Se é ou não, definitivamente esta não é a função desta postagem.
O fato é que eu queria uma coisinha a mais. Quando se trata de gravidez, todo mundo quer saúde, mais saúde, família unida, condições pra colocar tudo no lugar, paz pro novo integrante do clã, fotos e vídeos, conselhos e mais uma pá de coisas.
E eu quero, sim isso tudo. Mas queria algo mais. Uma coisinha.
Queria que outra pessoa ficasse feliz neste tempo. Sim, a família e os amigos estão comigo, vivendo cada momento e compartilhando as sensações e as novidades, mas há um vazio. Um espaço, que ninguém pode ocupar.

A única pessoa com a qual eu convivi, que nutria este sonho profundo. Ela era assim. Nunca tive por perto uma pessoa que almejasse tanto a maternidade. Sim, ouvi de muita garota que "o maior sonho" era ser mãe, ou que "queria se casar para ser mãe" e mais um monte de coisas. Só que ter dentro de si o sonho, real, era coisa dela. Eu sempre disse que, se Deus colocou no mundo, pessoas com talento para a maternidade, a Mônica foi uma. Ela nasceu pra isso. E mostrava sempre que tinha uma criança por perto. Foi assim com o Netinho e o Júnior, filhos da querida e também saudosa Mirian, com o Leo e a Leslie, filhos da Irinéia, com o Lucas e o Leonardo, da Janaína, com a Thaisa, filha da Dê, com a Raquel da outra Janaína, com a outra Raquel, cunhadinha-emprestada dela, com as duas sobrinhas, Rebeca e Daniela, com as menininhas da grande amiga dela, Maria Paula. E com mais um montão de crianças que nasceram perto de nós ao longo dos anos. Crianças que hoje já são pais e mães, donas de casa e profissionais responsáveis.
Ela era assim. Tinha um amor profundo, uma vontade de estar perto, que pouca gente consegue imaginar. E com toda a certeza, se estivesse aqui, seria assim também com a Aurora. Eu já estaria, neste momento de 20 semanas, com a decoração do quarto definida e possivelmente pronta, as peças do enxoval bordadas, sapatinhos, casaquinhos e toucas tricotados, mantas devidamente personalizadas. Porque ela era assim. Carinhosa com todo mundo, mas com crianças era demais. Ela se entregava. Fazia planos. Vivia, participava, concretizava, criava. Fazia enfeites para os quartos, bordava nomes nas camisetas, pregava botões, recuperava peças dadas pelas mães como perdidas, costurava, customizava. De uma hora pra outra, uma camisetinha branca lisa, virava um lindo vestido, com corações rosas de renda e uma saia rodada que a Mônica criava. Um body azul claro virava tela pra uma super pintura. Aquele espelho retangular, sem borda, virava um espelho de filme, com laços incríveis. E os cabelos das meninas? Lisos, encaracolados ou pixaim. Ela nunca se importou, tinha talento pra todos. Todos mesmo. Em poucos minutos, estavam tão bem penteados que dava vontade de saber fazer igual.
Os alunos da pré-escola que o digam. Todas as ornamentações da sala de aula eram criadas por ela. Personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, em tamanho real, eram fascinantes e surpreendiam a todos. Histórias bíblicas, contos de fadas. Ela criava qualquer coisa, qualquer cara, com qualquer papel, desde que fossem coloridos. E que dessem trabalho. Parece até que essa era sua principal exigência.
Lembro-me de um dia, em que estava em Brasília e bateu uma saudade danada dela. Mas não era saudade de conversar com ela, porque fazíamos isso quase todos os dias. Era saudade de ouvi-la cantando uma das músicas que ela ensinava às crianças. "Joguei meu anel no mar" e "Garibaldi foi cedinho à missa, galopando um cavalo sem espora...". Aí, era noite de plantão e eu liguei. Conversamos e ela inacreditavelmente cantou as músicas ao telefone. E eu me lembro, como se fosse hoje, que quando desliguei, falei pras pessoas que estavam perto de mim que quando tivesse um bebê, minha irmã iria ensiná-lo a cantar como ela, porque se dependesse de mim... eles só saberiam falar (muito).
Só que Deus não permitiu que fosse assim. Ele quis que tudo fosse diferente. E nós, como filhos, entendedores de que a vontade dEle é boa, perfeita e agradável, que tudo coopera para o bem daqueles que O amam, que não cai uma folha de uma árvore sem que Ele permita, que para tudo debaixo do céu há um propósito e que os planos dEle são insondáveis, vivemos. Sofremos, choramos, rimos com as lembranças, nos emocionamos com as fotos.
Neste momento que estou vivendo, com a gravidez despontando, descobrindo uma novidade a cada dia, sentindo o bebê mexer, tendo medo do que pode acontecer daqui a vinte anos, na semana que vem ou daqui a dois minutos, escolhendo roupas, ganhando presentes, imaginando o rosto da Aurora, pensando em como vai ser cada banho, ou pentear os cabelos.... e realizando uma vontade minha, muito recente, confesso, que foi o único e maior sonho dela, infelizmente não realizado, Neste momento, a saudade aumenta, eu penso nela em cada novidade. Em cada frio na barriga, em cada mexidinha, em cada notícia boa.
E vai ser assim. Sempre.
Um comentário:
Quantas saudades dela...quantas lembranças...e nesse momento quantas lágrimas!No banheiro tenho um espelho que ela deu a Reb(como ela a chamava) exatamente assim...todo definido por ela!!Ah...também queria mais! Parabéns pela sua menina, que venha com muita saúde e te façam muito felizes!Deus abençoe!
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