Táticas para desestressar a mulher amada em um, dois, sete
ou até trinta dias
Amada, eu vejo você zanzando pela casa de madrugada.
Noto que todo dia tem um golinho disso, uma bicadinha naquilo. Suas respostas
atravessadas, as coceiras na pele, a dor de estômago, tudo isso não passa
despercebido: é estresse. Nem ligo muito pros pitis. Você dando xilique é como
o Justin Bieber cantando: faz de conta que sou surdo. Não sei o motivo de tanta
dedicação; nunca quisemos ficar ricos. Nossa única ambição sempre foi pagar as
contas, jantar fora de vez em quando e passar pela Terra sem puxar o tapete de
ninguém.
Mesmo assim, aconteceu. Virou o fio. E estou aqui pra lhe
desestressar. Pra ajudar, como o padre falou no altar. Só que, para isso
acontecer, você precisa estar fora do escritório. Mais do que tempo livre,
você precisa de ócio.
Tem diferença. Segundo os gregos – que achavam que trabalhar
era coisa de gente mixa –, ócio é o tempo que você dedica à
atividades nobres: poesia, oratória, política (naquele tempo era nobre),
teatro, esportes. Já tempo livre é somente o descanso antes de voltar
ao trabalho. Chama tempo livre de propósito: é o contrário do tempo
no labor, escravizado. No seu caso específico, o ócio seria dedicado
a um assunto muito nobre mesmo: você de barriga pra cima, sem fazer um catso,
sendo feliz.
Se o seu chefe permitir somente 24 horas de repouso, aí eu
te levo pra dentro de um ofurô, num desses shiatsus da vida. Eles servem vinho
branco junto com as bolhas de sabão. Do ofurô a gente vai pra um boteco
ensolarado. Do boteco ensolarado a gente volta para casa. Da casa, pra cama –
onde eu faria massagem no seu pé. Sexo ? Pode até ser, mas só se for antes da
massagem. Depois, não garanto. Eu quando pego um pé pra massagear derrubo
mesmo. Dá até pra tirar o dente do ciso.
É um fim de semana inteiro ? Ôpa, que beleza. Bom, com dois
dias, aí a gente faz uma mochilinha e vai pra praia. Nada como o mar para tirar
a catiça e a ziguizira da pessoa. Depois a gente come uns peixinhos, tomamos
bebidas coloridas e dormimos na rede, cansados da praia. Leremos livros, essa
coisa demodê – na mochilinha não entra Kindle, Ipad, Iphone e muito menos
internet. Senão os emails se metem no nosso fim de semana.
Uma semana de férias ? Vamos então fazer a única coisa que
compensa quando se trabalha muito: vamos gastar dinheiro irresponsavelmente.
Vamos pra Nova Iorque. Faremos jogging no parque e selfies no topo do Empire
States. Vamos passar o rodo na Macy’s. Será uma peça de roupa pra cada reunião
inútil. Nem a Samsonite vai ter mala para tanta roupa.
O RH te obrigou a tirar um mês inteiro? Aí vamos pra
Austrália. Sempre foi nosso sonho. Praias, surf, desertos. Tem até tubarão, pra
você lembrar do seu chefe. O melhor é que é longe. A maioria dos telefonemas
cai no meio do mar, perto da Índia. O ideal seria ir pra Marte, mas lá
está faltando água como aqui em Sampa – então vamos pra Austrália mesmo.
Ah, é um ano de folga ? Então estamos falando de sabático.
Ótimo. Head hunters adoram quem faz sabático. Aí, amor da minha vida, imagino
que você pediu demissão. Fez bem. Só precisamos nos programar direito. Você, um
ano em casa ? É dose. Quem vai ficar estressado sou eu. Quais são seus planos
pra eu relaxar?
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