domingo, maio 08, 2016

Mães, não é exagero

Confesso que eu tinha mania de julgar "exagero"  muita coisa que eu ouvia na vida. Não, nem só as coisas ligadas à maternidade, mas tudo. Achava exagero as gentes que dão  importância desenfreada a algo que, ao meu ver, seria perfeitamente relevável, achava exagero gargalhadas e choros extremos, achava exagero roupas de frio tiradas do armário devido às chuvas de março, achava exagero festas de um ano homéricas e mais um monte de costume de pessoas por aí.
Agora, tudo mudou. Certamente tem a ver com o fato de que eu mudei depois que a Aurora chegou. Pra mim, hoje, nada mais é exagero. Ou talvez a colocação certa seja "eu, hoje, não julgo mais nada". É, é isso. Vai ver, muitas das situações continuam sendo exagero, mas agora não me importam mais.
E não me importam, porque vi que, nas questões ligadas à maternidade, nada é exagero. Nada mesmo. E nas outras questões da vida, cada um vive como quer, ninguém - leia-se "ninguém", tem nada a ver com isso. 
E, quando o assunto é a  maternidade, nada mais exagerado, pra começar, como o que sempre ouvi de todo mundo: esse negócio de amor além do entendimento. Talvez pelo fato de me considerar razoável com as palavras, sempre acreditei que as pessoas diziam que o amor por um filho é inexplicável, eram as pessoas que não tinham muita capacidade de definir algo. Tadinha de mim. Em dois meses e meio, eu constatei que é exatamente o que todo mundo sempre disse: não há palavras para explicar. E não há exagero nenhum nisso. Dá pra tentar chegar perto, mesmo tendo certeza de que ficará longe.
Palavra como "perfeito" é uma delas, mas tenho a sensação de que não exprime com exatidão esse amor que passou a arder no meu peito. Perfeito é pouco. É um sentimento que enche de alegria e, no momento seguinte, de temor. Alegria por existir e temor por algo que possa fazer essa pessoinha sofrer, ou chorar. É uma alegria tão grande que dá vontade de chorar. E eu faço isso. Faço quando olho pra ela e ela sorri. Faço quando sinto a cabecinha dela relaxar no meu braço. Faço quando ela está mamando e, me olhando, larga o peito e sorri. Faço isso quando ela chora por algo que eu ainda não compreendo. Faço quando levanto de madrugada para ver se ela ainda respira, e, no quarto dela, a encontro adormecida serena, com os dois bracinhos posicionados ao lado da cabeça. Choro quando escrevo sobre ela, como agora. Choro sem motivo, embora tenha a clara sensação de ter ficado mais forte desde que ela chegou.


