce" desta forna. É o mesmo que ensiná-los a escrever por extenso o número 1.250.000, como um dois cinco zero zero zero zero.
E assim por diante.
Quer falar de forma errada? Não sabe concordar as palavras? Tem dificuldade de usar a forma culta da língua enquanto trabalha, enquando conversa com amigos? Não se preocupe. Isso acontece com qualquer pessoa e há formas muito simples de buscar melhorias para isso. A principal e mais importante delas é a leitura. Leia, leia, leia mais. Leia livros, revistas, gibis, jornais, notícias, blogs, bula de remédio. Simples assim.
Leia, é necessário. Erre, é comum. Tente acertar, é admirável. Concorde plural e singular, é certo.
Mas não aceite que risquem este capítulo - ou tantos outros de igual importância - da nossa gramática.
Por favor...
E não é preconceito... mas que eu tenho, ah, tenho.

2 comentários:

Giovana disse...

Vou ter que levar um novo assunto ao meu terapeuta. Tenho ficado com muita preguiça nos últimos dias. E este tema é mais um a me deixar mooole, sem ânimo, só olhando... Não dáááá. Me sinto afrontada por tudo isso.

Joana disse...

Onde é que eu assino, nessa lista de preconceituosos aí?