A mulher está mais agressiva. O homem, menos gentil. Quem
começou isso primeiro ?
A noite está uma guerra – queixa-se a moça bonita e
solteira. Agora nem preciso mais chegar junto – festeja o carinha de
calça skinny e barba de oito dias. Vou meter o dedo no olho dela –
ameaça a namoradinha, vendo uma periguete arrastando a asa pros seus domínios. Nós
somos Constantinopla e elas são os turcos – comemora Marcos Palmeira na
abertura do longa “E Aí, Comeu?”, de Felipe Joffily.
Já vem acontecendo faz tempo, não é novidade. Pode ser
resquício da queima de sutiãs ou das primeiras CEOs, não sei. Fato é que elas
estão se portando como iguais aos homens. Estão mais objetivas, mais focadas,
com menos mimimi. Também vão pra cima, também xavecam, também derrubam. Fazem
isso em plena luz do dia, no trabalho, nas aulas de Cross Fit, no trânsito. E
repetem o comportamento durante a noite também, claro. Mordem e deixam roxo. O
Alfa se ressente. Gosta da pegada varejo que a night se tornou, mas reclama: a
mulherada perdeu a ternura. Perdeu mesmo, verdade. Há registros inclusive de
uma moça que recusou flores, porque teria que pôr no vaso e eventualmente
regar. Estão muito brutas – diz outro queixoso. Me atacaram como
se eu fosse um objeto – acusa o gatinho, sorrindo dentes quebrados.
Ainda ganham menos, segundo pesquisas (coisa que daria outra
crônica; se quiserem escrevo). Ganham menos até nos torneios de tênis.
Agora, se as mulheres perderam um pouco a ternura, os homens
também deixaram de ser cavalheiros. Pararam de seguir a etiqueta das relações
afetivas – para seguir o Bolsonaro no feice. Elas vieram pra cima, e eles
deixaram de ser gentis. Coisa mais comum do mundo, hoje, é dividir a conta –
algumas vezes até separando uma cerveja a mais num lado, uma caipirinha de
saquê no outro. Vixe, nossa, uia. Não abrimos mais a porta do carro pra elas.
Credo. Tem gente até que deixa a moça no ponto de táxi, depois do dois-vira-quatro-acaba.
O homem, diante de um rebolado, parou de receber a verve de Fernando Pessoa
para encarnar Compadre Washington.
Gente do céu ! Estamos tratando as mulheres como iguais !
Tudo bem que elas querem isso mesmo, mas não precisa tratar como igual o tempo
todo. Se isso é bom para o ambiente corporativo, é no mínimo cegueira anatômica
para a vida lá fora (que é onde as melhores coisas acontecem).
Mas quem começou primeiro? Os homens, que desencanaram da
sedução protocolar básica – ou as mulheres, que desistiram do modelo de conduta
consagrado desde Maria Madalena? Qual foi o primeiro pé que chutou as
convenções? Quem começou com essa de ser igual até na sedução? Quem é ovo e
quem é ave, aqui?
Eu não sei responder. Sei, isso sim, que ficou pálido, sem
nenhuma cor. Ternura nunca fez mal a ninguém, pelo contrário. Não fosse a
ternura não haveria o filho mais velho dela (o cafuné), nem o irmão caçula (o
bolo de chocolate). E ser cavalheiro é tipo Stones, Michelangelo e jeans com
camiseta branca. Básico. Moderno.
Digo tudo isso acima porque me parece ser assunto quente
para esta semana pré-natal, quando as pessoas costumam se refugiar bastante em
bar. Amigo secreto, encontros de escola aterradores, festa da firma, não falta
mesa. Também não vai faltar menino querendo rachar conta e menina querendo
conversar de homem pra homem. Me parece o ambiente adequado para discussões
infindáveis como essa, apesar da ressaca que inapelavelmente virá em seguida.
Então, aqueçam os argumentos e me digam: quem começou primeiro?
*Por Lusa Silvestre
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