quinta-feira, maio 05, 2011

Liberdade de imprensa?

As pessoas ficam falando em liberdade de imprensa, parabenizando (a quem?) pelo seu "Dia", mas o que é a liberdade de imprensa? Vivemos isso, de fato, no Brasil? Os veículos de comunicação cumprem seu dever, à risca, e, assim, podem mesmo comemorar alguma liberdade? E os órgãos que mantém financeiramente estes veículos? Atuam de forma isenta, apoiando essa tal liberdade de imprensa ou fazem algum tipo de "exigência"?
Pergunta dífícil essa, eu sei, mas eu ajudo a responder.
Os jornais divulgam o que querem, certo? Hum... teoricamente, sim. Os telejornais levam às casas textos feitos com imparcialidade? E não estou falando de imparcialidade pessoal, da qual os jornalistas não abrem mão, nem que queiram. Estou falando da imparcialidade política, social. É isso o que realmente define a imparcialidade.
Quer entender? Então raciocina comigo....
Quais as funções de um jornal impresso? São várias, mas dentre as principais há uma muito importante: fiscalizar os órgãos públicos nos municípios, estados e afins.
Sabemos disso, não foi um segredo pra você.
O caso é o seguinte... jornais que circulam na pequena cidade na qual trabalho, escolhem as matérias que produzo na Assessoria de Imprensa e divulgam. Em algumas edições. De repente, param. Não porque a qualidade do conteúdo tenha caído ou o interesse público quanto aos assuntos que abordo sejam pequenos. Absolutamente.
Isso acontece porque os empresários entendem que, para que as matérias produzidas pela prefeitura sejam divulgadas, a prefeitura precisa fazer publicidade naquele jornal. Sabe o que isso significa? Que o veículo quer que a administração pública pague pelo espaço. Isso é justo? É, eu sei que é, afinal de contas, poucos veículos que se chamam "independentes" conseguem se manter em pleno funcionamento, sem verbas de publicidade de prefeituras.
O erro está justamente no fato de que os jornais pressionam para que haja investimento ali.
Aí, pronto. É feito o investimento. O veículo recebe um anúncio.
No dia seguinte, há um escândalo político envolvendo um secretário municipal, um deputado, o prefeito. Todos os veículos estão atrás de informação para divulgação. O assessor de imprensa dá um telefonema e, pasmem, moradores da cidade, eleitores daquele político!, o jornal que recebeu verba de publicidade não dá uma linha sobre o fato.
Essa é a liberdade de imprensa que todos pregam? Ou algum dos meus três leitores acredita, sinceramente, que um fato simples como este que eu citei ou outros ainda mais simples, não acontecem?
Acontece. Todos os dias. Em muitas administrações públicas, em câmaras, assembleias legislativas.
Como um veículo mantido financeiramente por uma prefeitura pode fiscalizar o trabalho da administração?
Sim, ele poderia, mas não o faz. Mil reais valem muito mais. Vale infinitamente mais do que duas linhas sobre um escândalo sexual, um desvio de verbas, uma viagem de um vereador ou deputado com sua família, feita com dinheiro público.
É assim que funciona. Quer as pessoas queiram acreditar (ou admitir) ou não.
E é exatamente por isso que eu não consigo ver pra que separar um dia do ano para a Liberdade de Imprensa.
Você vê?

4 comentários:

Giovana disse...

Não vejo.

Jader Moraes disse...

Uau, corajoso esse texto, hein! Parabéns, Flávia!

Juliana disse...

Corajoso e extremamente bem escrito. Adorei!

Giovani Miguez, filosofante disse...

Flávia, é isso mesmo. Os veículos fazem isso, mas por outro lado existem os prefeitos que, não suportando serem criticados, preferem sair pagando pela "parceria" de alguns veículos. A relação do poder público com a imprensa é em geral promíscua e nojenta. Mostra claramente que caráter não se aprende na faculdade. Parabéns pelo texto! Bjão,