Não encontro uma palavra para definir o sentimento de uma
mulher agredida fisicamente pelo marido ou companheiro ou quem quer que ocupe
esta posição. “Humilhação” é óbvio demais. “Vergonha” é deplorável. “Raiva”,
talvez, não seja o caso. “Ódio” é pouco. Pensei em muitas outras, mas pra
todas, me surge outra, sempre dando à primeira um sentido aquém do objetivo.
Chego a pensar que todas elas, juntas, podem, em algum momento, definir parte
deste sentimento que eu estou tentando tanto definir.
O assunto me veio à mente quando eu tomei conhecimento de
que um casal, que eu amo muito, vem passando por um problema desses. Os dois
são lindos, novos, estudados, bem empregados, pais de uma criança e,
infelizmente, apenas aparentemente educados. Sim, porque pra mim, falta, antes
de tudo, educação.
E falta aos dois. A ele, porque chega (sim, no presente,
porque a violência não aconteceu apenas uma vez. E continua acontecendo) ao
ponto de agredi-la, por qualquer que seja a razão. E em “por qualquer que seja
a razão”, eu consigo definir, exatamente, que, independente do motivo, a
violência física é inaceitável, inadmissível.
E a educação falta a ela porque, em algum momento, ela foi
permissiva. E a pergunta que surge, agora, pode ser: “mas o que a
permissividade dela tem a ver com a falta de educação”? Talvez porque ter
permitido a violência uma vez, tenha tido uma razão pra ela. Não sei qual, mas
deve ter havido. E é isso que justifica a falta de educação, no momento em que
ela justificou-se a si mesma a permanência na posição de agredida. Novamente,
qualquer que tenha sido a justificativa usada por ela, mesmo que a ela mesma.
Quando eu soube que ele a havia agredido, na primeira vez,
cheguei a aconselhá-la a procurar a polícia e registrar uma ocorrência. Ela não
cogitou essa possibilidade, infelizmente. E essa atitude dela, a partir de
então, me fez e faz, mesmo que involuntariamente, apenas escutar os novos casos
de violência. Hoje, quando ela me relata que ele, novamente, foi violento com
ela, eu ouço com atenção e, quando muito, pergunto o que ela pretende fazer.
Somente. E acontece com uma frequência regular.
Eu só me questiono o que ele pensa, o que ele sente, como
ele imagina que será a relação dele com o filho, que normalmente presencia as
discussões e, também, as agressões. E o que ela pensa, como se sente, o que
espera de uma relação violenta e como ela imagina que será a relação dela com o
filho.
Confesso que me dói. E dói muito. Não posso ajudar, não posso
opinar, não posso fazer nada além de torcer para que ele seja menos impetuoso e
ela, menos permissiva. Se é que isso é possível.
3 comentários:
Você pode fazer e muito!
Se vc não DENUNCIAR, está sendo conivente com a agressão praticada por esse "seu amigo"!
Acho que vc, como jornalista, deveria saber que não denunciar, também é crime e, vc fazendo sua parte sua DOR poderia ser menor!
Tome a coragem que ela não quer tomar e disque 100!!
Me desculpe, me enganei com o numero, o correto é dique 180!!
Também não sei se eu silenciaria, principalmente vendo uma criança no meio disso. Nós somos responsáveis pela sociedade em que vivemos. Porém, como ainda não vivi nada próximo, nada posso afirmar.
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