terça-feira, fevereiro 02, 2016

Carta à Aurora

Chegou fevereiro. O seu mês. O mês do renascimento, do ressurgimento, o mês da Aurora.
Daqui a uns 20 dias, você vai estar aqui. É, não dá pra acreditar ainda, mas é assim que vai ser. E quando falo em “não dá pra acreditar”, não me refiro ao fato de os nove (ou dez) meses de gravidez terem passado voando, mas ao fato de a gravidez ter ocorrido. Só que isso não vem ao caso.
Os meses se passaram e agora estamos vivendo os últimos dias de barrigona, calor no último nível, cansaço, dores nas costas, câimbras, fome e sono. Estes dois últimos sempre existiram, mas foram potencializados puderam se tornar públicos. Nada disso é culpa sua. É culpa da natureza que, para compensar o peso que a barriga passou a carregar, sobrecarrega outras partes do corpo.
A parte boa é que ta quase acabando. Em muito pouco tempo você estará aqui, conosco, nos tirando o sono, nos dando preocupações, nos fazendo chorar com a sua dor, mas nos fazendo a família mais feliz do mundo.
Está tudo pronto, aguardando você. Roupinhas lavadas e passadas, carrinho, bebê conforto, mobiliário, cadeira de descanso e até de alimentação. Seu quarto ficou uma lindeza e o cheirinho de bebê pela casa é coisa de outro planeta! Parece até que você já está ali.
Só falta a gente ficar mais calmo com a sua chegada. É, porque a proximidade da data nos deixa ainda mais assustados. E de novo, não se preocupe. Você não tem culpa nisso também. A culpa é, de novo, da natureza. Não há mãe e pai no mundo inteirinho que não se assustem com a chegada de um (ou mais um) bebê na família. E o fato de sermos papais de primeira viagem ainda aumenta consideravelmente todo este medo. A parte boa é que, como todos dizem, vamos tirar de letra.
Tomara mesmo.
Em pouco tempo, você estará aqui. Repito isso, meio que pra acreditar, pra sacudir a cabeça até a ficha cair... parece que está funcionando.
E quando você estiver aqui, tudo vai estar mudado. As noites, os dias, o frio e o calor, as viagens, os planos, as finanças, a rotina, a vida. E tenho certeza de que pra muito melhor, afinal de contas, você vai estar, finalmente, entre nós. E se houver alguma dificuldade, vamos passar por ela, porque você estará conosco. Se chover ou fizer sol, tudo bem, você estará aqui. Se outra crise econômica surgir, se os amigos derem uma sumida, se outro algo de ruim acontecer, teremos você.
A sensação que tenho é de que tudo será melhor com a sua chegada. Eu escuto de pais e mães por aí que, de fato, tudo muda, mas todos falam em preocupações, gastos, dificuldades, noites sem dormir e mais uma quantidade enorme de mazelas. E eu sigo sentindo diferente. Acredito sim, que dificuldades virão, afinal, a vida é difícil e estou cansada de saber disso, mas tenho certeza de que tudo ficará mais leve, mais fácil de lidar. É assim que a vida funciona, quando há amor. E se se trata de amor incondicional então, aí não há o que ter dúvidas. E, pelo que estou sentindo, acho bem que se trata desse tal amor incondicional...
Você foi planejada. Pensamos em cada possibilidade, desde que começamos a falar em filho, antes do casamento, cerca de sete anos atrás. Cada cantinho da casa foi pensado para que houvesse um espacinho pras suas coisas. No quarto, na sala e até no banheiro. Lembro-me de uma amiga dizendo: “Não coloca um armário neste canto do Box, porque quando o bebê nascer, é aqui que você vai deixar a banheira”. E o espaço ficou lá pra isso. E, como previu a amiga, é lá que vamos deixar a banheira.
Um ano antes da gravidez, trocamos de carro, por um que tem um porta malas maior, porque, com um bebê, há que se ter espaço pro carrinho, pra bolsa, pro bebê conforto e tudo o mais.
E quando finalmente chegou a notícia de que você estava vindo, começamos a adaptar a casa. Tanta coisa pra fazer, paredes pra pintar, móveis, enxoval e tantas outras coisas! Agora, ta tudo pronto, só esperando sua chegada.
E é tanta, mas tanta expectativa, que não cabe dentro da gente. Seu pai chora quando você chuta o rosto dele, porque acredita, sinceramente, que seus movimentos são em resposta aos chamados dele: “Chuta aqui, do lado de cá, minha filha” ou “eu não to desse lado aí, to desse aqui, chuta aqui”. Pra ele, você entende perfeitamente o que ele diz e, para agradá-lo, vem chutar do lado em que ele está. E se de madrugada eu acordo com seus movimentos e digo: “Aurora, minha filha, mamãe tem que acordar daqui a pouco pra trabalhar, vamos dormir”, papai sai em sua defesa e me manda parar de brigar. Põe as mãos na barriga e diz: “Filha, pode mexer à vontade. Mamãe vai ficar quietinha agora”. E nada mais me resta a fazer. Só ficar quieta mesmo e deixar que você se mexa à vontade.
A barrigona me deixa, cada dia, mais indisposta, mas tenho mantido a rotina. Vou ao trabalho de carro, vou ao banco, ao médico e até ao mercado quando não há muito o que comprar. A diferença é que, de umas semanas pra cá, tenho perdido tempo olhando as coisinhas do quarto. Roupas, sapatinhos, móveis e tudo o mais. E me dedico a pensar em quem serão seus amiguinhos. E a lista me deixa feliz! Tem o Gabriel, o mais velho da turma, a Ana Lis, o Pedro, o Marcelinho, a Helena. Estes já chegaram. E tem os que ainda estão na fila: o Theo, o Logan e o baby-primo, que, como ainda não sabemos o sexo, não temos o nome.
Ta vendo? Hoje, há muitas dúvidas e expectativa de sobra. Mas daqui a pouco passa. Logo você vai estar por aqui, nos fazendo felizes, nos ensinando a ser pais, tomando nosso tempo e transformando tudo isso em realidade. E esta carta não é pra falar sobre as preocupações futuras. Segurança, educação, viagens, família, amores, vícios... nada disso está nos preocupando ainda, afinal de contas, pra tudo isso, temos Deus conosco.

Pelas contas, parece que teremos você aqui em 20 dias. Fica calma que ta chegando, viu?

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