quarta-feira, fevereiro 13, 2013

A violência que dói em mim


Não encontro uma palavra para definir o sentimento de uma mulher agredida fisicamente pelo marido ou companheiro ou quem quer que ocupe esta posição. “Humilhação” é óbvio demais. “Vergonha” é deplorável. “Raiva”, talvez, não seja o caso. “Ódio” é pouco. Pensei em muitas outras, mas pra todas, me surge outra, sempre dando à primeira um sentido aquém do objetivo. Chego a pensar que todas elas, juntas, podem, em algum momento, definir parte deste sentimento que eu estou tentando tanto definir.
O assunto me veio à mente quando eu tomei conhecimento de que um casal, que eu amo muito, vem passando por um problema desses. Os dois são lindos, novos, estudados, bem empregados, pais de uma criança e, infelizmente, apenas aparentemente educados. Sim, porque pra mim, falta, antes de tudo, educação.
E falta aos dois. A ele, porque chega (sim, no presente, porque a violência não aconteceu apenas uma vez. E continua acontecendo) ao ponto de agredi-la, por qualquer que seja a razão. E em “por qualquer que seja a razão”, eu consigo definir, exatamente, que, independente do motivo, a violência física é inaceitável, inadmissível.
E a educação falta a ela porque, em algum momento, ela foi permissiva. E a pergunta que surge, agora, pode ser: “mas o que a permissividade dela tem a ver com a falta de educação”? Talvez porque ter permitido a violência uma vez, tenha tido uma razão pra ela. Não sei qual, mas deve ter havido. E é isso que justifica a falta de educação, no momento em que ela justificou-se a si mesma a permanência na posição de agredida. Novamente, qualquer que tenha sido a justificativa usada por ela, mesmo que a ela mesma.
Quando eu soube que ele a havia agredido, na primeira vez, cheguei a aconselhá-la a procurar a polícia e registrar uma ocorrência. Ela não cogitou essa possibilidade, infelizmente. E essa atitude dela, a partir de então, me fez e faz, mesmo que involuntariamente, apenas escutar os novos casos de violência. Hoje, quando ela me relata que ele, novamente, foi violento com ela, eu ouço com atenção e, quando muito, pergunto o que ela pretende fazer. Somente. E acontece com uma frequência regular.
Eu só me questiono o que ele pensa, o que ele sente, como ele imagina que será a relação dele com o filho, que normalmente presencia as discussões e, também, as agressões. E o que ela pensa, como se sente, o que espera de uma relação violenta e como ela imagina que será a relação dela com o filho.
Confesso que me dói. E dói muito. Não posso ajudar, não posso opinar, não posso fazer nada além de torcer para que ele seja menos impetuoso e ela, menos permissiva. Se é que isso é possível.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você pode fazer e muito!
Se vc não DENUNCIAR, está sendo conivente com a agressão praticada por esse "seu amigo"!
Acho que vc, como jornalista, deveria saber que não denunciar, também é crime e, vc fazendo sua parte sua DOR poderia ser menor!
Tome a coragem que ela não quer tomar e disque 100!!

Anônimo disse...

Me desculpe, me enganei com o numero, o correto é dique 180!!

Giovana disse...

Também não sei se eu silenciaria, principalmente vendo uma criança no meio disso. Nós somos responsáveis pela sociedade em que vivemos. Porém, como ainda não vivi nada próximo, nada posso afirmar.