Achava exagero ouvir uma mãe dizer: "meu filho é a minha vida". Imagina se isso seria possível.no meu julgamento! "Claro que esse negócio de maternidade é intenso, lindo e cheio de amor", mas "meu filho é a minha vida" é, obviamente, um exagero, dito apenas por quem não consegue colocar esse amor em palavras. Ah, que inocência a minha... esse negócio de "meu filho é a minha vida" é literal. Sem exagero. Dizer que a Aurora é a minha vida é bem comum pra mim. Digo isso a ela o tempo todo. E repito quando alguém pergunta "e aí? Como é ser mãe?". Repito, sem medo de as pessoas pensarem que é exagero. Ainda mais se essas pessoas não tiverem filhos. Eu já julguei exagero, então, deixo que me julguem. Não me importo. A Aurora é a minha vida. E nada do que não quero pra mim, quero pra ela. Aliás, aprendi que há, sim, alguém mais importante que eu nessa vida. Alguém que merece só coisas boas, mesmo que isso custe renúncias. Aprendi que o amor que a gente tem pelo nosso pai ou nossa mãe é imenso e igualmente inexplicável, mas é menor que o amor que temos por um filho, se é que isso é possível. Quem discordar, me julgue. Não ligo.
"O choro do meu filho dói em mim", Outro célebre exagero que cansei de ouvir por aí. Bem, exagero, até que a Aurora chorou pela primeira vez. Claro que no começo, os choros todos são complicados. E ficam assim, até que a gente aprenda - ou ache que aprendeu - a entender cada choro e eliminar as possibilidades de causa. Só que, mesmo entendendo um choro como fome, frio, calor ou cansaço, qualquer que seja o choro, dói mais em mim do que nela. Com toda a certeza. Dói mesmo, de verdade. Dói como se alguém me estivesse machucando. E se o choro for sentido, daqueles com beicinho, aí a dor é de cortar. Lembro que nos primeiros dias de vida da Aurora, uma vez, enquanto dormia - e eu velava seu sono, ela fez um beicinho e começou a chorar. Não havia nada de errado, mesmo assim ela continuou com aquele choro sentido, como se estivesse triste, mas dormindo. Eu fiz o que? Tirei do berço e a acordei. É, não precisava, eu sei, mas estamos falando de exagero, certo? Na minha cabeça,  naquele momento, se eu a acordasse, a tiraria daquele - qual? - sofrimento. E eu fiz, sem pensar. Ela acordou, resmungou por alguns segundos e voltou ao sono sereno. Pronto, eu consegui tirá-la daquele sofrimento. Qualquer que fosse. Se é que era mesmo.
E se alguém dizia que se arrependeu de ser mãe,  mas não de ter aquele filho? Pra mim,, além de exagero, aquele sentimento era, no mínimo, burro. Como assim alguém pode se arrepender de ser mãe, mas não de ter tido aquele filho? Hoje eu entendo que é perfeitamente aceitável ouvir essa loucura. É possível, sim, que alguém pode se arrepender de ter decidido - ou não - por ter um filho. Entendo que isso é, de fato, uma decisão muito séria, e que vai mudar pra sempre a vida de alguém. Mas se arrepender de ter tido aquele filho, não, não é possível. Confuso, né? Pois é. burro, eu disse. Não há meio de eu me arrepender de ter tido a Aurora. De forma alguma.
Certa vez, quando ainda estava grávida, uma amiga me disse que eu acordaria para dar de mamar de madrugada, cansada, querendo dormir e, logo que visse o rostinho da Aurora, ou que começasse a dar de mamar, eu esqueceria tudo e viveria aquele momento. Mais um exagero Pelo menos até que eu vivi isso. Aquele sono pesado, das 2 horas da manhã, despertado pelo choro do mamá, que se dissipa assim que eu abro o mosquiteiro do berço e vejo aquele sorriso banguela da Aurora, me olhando e pedindo mamá. No minuto seguinte, ela nos braços, sugando freneticamente e me olhando antes de fechar os olhos e voltar a dormir. É, sim, de esquecer tudo: o sono, o frio, os problemas, o mundo. Não há nada mais maternal que o momento de amamentar. Seja na mamadeira, no copinho, na chuquinha ou no seio. Aquele olhar de agradecimento me faz a pessoa mais feliz do mundo, com a certeza de que Deus não poderia ter criado nada mais perfeito que o ciclo da vida.
E quando o assunto é o sorriso de um filho? Ah, mas decididamente não há exagero nenhum nisso. O sorriso da Aurora me faz a pessoa mais feliz que pode haver no mundo. Cada sorrisinho dela é como se o tempo parasse, como se os planetas se alinhassem, o que quer que isso signifique. Pra mim, é como se o mundo inteiro estivesse contemplando a beleza do olhar dela, a serenidade do sorriso e toda a graça daquela boca banguela. E fazer ela sorrir é pelo que eu vivo hoje. Vê-la arreganhar aquela gargalhada é a cena mais linda que eu já presenciei e com toda a certeza, me faz sorrir só de pensar. Tem como não achar isso exagero? Duvido!
E esses exageros que deixaram de ser exageros passam também pela renúncia ao trabalho para viver a maternidade durante 100% do tempo, da forma como cada mulher lida com a gravidez, a escolha do tipo de parto, como cada mãe encara e vive a amamentação, como escolhe o que dar e o que não dar de comer ao bebê, o que vestir, o que ensinar, como o faz dormir, os argumentos para convencê-lo do que é certo e errado... e por aí vai. 
Todo exagero deixou de existir no exato momento em que eu passei a experimentar o quão linda e perfeita é a benção da maternidade. E nesse negócio de Dia das Mães, percebo que a maior verdade de todas é que cada uma de nós, com seu devido exagero, com seus julgamentos, com suas possibilidades e maneiras de criar seus filhos, vive a maternidade de forma intensa. Ou, pelo menos, deveria. Com talento, como a minha mãe, minha avó e minha sogra, essas duas últimas que já dormem no Senhor, ou sem talento, como eu achava que era - e devo ser mesmo. Ou como minha querida irmã Mônica, que nasceu para ser mãe, mas Deus a recolheu antes de realizar este sonho. Não importa a habilidade de cada uma, apenas o tamanho do amor dispensado em cada momento. E não, não é exagero querer mostrar ao mundo o tamanho desse amor, o quanto ele é sublime, o quanto ele é contagiante, emocionante, verdadeiro e, mais importante que isso, simplesmente puro.
Não ligo se dizem que isso ou aquilo é exagero ou errado. Não me importo que digam que eu não deveria fazer deste ou daquele jeito. Não quero saber o que pensam sobre a "minha maternidade", caso essa opinião não vá me acrescentar nada. Não quero ouvir o que têm a dizer sobre maternidade, se essa opinião é teórica. Quero, sim, saber o que outra mãe já viveu, já sentiu. Quero saber como dorme a mãe que perdeu um filho e o que ela vive na pele. Porque, com absoluta certeza, ela não sabe explicar a dor da perda. assim como eu não sei explicar o amor. Quero que as pessoas tentem definir este sentimento, se esforcem pra colocar em palavras algo tão sublime, tão perfeito, tão sem-palavra. E se não o fizerem, que vivam. De verdade. Intensamente. Sem julgamentos. E, de preferência, da forma mas exagerada possível.


Ah, à minha mãe, toda a minha gratidão, e o meu amor. Hoje eu entendo tudo! Nada era exagero!

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